sábado, 10 de março de 2012

AMORES DO DIA


AMORES DO DIA



Amanhecer,

O poeta se refaz da noite.

Sonhos e fantasia se misturam,

Voam a algum lugar desconhecido onde fica guardada a poesia que movimenta o amor.

Apenas ouve longinquamente as harpas que enlevaram suas fantasias.

Está de volta a terra e seus problemas,

O amanhecer perde a poesia.

O amanhecer é a preocupação com o amanhã.

As dificuldades não resolvidas tomam à dianteira.

A poesia ficou no éter.

Na terra, olha a seu lado

Dorme a amada, ainda sonhando,

Fazendo a transposição do amor para jardim da harmonia.

È hora de agir, pensa o poeta.

Tenho de refazer o sonho, para que renasça com o dia.

Como pode a noite matar toda poesia e trazer-me de volta ao quarto frio?

Pega o papel, começa a escrever:







Os amores do dia

Evaporam-se na noite

Juntam-se aos sonhos

E viajam para o reino encantado

Das fantasias.



Pela manhã

Você ao meu lado

É sempre recomeço.



Recomeço ansioso

Tímido, encabulado

Que pede palavras doces

Sorrisos de alegria

Nos gestos leves

De caricia

Em tua tez encabulada.



As novas juras

Que revolucionarão o dia

Nesta guerra de amor

Alimentará

Na noite

Os sonhos

Que subirão ao éter

Para ornar como flores

Os jardins do Paraíso.



Assim serão todas manhãs

Onde o amor renascerá junto ao sol

Com seu calor envolvente

Que aquecerá nossos dias

Preparando as caricias de amor

Das noites sempre sonhadoras.



A musa abriu os olhos

Sorriu, ainda vendo embaçado

Deu-lhe um beijo

Disse: Bom Dia!





10/03/12

tony-poeta pensamentos

A MIJADA DO LACAN


A MIJADA DO LACAN







Os hábitos urinários de um cão macho são de difícil controle. Lacan nos deu algum trabalho, em parte devido nossa inexperiência. Nunca tivemos cão dentro de casa. Mas, contornamos o problema e ele só urina no jornal que colocamos, ou próximo dele. Parece que o conceito de local, para ele, é mais amplo que o nosso. Quanto às fezes, só a faz na rua em local com grama e mato.

Portanto, acabou por ser bem administrada  as necessidades, salvo quando nos visitam seus “primos” os Yorkshire do Rodrigo e do Carlos. Parece que os três comandam o rim e produzem urina ininterruptamente, marcando, remarcando, marcando de novo o território. São todos machos. Para desespero das mulheres que sobem as cortinas, tiram objetos do chão e tomam todas as precauções, sempre infrutíferas.

Como a Ana viajou, fiquei só eu e ele em casa.

Damo-nos muito bem, eu tento entendê-lo e ele faz o mesmo comigo. Creio até que leve uma certa vantagem, pois enquanto me distraio no telefone, leitura e computador ele tem todo tempo para me observar, o que só deixa de fazer quando está dormindo. Para ele a sesta é sagrada. Tanto é que a noite, na hora dele dormir, fica insistentemente lambendo minha perna. Não gosta de dormir só e sempre pede companhia a alguém próximo. Como aprendeu que, dando uma lambida vou verificar o que ele necessita, uma das linguagens que usa é esta. Um tanto molhada, mas eficiente. Sempre dá certo.

O fato de estar só, a moça que nos ajuda só vem de dia, dá a liberdade de usar o banheiro e as demais dependências do pequeno apartamento de portas abertas. Ficar sozinho, preso, com a porta emperrada não deve ser nada agradável.

Notei que Lacan, que acompanha tudo atenta e presentemente, ficava olhando minha urinada. Até aí tudo bem, me esforçava para não respingar fora do vaso.

