POSSIBILIDADES
Toda vez que passo
entre o mar e a montanha tenho uma estranha sensação de pertencer a tudo, sinto
estar integrado a floresta que imponente sobe as encostas e o mar sereno,
inabalável do Canal, com suas aguas meditativas e transparentes.
Na verdade tudo me
pertence e pertenço a tudo. A minha matéria é igual a das árvores e animais,
apenas o mar e as rochas são anteriores, de resto todos temos a mesma idade,
fazemos aniversário no mesmo dia e temos uma única mãe, no viajar de
possibilidade deste estranho espetáculo chamado vida.
A vida se espraiou na
superfície dentro das possibilidades dos elementos, quatro foram o bastante. Dentre
todas as possíveis comunicações criaram-se seres que se alimentam do oxigênio,
movem-se ou se expandem e num bailado com passos variados tentam permanecer em
suas formas.
As formas móveis
criaram o barro e o barro repôs a vida, a vida se alimenta do barro e quando
fenece torna-se barro novamente e dá outra vida nesta dança de formas exóticas e
variadas: ora na musica calma do riacho, ora no clamor das tempestades. Tem cores apagadas e discretas que se contrastam
com cores fortes de grandes guerreiros. Ora o cheiro é pútrido da renovação,
ora o cheiro é doce e meigo da procriação. As formas dançam e não descansam, correm a superfície
tentando alcançar um objetivo ignoto. Entre alimentos e predadores ao mesmo
tempo seguem a dança, sobreviver é a base, reproduzir o objetivo e todos tem o
mesmo fim, um retorno: reintroduzir os minerais no seu reino e ser substrato de
novas vidas.
A vida é sempre
possibilidades neste compartimento fechado chamado Terra. Daqui ninguém sai, as
substancias fixas não mudam. Metamorfoseiam-se apenas as formas que bailam
continuamente. Se pelo acaso a vida começou, esta também a mantém, nunca se
sabe o próximo minuto o que trará, se será vida ou não, a expectativa antecede
a possibilidade e corremos para vencê-la, ora devorando vidas para nosso
fortalecimento e postergar o inevitável momento que seremos devorados e
novamente juntaremos ao todo, aos outros animais, as plantas, ao lodo do chão e
continuaremos sempre dentro das possibilidades, bailando na dança desconhecida
chamada viver.
09/10/2013
Tony-poeta