sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

VIVER E CAMINHAR



 

VIVER E CAMINHAR


A vida é infante em guerra
Conquistando espaço,
Correndo por entre terras.
Neste louco compasso
De sempre caminhar
Onde refugio é raso.
Não pode mais parar.

Qual será o dono deste território?
Que vantagem pode trazer a vitória?

Num mundo breve, ilusório,
Efêmera é toda glória.
A conquista débil, triste
A bandeira desfraldada
Nova caminhada insiste.

Linha de frente, mui arriscada,
Não chora os mortos, nem lamenta,
Caminha na infinda empreitada
Nos tristes campos de tormentas.
Soldado cai na caminhada
A campa rasa solitária o aninha,
Outro infante entra na jornada.

Nesta luta que não termina
Inicia com ela começada
Interrompida, não se finda,
Novo infante segue a jornada.

15/02/13
Tony-poeta





quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

PASSADO E POESIA


PASSADO E POESIA


 

Um telefone de falar com o passado me olhava, enquanto um casal de papagaios comia com muito barulho as jabuticabas, bem junto à janela do restaurante. Estava eu presente no passado e era parte da poesia, O passado é como um poema que basta discar o numero e o telefone do que se foi retorna a ligação com todos os encantos e doçuras.

A viagem era passado, no caminho a Brotas olhei Itirapina onde o trem fazia baldeação; a placa de Araraquara onde meu tio e padrinho, saudoso tio Dante, me presenteou a primeira calça comprida, feita numa vizinha costureira, do tamanho da do meu primo Carlinhos, da mesma idade. Seria eu um novo menino crescido na escola. O fim da calça curta era um orgulho para qualquer moleque e uma proteção bem vinda para a fria garoa de São Paulo. Tinha onze anos na época.

Na passada ligação com o antes, notei a cor das arvores. O verde tinha um tom que se destacava, era discretamente mais verde do que via atualmente, a terra vermelha da região mudava a cor e a vegetação contava lembranças, dos passeios e dos laranjais onde íamos buscar laranjas, muitas laranjas.

Cá e lá as reservas de mata me traziam a lembrança à raposa que atazanava a fazenda dos pais do José Carlos. Por anos seguidos em minhas férias, sentados em bando de moleques na Rua Quatro, em frente à Droga Raia, ele contava os mil artifícios para pegar a tal raposa que atacava o galinheiro de sua fazenda. Que eu saiba, se não morreu de velha ainda anda por lá. Mas após mais de cinquenta anos deve ter morrido.

O ar de passado reinou toda viagem, como criança não levei problemas, não pegava computador nem celular, não havia cartão de bancos, só cheques, todos se davam bom dia ou boa tarde ao se encontrarem nos caminhos. Ali andava a pé. O Restaurante onde o passado se conectava ficava a 300 metros, pelo menos três vezes por dia era obrigado a fazer a caminhada, ida e volta na ladeira, para comer a comida especial. Aliás, o restaurante se prima pelo estudo da comida típica Paulista desde os tempos dos Bandeirantes, comida boa e farta.

O caminho, especialmente projetadas com arvores frutíferas apropriadas às aves, tinha dezenas de espécies voando com seu colorido e canto ao redor da passagem, como que nos saudando e lembrando que o mundo assim poderia ser.

Nestes quatro dias que conversei com o passado pelo estranho telefone, não fiz poesia já que a poesia era o lugar e eu estava dentro dela.

 

Tony-poeta

13/02/13