É interessante notar que já vi piadas de respingos da urina em todas as línguas, sempre com charges engraçadas. Portanto a falta de pontaria deve ser um problema Universal. Para isto adaptei meu esquema. Como é proibido passar o Piso de Banheiro nas gotas excedentes; quando só, levo um pano de chão ao banheiro; coloco um frasco do cheiro escolhido pela esposa ao lado. Não pode ser qualquer Pinho. Ela diz que fica cheirando banheiro de Rodoviária. A vida toda passei os dias trabalhando, o banheiro doméstico só usei a noite por todos estes anos, para mim cheiro de banheiro é cheiro de pinho. Mas, tudo bem, compro o cheiro escolhido. E se houver algum erro de pontaria, passo o pano, ponho algumas gotas de cheiro, sempre erro e sai bastante, mas não vem ao caso, repasso o pano e está tudo cheirando nos conformes.

Como dizia, Lacan observava atentamente. Certo dia notei uma mancha grande de urina no pé do vaso. Era uma boa quantidade. Verifiquei se tinha feito corretamente a higiene local após meu uso, estava tudo certo. Limpei, coloquei o cheirador. Após algum tempo, de novo. Como não tivesse ido ao banheiro era o Lacan. De olhar aprendeu.

Realmente começou a urinar ao pé do vaso. Aguçou minha imaginação. Fiz várias hipóteses: Podia estar competindo pelo domínio do território. Li que os cães e outros mamíferos marcam a posse do território por urinadas; ou então que seria um mecanismo de submissão, aonde iria a meu território e se declararia subalterno, menos provável. Poderia também, e esta sim me deixou pensativo, que tivesse aprendido que o lugar de urinar era ali, como já tinha feito com as fezes; Seria fantástico. Continuei a análise, comprei mais cheiro e sacos alvejados para definir melhor o processo cientifico.

Ana chegou. Não lhe falei nada. Deixei que observasse por si. Foi rápida a observação:

-Não chega você, e agora o cachorro mija fora do vaso! Exclamou.

Achei a atitude não cientifica, lembrei-me de Sócrates que teve que expulsar Xantipa sua esposa, antes de tomar a cicuta, pois ela estava se escabelando, sem manter a classe antes da morte. Expliquei que a observação era importante para avaliar o raciocínio canino. Que não tinha relatos nos livros de etologia, argumentei, argumentei em vão, Xantipa continuava a se escabelar. Determinou que a porta do banheiro permanecesse fechada.

Fui obrigado a obedecer. Lacan entendeu voltou ao jornal, nem de birra mijou na porta do lavatório. Agora conservo a porta fechada, com receio que a não obediência provoque a compra de uma enorme argola, onde a chave será colocada e pendurada na cabeceira da cama, e para usar o banheiro terei que pedir ordens. Do jeito que acontece nas repartições públicas.





10/03/12

tony-poeta pensamentos






PARECER

PARECER







O pare

                                                      Limita o ser



Não tente!



                                              Parecer é fantasia.



SEJA!!!!!!!!







10/03/12

TONY-POETA PENSAMENTO

APOCALIPSE


APOCALIPSE





Apocalipse

Quem sabe?

Cavalo ou cavaleiro,

Com ou sem sela

Montaria que bate

Na guerra,

No íntimo?

No ritmo

Leal

No jogo e no logro

No final

No juízo

No Paraíso.

De volta ao inicio,

No fogo?





31/08/1995

tony-poeta pensamentos


sexta-feira, 9 de março de 2012

TEMPO DE AMOR -PENSAMENTO


TEMPO





A teu lado

Passo o tempo

Tempo só de amor...



O tempo passa...

Mas para!

Da um tempo,

Para olhar este tempo,

Tempo de nosso amor.







09/03/12

tony-poeta pensamentos

CORRER ou AMAR pensamento


CORRER ou AMAR





Para que correr?

Este frenesi produtivo

É necessário?



Viver

É apenas:

Respirar

Guerrear

Reproduzir...

E seu resultado,

Amar...

Apenas amar,

Mais nada.





09/03/12

tony-poeta pensamentos

O DEDO


O DEDO





Uma cobra

Afronta

Pica

Mata

Desafia

Aponta o nada

Aponta o tudo

Aponta a falta.



Não há poesia!



Uma cobra

Que aponta

Marca o nada

O desprezo

Nasce no dedo

Que nada sabe.





