sábado, 22 de outubro de 2011

DESPEDIDA





Da noite

Só me sobrou um pedacinho...

Há pouco

Lembrei-me o que passou...

Era um pedacinho de noite!

Tudo se ajunta:

O pedacinho de noite,

Que espantei...

E a semi noite

Da porta semi cerrada que entrevejo.



Boneca!

Eras falsa como a escuridão.

Deixei-te ir apenas...

No momento seguinte

Foste apenas figura

Ancoraste

Na penumbra...

Não chores:

Foste tu que quiseste.





04/11/1971


















sexta-feira, 21 de outubro de 2011

NOITE DE BAILE.



Era noite

Noite de baile,

Noite de dia

Dia de amanhecer

Amanhecer de vida.



Era noite

Meses se fazem...

Era noite

A noite sorriu

Num sorriso desbocado

Da lua, madrinha

De todo sonhar.



Era noite

E te encontrei.

A lua sorriu

Aprovando.

Era noite

E me fiz

Amor,

Todo amor,

Só amor.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O FREIO


               



O freio

Quem impõe é o cavaleiro.

Não importa a força do parceiro.



O gozo

Quem impõe é o momento

Não importa seja pó ou monumento.



A vida

Quem impõe é o respirar

Não importa correr ou expirar.



Mas...

Quando vem e voltam sentimentos

O que importa é a força viva do tormento.




CONTAR O TEMPO.




Vou parar de marcar os dias.

Para que contar o tempo?

Cada hora:

É lebre que corre

Pra boca do lobo.



Cada minuto:

É a fila do gado

Na laje do matadouro.



Cada instante:

É o relâmpago

Que alumia o poente,

Queima a arvore no pasto

Nas cinzas do ocaso.

Encobrindo você.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

XADREZ





Cruzei amor na primeira linha,

Mexi o cavalo do rei,

Iniciei uma charada.

Vi-me olhando a estrada,

Vi-me no pico do monte

E não sabia descer.



Cruzei hesitação na segunda linha

Mexi o cavalo da dama.

Joguei a fieira, rodou o pião,

Fez um buraco,

Uma cratera

Furou a charada

Levei cheque-mate,

Quebrou o pião

Caiu no abismo.

Você?

Confusão...


APOSENTADORIA





Vai passando o tempo

Na espera do amanhã.

O amanhã das viagens

Dos passeios...

Filhos grandes...

Casamentos...

Netos...

E...

Uma casa

Na orla mar

Incrustada na montanha

Onde pescarei,

No final da vida,

Se ainda existirem peixes!





08/09/1979

terça-feira, 18 de outubro de 2011

UMA CARREIRA, seus lamentos...





Fiquei juntando os cacos

No nascente,

Fazendo uma construção,

Para ao poente

Não ter uma frustração.



Nos tijolos da ironia,

Inclemente

Tecia com fino algodão,

Em fios quentes,

Para minha hibernação.



Mas cego em meus buracos,

Fui demente,

Não vi que em aluvião,

De repente,

Ia o tempo, em evolução.



A beleza das garotas,

Todas quentes,

Mal me chamou atenção:

Inclemente

Quis manter a construção.



O rebolado e o gingado,

Tão ardente!

Passou em arribação,

Quase doente,

Mal tive a motivação.



E com mais de sessenta,

Pré- demente

Olho pra trás. Atenção!

A casa quente

Não guardou a vibração.



18/10/2011






DROGAS [quadras]





Nesta louca competição,

Da sociedade do poder,

Vencer toda frustração

Pode ser até morrer.



Que louco: O adolescente

Tentando seu mundo

Na fuga de toda esta gente

Falsa... Resolve viajar.



Se a sociedade exigente

Sufoca, lhe tira o ar

Criou-se um meio temente

\Como dela se livrar.



O álcool o deixa contente

E neste louco alegrar

Ébrio, e onipotente

Domina o mundo a pensar.



Mas nesta busca o descrente

Quer mais ainda avançar

E, muito além da aguardente

Tenta drogas experimentar.



E num mundo diferente

Continua a procurar:

Não sabe se é demente

Mas sente o mundo o matar.






segunda-feira, 17 de outubro de 2011

NADA.





Nada, eu o sou,

Pois vivo de um amor inexistente

Nela, e penitente

De nada em nada, procuro o tudo.



Nada tenho a meu consolo,

Em lágrimas tristes dou amor

E, em troco, ao invés de carinho,

Tenho a tristeza da dor.



Nada, triste nada enfim,

Coisa que nativa em mim

Dá-me amargura dolorida,



Pois sem ela nada sou,

E ela é tudo que tenho, inda

Que longe de minha vida.





Janeiro/1963

domingo, 16 de outubro de 2011

autonomia I





Cercado!... Penso?... Não se vive bem!

A sociedade, esta agressão,

Nossos desejos ela os detém

Marcando sempre uma limitação.



Se na noite faço minha poesia,

Deleito-me! Tento me libertar,

Engano esta falsa autonomia

Com versos voadores, posso brincar!



E é delirando, sem agonia,

Floreio o que sou, numa louvação,

Esbarro, mas não caio na autonomia,

Marcada nos ferros da limitação.



Desentravado sorrio, de enjaulado

Saio da toca: Torno-me leão

Sorrindo a luz do verso apaixonado

Flutuo volátil, sem limitação.