A MULHER NUA
Naldo
abriu a janela do apartamento ao meio dia, acabara de acordar. A boca estava
amarga com gosto de guarda chuvas ou corrimão de escada.
- Acho
que exagerei no uísque! Falou sozinho.
Olhou pela
janela e no terceiro prédio fronteiriço uma mulher nua arrumava a cama.
- Creio
que também acordou agora, pensou. Mas está nua! exclamou para si mesmo.
Olhou com
mais vagar e mais atenção.
- Três
prédios é uma boa distancia, mas está nua mesmo, falou consigo mesmo.
Olhou com
mais atenção.
- Se
tivesse comprado aquele binóculo veria muito melhor... Viche!!! Está até sem
calcinha.
Até as índias
usavam proteção. Mas era para não entrar peixinho, onde ela está não tem peixe.
Continuou
olhando e, a moça displicentemente fazendo suas tarefas, vez ou outra olhava
pela janela com olhar perdido.
-
Parece que não é bonita, pensou, nem feia, logo remendou, é uma moça normal,
mas pelada por inteiro?
- Acho
que não tem marido... Pode ser que ele seja viajante...
- Já sei!
Brigaram e ela está carente, por isso que está pelada.
- Mas
não faz nenhum gesto de sacanagem? Será que sempre andou pelada e nunca olhei
para lá?
- Será
que ela me conhece? Aqui só se anda de
carro, ninguém vê os vizinhos.
A moça
olhou displicentemente pela janela, prédio por prédio sem se abalar, tudo muito
natural.
- Acho
que me conhece, sim! Está me provocando. Vou fechar a cortina...
- Não!
Vai dizer que sou boiola e estou fugindo da raia. Não, não mesmo! Ela que feche
a dela...
-
Poderia tentar me comunicar. Será que ela sabe a língua dos surdos? Não
adianta, também não sei...
A
vizinha continuava descontraída andando pelo quarto, vez ou outra olhava a
janela.
- Vou
pegar meu apito de futebol, o código Morse na Net e conversar... Deixa pra lá!
Ela não tem jeito de saber.
- Vou
passar meu telefone com os dedos...
Depois
de poucos minutos...
- Ela
não prestou atenção, nem dá para começar, desgraçada está me provocando e não
consigo fazer nada.
Mais algum
tempo e, a moça continuando com sua rotina, permanecendo nua,
- Já
sei! Tenho cartolina e pincel... Foi do último jogo... Vou fazer um cartaz...
Foi até
o armário no quarto, estava tudo lá. Ansioso começou a escrever sobre a mesa...
- Tem
que ser bem curto para realçar as letras e dar para ler...
-
Terminei... Foi até a janela e expos o breve recado:
VÁ
SE VESTIR.
03/02/13
Tony-poeta