19/05/1995

tony-poeta pensamentos

quinta-feira, 8 de março de 2012

A HIPPIE


A HIPPIE



Márcia entrou tímida no consultório. O andar já denotava que não estava nada à vontade, vestia uma calça jeans e uma camiseta, como todas as moças de sua idade. Tinha dezoito anos. A enfermeira trouxe o prontuário, falei:- bom dia e a resposta tímida quase não deu para ouvir.

Era nove horas da manhã, uma das primeiras consultas do dia. Não a conhecia, conferi os dados e perguntei-lhe, como de hábito qual sua queixa.

Timidamente falou que estava com falta de ar. Perguntei-lhe se fumava, a resposta foi negativa. Continuei a consulta e a dificuldade de diálogo era cada vez mais nítida.

Não soube me explicar se chiava quando respirava e nem caracterizar os seus sintomas, bem como falar de doenças anteriores, o que atribuía a não presença da mãe, - Que sabia tudo; nas suas próprias palavras.

Passei então para parte de exame físico, já que não obtinha dados, para formar um raciocínio satisfatório. Pedi que tirasse a blusa. Surpreendentemente se recusou, demonstrando real vergonha.

Interfonei para a enfermeira. Prontamente atendeu. Expliquei que a moça estava envergonhada de despir-se frente a um homem, que era para a mesma tirar a blusa, frisei que não era toda roupa, e cobri-la com o roupão apropriado, então faria o exame.

Quinze minutos depois a enfermeira abra a porta e diz:- Não tem jeito doutor, ela não tira a blusa.

Diante do impasse, pedi um Raio X e um eletrocardiograma, que no retorno teria uma idéia e veria o que fazer. Márcia foi embora.

À noite, estava muito calor, fomos eu e esposa tomar um chope logo após escurecer. A calçada tinha uma pequena brisa que atenuava a temperatura. Sentamos e logo chegaram alguns amigos que nos fizeram companhia. Ficamos batendo papo.

Um grupo de hippies se aproximou, vendiam bugigangas, estas pulseiras e colares de contas, que eles mesmos faziam e que agradam as mulheres, que ficam ávidas olhando.

Uma moça, de saia colorida até o chão tipo cigana, uma blusa apertada destacando os seios tentava vender as mulheres da mesa. Olhei e reconheci. - Você não é a Márcia que passou hoje em consulta?

Ficou pálida, gaguejou alguma coisa e foi embora imediatamente, juntar-se ao excêntrico grupo que a acompanhava.

Não trouxe os exames, e na sei até hoje: se a da manhã, ou a da noite é a verdadeira.





08/03/12

tony-poeta pensamentos

DE NOVO A LUA


DE NOVO A LUA





Gostar da lua

Nada mais é que um gosto estético

Sem nunca ser preconcebido.

Não tem a influencia dos poetas

Que nos antecederam

Nem a lua de Catulo

Que me fará vê-la diferente.



tony-poeta pensamentos

Como a lua

Sem astronautas.

-Ninguém chega lá

Do modo que chega quem ama!



A lua é delicada

Suave

Graciosa

É um bailado quando desliza detrás das palmeiras

É um quadro radioso

Quando se esconde nas nuvens

Pérola em caixa de jóias

Quando o céu é límpido.



É Mulher

Esquiva mulher

Que brinca em algodão

De pegador com o amado

Corre

Saltita

Habita

Se transforma

Se embeleza

Ilumina

Ilumina doce.



Vejo a lua

Não verei nela

Astronautas ou plataformas

Não quero saber de sua face oculta

A lua é poesia

É mulher antes de tudo

Assim sendo

Tem segredos.



06/02/1971

Olho a lua

quarta-feira, 7 de março de 2012

FIM DA CAMINHADA


FIM DA CAMINHADA



                                                          Após ler O Corvo de Allan Poe



Nuvens negras cobrem o horizonte

Claridade foi no céu ofuscada

Sopra o vento, no canto dissonante

Mostra a noite próxima gelada.



Caminheiro de andar vacilante

Busca numa luta, a invernada

Esta sempre muito longe e distante

Jamais lhe abrandara a caminhada.



Bravo vento brame enfurecido

Iludido o ser busca saber

E de modo grave, entristecido

Pensa como seria outro viver



Mas, se de outro ser fosse nascido

Não tivesse talvez nem vivido.





