sábado, 1 de outubro de 2011

PRIMEIRA PÁGINA




Abre-se a primeira página

Começa a noite.

Aventura...

Areia movediça...

Terra firme...

Quem saberá?

Tento mudanças.

Novas andanças.

Retorno?

Retorno aqui e agora

Ou além...

Novos rumos não tocados

Chão que já foi pisado...

Recalques?

Horizontes?

Novas fontes

Ou velhas fontes...

Tanto faz.

Passado, presente e futuro

Inexistem.

Apenas o momento existe,

E é fugaz.



14/06/1991

CULPA - Pensamentos.







Se não tiver um culpado,

O culpado sou eu!

Como pode não ter culpados?

A sociedade...  A religião...

Toda justiça

Regula-se na culpa:

Os fracos se culpam,

Os fortes culpam os outros.

No jogo do não saber,

A culpa divide.

Quem é senhor,

Quem é escravo,

É a dialética do não conhecer.




sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O PENSADOR E SEU CÃO

                                                                    LACAN



Não sei quando fiquei fóbico por cachorros. Nas fases mais criticas da vida um cão na rua era um sinal claro que deveria ir para a caçada do outro lado. Como os via longe, às vezes tinha de atravessar e dês - atravessar a rua mais de uma vez, sempre em fuga.

Depois de casado, tivemos dois cachorros para as crianças, sempre no quintal. Eu os ignorava, só não tinha medo, pois eram pequenos.

Há cinco anos, já com os filhos com vida própria e lar vazio, a esposa Ana e eu, recebemos a visita do filho mais velho e da nora com seu novo rebento, um York Shire mini de nome Gnochi, que ficaria hospedado no apartamento onde moramos atualmente. Era um animal novo, ao redor de um ano, Ficaria alguns dias até eles voltarem de férias.

Como houve boa interação do animal, resolvemos comprar igual, já que uma noite por semana dormia no plantão, e o cachorrinho faria companhia à esposa.

Mãos a obra, procuramos um criador que exibisse pedigree. Escolhemos o animal que fixou a Ana, e o trouxemos com menos de dois meses, apesar de meus protestos com o criador. Acreditava que o animal deveria ter mais convivência com a mãe. Em vão. Demos-lhe o nome de Lacan de comum acordo.

Resolvi tomar as rédeas da criação. Já de inicio discordei da quantidade de ração, o animal não deixava resto daqueles grãos escuros que vinha na embalagem. Lembrei-me dos filmes sobre animais, sempre gostei, onde o animal abate a presa, come e quando farto se retira, não come até acabar. Ali acabava. Mudei o sistema, que se farte! Houve protestos, mas sempre dava um jeito de burlá-lo.

Comprei também os livros de adestramento. Mas, cheguei à conclusão que não estaria criando um animal, mas sim um autômato, que faria demonstrações da capacidade do dono. Dei-lhe autonomia. Que se adaptasse a vida em apartamento sem repressões.

Como Ana viajou para o interior, fiquei responsável pela guarda do Lacan, comecei fazer minhas descobertas: que como os humanos tinha um espaço intermediário, um paninho. Meus filhos também o tiveram. Conferi em Winnicott. Este falava também que a criança preferia um objeto macio a um duro. Fui ao hipermercado. Comprovado.

Com o tempo criou hábitos próprios. Hora de levantar, não gosta de levantar cedo. Horário de jogar bolinha, no final da tarde. Hora de jantar. E principalmente, hora de passear de carro, quando não é possível, fica amuado.

Como todo cachorro, Lacan late quando latem os cachorros da vizinhança, mas acredito por obrigação, não gosta de sair do lugar para latir. Late de sua cama.

Também aprendeu a pedir tudo que quer  por lambidas, não late e não desenvolveu nenhuma agressividade. Não consegui ainda entender a comunicação telepática, quando quer algo fixa o olhar com o corpo imóvel. Este código tem que ser resolvido por acertos e erros.

O Lacan é adorável e companheiro, se ficar só, chora. Uma única coisa não deu certo, o mini-cão pesa seis quilos.










quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A CONQUISTA

a conquista




As imensas e incertas conjeturas

Que enchem o labirinto da paixão,

Têm escondidas nos sonhos, alturas

Maiores que nosso campo de visão.



