sábado, 16 de julho de 2016

O EXECUTIVO E SUA PASTA

O EXECUTIVO E SUA PASTA 
imagem Google

O saco de carvão tem uma aba, isto nos Mercados da região. Uma boa ideia para não sujar a roupa.
Estava eu, no Pátio de estacionamento, indo as compre e me deparei com um executivo levando seu carvão para o churrasco. Visivelmente era um veranista, já que moro no litoral, não o conhecia, mas andava segurando seu carvão como faria com a pasta de couro legitima de alguma Multinacional.
Era jovem, com roupa de grife impecável. O carvão ou a pasta mantinham a mesma fleuma britânica no caminhar, contrastando com o ar forçadamente descontraído de sua acompanhante. Não o conhecia.
De início invejei os cartunistas que tão bem retratam momentos, colocando-os em uma única imagem todo seu significado, ou seja, um casal de classe média em seu descanso. Eis que me ocorreu a palavra ritual: Todos mamíferos tem o ritual de comportamento como característica.
Este ritual exige um estereotipo e um espaço próprio. No caso o casal ainda estava conectado em sua posição de destaque social, mesmo na praia preparando um churrasco.
A moça, na atitude descontraída que adequara a ocasião mantinha a postura de sua categoria. Ele, (pobre coitado, pensei) ainda estava preso ao trabalho, como o apertador de parafusos do filme clássico de Chaplin, aliás, muito atual.
Todos nós, mamíferos, temos um ritual que nos prende. Temos nosso corpo e mente evidenciando a posição social que ocupamos.
O ritual define a posição no grupo e delimita seu espaço.
Nas Sociedades de Castas, hoje com o Neoliberalismo um tanto abaladas, estes grupos são rígidos e não admitem mobilidade. O elemento de uma casta recusa-se a participar da outra, seu ritual é fixo, seu espaço delimitado e rígido.
Na Sociedade Ocidental a propaganda induz a esperança da felicidade com a mudança social, as loterias se sucedem e os programas televisivos prometem desde um guarda-roupa “moderno”, um carro último modelo de prêmio, até grandes quantias em dinheiro. O sonho da felicidade passa pela mobilidade. Um ou outro cidadão que a consegue é motivo de comentários e inveja.
- Mudou de vida! -Está babando de felicidade! São os comentários que correm na boca de seus conhecidos.
Mudou sim: ritual e espaço. A adaptação no novo espaço é obrigatória, caso contrário será expurgado do novo meio; isto se for aceito, o que nem sempre acontece.
Tivemos recentemente um jogador de futebol de grande habilidade que quis voltar para a comunidade pobre onde nasceu, apesar do dinheiro e do status merecidamente adquirido. A crítica foi feroz e o mesmo caiu no ostracismo. O ritual e o espaço de origem não foi aceito pelo novo grupo a que foi alçado.
Cada um humano é único tem o seu espaço e ritual após conquistado marcado e é obrigado a se adaptar; caso contrário retorna desacreditado ao estádio anterior.
As sociedades primitivas não permitem gêmeos, que sendo iguais não podem ocupar o mesmo espaço e não podem ter espaços diferentes, devido a igualdade, sendo os mesmos ou adorados como deuses ou um é morto, quando não os dois.
Na verdade, o executivo estava de férias e desfrutando as férias, dentro das variações admitidas por seu ritual social, usava uma bermuda, ao invés do terno alinhado, como faria numa visita informal a amigos e família, onde as vestes seriam adequadas para ocasião. Se comportaria e conversaria nestas variações de modo apropriado ao ambiente, porém sua identidade continuaria restrita ao espaço e ao ritual que representava.
Ninguém é mais ou menos feliz dentro de uma sociedade, desde que obedeça ao ritual e o espaço. Este espaço é restrito em todas as camadas, nunca tendo a amplitude que se imagina, sempre somos limitados e, o ritual de cada posição dentro da camada que ocupa é rígido não admitindo grandes deslizes.
Na verdade, somos estereótipos do grupo num dado momento seguindo um ritual restritos a um pequeno espaço, não importando a área física e o número de humanos que habitam o local.  Temos apenas a ilusão de liberdade.
Quanto a tão propalada felicidade plena, garanto: Não existe!

16/07/16
Tony-poeta