07/03/12

tony-poeta pensamentos

O CARDIOPATA

O CARDIOPATA





Seu Chico estava internado; a enfermagem falou que era a terceira vez. Foi assim que me deparei com um senhor de sessenta anos, com Mal de Chagas, inteirinho inchado, com falta de ar intensa.

Eram comuns doentes internados neste estado. O Barbeiro, agente transmissor da doença, já havia sido controlado pelo brilhante trabalho da SUCEN, mas como a doença aparecesse muitos anos depois do contagio, geralmente décadas, o numero de pacientes se tornava significante. Conheci o doente, lúcido, agradável de fácil papo, que conhecia sua enfermidade e estava ciente de como se cuidar em casa, mas mesmo assim estava na terceira reinternação.

Evoluiu rapidamente de modo positivo e, em quinze dias já estava sem falta de ar, sem edemas. Estas internações costumavam ser demoradas. Medicado, reforçando que não poderia comer sal, foi para casa.

Mês e meio depois estava de volta no mesmo estado. Chamei a família: ou a família não está dando direito a medicação, ou esta dando sal, é alguma falha doméstica, pensei.

Os familiares atenderam prontamente, estavam inteirados e preocupados com a doença. Pareceram-me sinceros; não era o fator de agravamento. O Seu Chico devia comer sal escondido, pensei. Orientei que a família o vigiasse, quando da alta.

No mesmo prazo anterior, evoluiu a contento no tratamento e teve alta.

Mais dois meses estava ele de volta, igual. Já sem ter nenhuma idéia comecei a medicá-lo; quando a enfermeira percebeu que o mesmo trocava seu prato sem sal, com o vizinho, com dieta normal. Comia sal no Hospital também e, desinchava.

 Complicou ainda mais. Também não era o sal. Realmente não encontrava uma explicação para dar uma estabilidade longa ao paciente, já que a doença não tem cura.

Nessa duvida comecei a fazer conjecturas, e entre elas me lembrei dos primeiros anos de faculdade. As aulas teóricas de psiquiatria. Quem as ministrava era o Dr. Alfredo Menotti Colucci, recém chegado a Marília. Suas aulas haviam me marcado, nem tanto pela especialidade, já que o futuro médico imagina que tudo é uma questão matemática, ou seja, o órgão funciona assim, descompensa por determinada causa, dá-se uma medicação para anulá-la e maravilhosamente está tudo resolvido.

Mas mesmo com esta distorção simplista originária, se posso assim chamar, sua aula era diferente. Não alterava a voz, falava cadenciado, sempre no mesmo ritmo e muito baixo, de modo que se quiséssemos tirar nota na prova, teríamos de prestar atenção. Este método, diferente, me fez notar que ele com os olhos já analisava os alunos. Era ainda psiquiatra e se especializou depois atingindo o titulo de Autodidata, o maior titulo da psicanálise e de Secretário da Associação Brasileira de Psicanálise, o que é muito honroso. Mas voltando para a análise a distancia que fazia dos alunos. Curioso, eu ficava tentando analisar o que ele analisava. Com isso, aprendi apesar de meu descrédito, alguma coisa. Muito pouco, é verdade.

Fui conversar melhor. Este senhor criou seus filhos com trabalho árduo e pouco remunerado, casou-os, conseguiu uma pequena aposentadoria satisfatória para suas necessidade, poucas na verdade e construiu uma casinha. Quando estava descansando, os filhos voltaram e se aboletaram na casa. Cada quarto ficou um filho e cônjuge, sua gravidez, e os filhos já paridos. Não era o planejado. Cada quarto tinha uma família. Conclui: que o barulho que entrava pelos seus ouvidos conseguia inchar suas pernas e o Hospital era seu descanso.

Na verdade não tinha como resolver e, não sabia. Continuei medicando seu Chico e arrumei um Curso de Psicossomática para aprender direito e, fui de volta às aulas.



07/03/12

tony-poeta pensamentos


ETERNO ADOLESCENTE - pensamento -


ETERNO ADOLESCENTE







Eterno adolescente



Sou criança incerta de ontem



Que tenta hoje compreender



O mundo incerto do amanhã








07/03/12

tony-poeta pensamentos

chuva


CHUVA





Está calor

Fazia calor

Fará calor.

-O jornal dizia.



Cinco nuvens

Alvas

Puras

Solitárias

Bailavam

Bailavam no céu.

Eu torcia

Como torcia

Para o tempo deflorá-las.





07/03/12

tony-poeta pensamentos


terça-feira, 6 de março de 2012

AMOR FANTASMA


AMOR FANTASMA





Fantasmas todos temos

Em grandes quantidades

São meros arremedos

Mas nunca são verdades.



Tem horas que violentos

Fraquejam à vontade

Outras, muito ciumentos

Encobrem a verdade



E aquele que a alma chora

Em jorros de saudades

A sombra que foi embora

Existia de verdade.





06/03/12

tony-poeta pensamentos




solitário


SOLITÁRIO





Solitário



Sempre solitário



Serenamente solitário



Caminho do homem



Que tem um grupo.





Sem grupo



Não há caminho.



Apenas pesadelos.





06/03/12

tony-poeta pensamentos

SONHOS


SONHOS





Sonhos do futuro

Podem ser concretos

Basta os fazer.



Mas...

Variam as fantasias

Os sonhos desvanecem...

Divagam...

Correm para o Oceano.



No final

Os sonhos,

Ah! Os sonhos

Morrem no mar

Bem no fundo

Sem viver.







26/01/1997

tony-poeta pensamentos

CHECKUP


                            CHECKUP







Uma das coisas mais duvidosas da medicina é afirmar que: Fulano de tal tem tanto tempo de vida. Geralmente o médico erra. Não por incompetência, mas pelos dados da ciência não computarem os dados filosóficos da vida.

Por maiores convicções filosófico-religiosas que tenha o profissional, não consegue ter a mínima idéia do que irá acontecer no momento seguinte. Em trinta e oito anos de medicina vi pacientes morrerem por um “inocente” furúnculo, e outros viverem anos com um tumor considerado gravíssimo.

Em meados dos anos oitenta, com o considerável avanço diagnóstico quase todos Grandes Hospitais começaram a propagar o CHECKUP como preservação da vida. Os exames laboratoriais tinham aumentado em muito a precisão. O conhecimento bioquímico havia dado um grande salto, a tomografia começava a engatinhar, bem como o ultrasom; com melhorias realmente importantes no conhecimento do funcionamento global do organismo.

Na época Dr. Oscar Pereira, urologista estava com um doente internado. Sem o glamour dos grandes Hospitais, era um doente do Rural internado no prédio original da Santa Casa de Marília. O Hospital pioneiro dos primórdios da cidade cedeu lugar, com o progresso da região a outro mais moderno e adequado as exigências. Por motivos sentimentais foi conservado. Na época servia de enfermaria. Era um prédio acanhado. Para a época de construção deve ter sido dos melhores, com um saguão central  fazia a distribuição para três quartos mais amplos e, um postinho de enfermagem, logo à entrada.

Este senhor; chamarei de José, portava uma hiperplasia prostática, que o impedia de urinar. Tinha perto de sessenta anos, mas parecia muito mais velho pelos percalços da vida rural. Como estava debilitado o médico solicitou o clinico, eu no caso, para prepará-lo para cirurgia, demorada e debilitante. Poderia agravar o quadro do paciente e colocá-lo em risco de morte.

Doente examinado; pedi todos os exames necessários: Eletrocardiograma, Raios-X, exames laboratoriais, ou seja, o recomendado para nos dar segurança.

Na mesma semana um senhor, que chamarei Outro José foi a São Paulo, sem nenhuma queixa para internar e ficar por dois dias fazendo exames. Foi a um grande Hospital com tudo de mais moderno, inclusive o que ainda não havia chegado ao Interior.

Pronto os exames do Sr. José, passei a visita rotineira, visitei Sr. José, estava bem e, após uma hora encontrei Dr. Oscar na sala dos médicos. Fui dar-lhe a boa noticia:

-Oscar, pode operar o paciente, todos os exames estão absolutamente normais.

- Ele acabou de falecer, ele retrucou.

- Como?

- Estava dormindo, morreu.

-Com os exames normais?

- Sim.

O Outro José em São Paulo não teve melhor sorte. Com os exames normais, na pasta que o hospital lhe forneceu, teve um mal-súbito no elevador, dentro do hospital e morreu na hora.

Esta infeliz coincidência pode ser aproveitada para uma revisão de conceitos. Na ânsia de novas tecnologias e descobertas, plenamente válidas, acabamos por abandonar práticas já sedimentadas, com a errônea idéia de serem obsoletas.

Heidegger, um filósofo da metade do século passado, deu grande ênfase em seu pensar na questão CUIDADO. Dizia ele, em outras palavras, que nossa responsabilidade no mundo é o cuidado. CUIDADO DE SI. Oras se somos responsáveis por nós mesmos, e realmente o somos, qual a função da Medicina como um todo?

Vamos considerar a sociedade um tecido. É sociologicamente chamado Tecido Social. No nosso existir nos relacionamos com a família, amigos, muitas vezes com importância maior que a própria família e com nossa comunidade. Ao mesmo tempo interagimos com o ambiente que nos rodeia, local, natureza, alimentos e vetores de doenças, predadores, vírus, bactérias úteis e patogênicas e assim por diante. Nosso cuidado pessoal consiste em viver o melhor adaptado possível nesta trama ampla. O filme Avatar, faz uma bonita metáfora neste sentido. Quando este relacionamento falha surge à doença; ou seja, um fator agressor, tanto uma bactéria como uma fator climático provoca a patologia.

É aceito em Psicossomática que sem a participação do próprio individuo a enfermidade não se instala. Adoecer é um estado de desequilíbrio. Obviamente existem outros fatores, incluindo o genético, senão seriamos eternos.

O dito popular bem antigo falava: “Morreu como passarinho”, ou seja, de tristeza. Homens e animais realmente morrem assim, pois abandonam seu cuidar de si. A função da saúde é Cuidar e não curar. A cura é conseqüência. O profissional de saúde a Equipe médica de nosso tempo, não pode diferir do Xamã, Benzedor, Feiticeiro e todos que passaram pela história; cuidavam. A medicação, com efeito real no organismo, química como é hoje, tem que ter a magia das ervas, chás, garrafadas e infusões e mesmo fumaça e rituais mágicos

Como em outras civilizações, o fato do doente se sentir assistido, amparado, enfim cuidado, é que vão propiciar as forças para ele mesmo cuidar de si e se curar. Independente da potência orgânica de um remédio. O objetivo sempre foi o mesmo. É isto que faz a humanidade ter a população atual, mesmo com guerras de extermínios e epidemias.

Quando se fala que “o médico é um sacerdote”, não se está referindo ao fato de ter cinco empregos como acontece atualmente, já que a comparação é mais antiga. A sentença se refere que ele, como sacerdote, tenta refazer a harmonia entre o ser e todo seu meio. Esta é a função holística de um sacerdote de qualquer cultura e pensamento. Ou seja: Dar meios para o enfermo Cuidar de Si.

Os dois José, um que foi fazer os exames provavelmente por acreditar que suas posses davam salvo conduto a viver bem, independente do cuidar de si e, só foi ao Hospital por exigência da família, e o outro, pela vida sofrida, sem urinar, solitário numa enfermaria não sentiram ou não aceitaram o apoio da saúde como um todo e desertaram. Morreram como passarinho.

A propaganda de Checkup nunca mais foi veiculada pelos grandes hospitais.





06/03/12

tony-poeta pensamentos










segunda-feira, 5 de março de 2012

as duas primeiras viagens - Primeira Viagem - As primeiras impressões.


AS DUAS PRIMEIRAS VIAGENS





PRIMEIRA VIAGEM – AS PRIMEIRAS IMPRESSÕES.



Passado o vestibular para medicina voltei para meu emprego. Sempre trabalhara e estudara. Trabalhava na Semp, no Rio Bonito; para lá de Santo Amaro em São Paulo. Era correspondente de vendas. Gostava do emprego. A política da firma, objetivando vendas, era escrever longas cartas para o pessoal do interior e de outros estados, tentando tocar a vaidade do comprador pelas palavras, para colocar o produto.  

Não tinha sido chamado na primeira chamada; já estava programando o ano. Não se divulgava lista de excedentes.

Certo dia, tinha acabado de sentar em minha Olivetti, minha mãe telefonou. Fui chamado em Marília. Saí imediatamente, peguei alguma roupa e fui à rodoviária. Durante a semana conseguiam-se ônibus mais facilmente. Era cedo, daria para chegar a tempo.

Passando Bauru o Prata quebrou. Iria demorar um carro reserva. Peguei carona em um caminhão. Não teria paciência de esperar.

Era um senhor de quase sessenta anos, veio me contando que Marília era a maior frota de caminhões do interior, explicando como era a vida da cidade, sua política e daí por diante. Foi uma viagem agradável, apesar do sol que batia de cara em nosso rosto e, de minha pressa. Estava muito quente.

Parei direto na Faculdade, confirmei o interesse da vaga com a Lourdes. Estava realmente sob forte tensão, além do desejo de ser Médico, tinha sido pego de surpresa. Não daria para fazer a matricula no dia, o banco já estava fechado. Peguei um taxi até o Grande Hotel, onde me hospedara no vestibular, para esperar o dia seguinte, pagar a matricula, ir à faculdade e tomar o trote.

Jantei no Atlântico. Para passar o tempo resolvi ir ao cinema. Como nada conhecia, o garçom informou que logo em a frente, na Sampaio Vidal mesmo havia um. Fui até o cine Marília.

Era dia de filme japonês. Nunca havia assistido nenhum. Era o único brasileiro ao redor. Mesmo assim resolvi entrar para controle da ansiedade, que já era imensa.

O filme era do Samurai Cego. Pensei:- para passar o tempo vale tudo.

Como não conhecesse nada de Samurai, a paisagem e os costumes começaram me interessar. A história fantástica de um cego, ouvindo barulho de uma cobra dando bote de cima de uma arvore e, sentado, num movimento rápido pegou a espada embaionetada no cajado com que andava, e cortou a cobra em longitudinal. Impressionou-me a criatividade do diretor. Gostei tanto do filme que assisti todos que passaram posteriormente.

Na saída sentei para tomar uma cerveja no Cine Bar e o Sr. Rubens, vendo-me  solitário veio conversar. Naquele horário já não tinha quase ninguém e o dono, que me tornei amigo posteriormente, queria desculpa para tomar cerveja, sem a Lenira ficar brava.

Falei do filme e do fato de ter um dia só para filmes nipônicos. Contou-me então da Tradição do Cine Marília, de seu festival de cinema, do Premio Curumim e todas as glórias que a casa trazia consigo. Foi muito interessante e com certeza melhorou muito o olhar sobre a cidade.

Dia seguinte fiz a matricula e o trote foi só o corte do cabelo. Já estava em aula. Fui direto para sala de anatomia. Fui apresentado ao cadáver que trabalharia o ano todo. Era o Perigoso, um ex-jagunço que morrera idoso na mendicância. Triste história, digna de filme.

Estava pela primeira vez na vida tocando um defunto e ainda fizeram-me o favor de me contarem sua história. Tive medo e outros sentimentos que não consegui identificar. Éramos quatro alunos por corpo. Lembro-me até hoje onde era minha mesa. As outras, naquele dia não tive coragem de olhar.

Veio um recado: o trote seria a noite no bar da Prefeitura. Pelas três horas. Quando sai fui rapar careca. A Barbearia era do Piola, que vendo um calouro da medicina contou que era doador, que mantinha o cadastro dos doadores da cidade, que sempre arrumava o sangue necessário. Realmente vim saber posteriormente de sua grande Benemerência.

À noite fui conhecer e levar o trote no Bar da Prefeitura. Achei-o muito interessante, era uma estrutura de madeira sobre o espelho d’água sob a parte coberta do prédio. Muitas mesas ocupavam o local e, bem movimentadas. Muitas meninas o freqüentavam. Para quem vinha de São Paulo era fantástico, não havia estes pontos de encontro, geralmente eram só rapazes, sem nenhuma mulher.

Ninguém estava muito interessado em um trote solitário. Mandaram-me fazer um discurso e, fomos tomar cerveja.

No outro dia à tarde iria para São Paulo, já era sexta feira.



tony-poeta pensamentos

06/03/12