Há na indecisão linhas delineadas

De filosofia, que na sua excitação

Trás tiradas coerentes, entremeadas

De longas fases de alucinação.



É buscar temendo, caso encontrando,

Todo júbilo se faz transparecer

No sorriso, no olhar quase sonhando.



E o medo de na luta perecer

Dissipa-se, o que antes era esperança

Transparece num jubilo de criança.





31/01/1969




UMA CONCHA



Dou-te u’a concha de presente

Que estava enfeitando a areia,

Quem a trouxe foi a sereia

Em uma tarde ao sol poente.



É uma concha pequenina,

Frágil, fina, delicada.

Mas uma mensagem cifrada

Escute-a atenta menina.



É a mensagem de Netuno.

É a paz do fundo do mar,

Muito tem para te contar

E muito tem de oportuno.



Diz ao pé, as linhas traçadas,

Que toda pompa e riqueza

Não se esconde na grandeza

Das baleias avolumadas.



E bem ao centro está escrito:

Não é dom, a felicidade,

Do tubarão, na verdade

Eterno monstro proscrito.



E no ápice, a construção,

Mostra-nos que a inteligência

Não pertence só a regência

Do golfinho brincalhão.



Na conchinha tão pequena,

Ao mar, insignificante,

Escreve-se puro e brilhante

Um poema que ao éter acena.



Há um reinado de carinho

No castelo em miniatura

Espargindo nas alturas

Toda solidez de um ninho.



Quando vires u’a conchinha

Para! Medita! Ela fala.

Veja a casa, entre a sala,

Vá jantar a sua cozinha



Olhe as linhas... Tudo é paz:

Lar, doce lar, na parede,

Um canto calmo, uma rede

Hinos de amor por detrás.



Em casa a conchinha imite,

Sim, a jóia insignificante.

E conseguido. Triunfante

Verás que o mundo aí reside.











28/01/1968


terça-feira, 27 de setembro de 2011

NOITES DE DELICIAS AO RELENTO



Noites de delicias ao relento,

Rostos colados, amor, alento,

Vida alegre em noites de euforia

Oxalá não se acabe com o dia.



Noites de delicias ao relento,

Cabelos esvoaçados co’o vento,

Em sonhos doces, alegorias

Nos beijos profundos, na poesia.



Noites de delicias ao relento,

Mil estrelas lá no firmamento

Cá na terra o coração batia

Em frenesi... Expectativa... Alegria...



Noites de delicias ao relento,

Em dois corpos um só intento

De prazer, amor sonhos e poesia

Noites de delicias e alegria.


segunda-feira, 26 de setembro de 2011

DESVELO





Quando na manhã

Você se desvela,

A vejo no fundo

Nas formas singelas.



Vejo o amor

Mais puro. Quimera

Que queima e foge,

Mas me tolera.



Mas de desvelada

A um gesto de enfado.

Confiro: Voltou o dia,

Nesta hora te apago.

domingo, 25 de setembro de 2011

PRIMEIRO EMPREGO

  



A Livraria Cultura em 1969 ocupava uma casa de três andares na Rua Augusta, quase esquina com a Alameda Lorena. Com catorze anos era meu primeiro emprego. Comecei todo envaidecido, em casa meu pai assinava três jornais, comprava dois livros mensais que na época eram entregues a domicilio: Coleção Saraiva e Clube do Livro, sempre com romances de boa qualidade por um preço módico, Não bastasse o Sr Carlos, um dos pioneiros em publicidade, em São Paulo, contato do Jornal Shopping News, ainda

Freqüentava livrarias e principalmente sebos. Creio que foi com sua interferência que arrumei o emprego, difícil na época.

A casa tinha, se não me engano, uma garagem que não fazia parte da livraria e subindo a escada havia um terraço, onde os livros de bolso eram expostos, terraço este que contatava um quarto-sala, através de uma janela onde era a biblioteca circulante, com um pomposo nome em alemão.

Internamente as outras salas eram abarrotadas de livros, e a escada para o andar de cima

Nunca subi, creio que Da Eva e o Sr Kurt faziam residência. Hoje sei que foi pouco antes de mudar para o Conjunto Nacional na Av. Paulista.

Minha tarefa consistia em olhar os livros de bolso e chamar o vendedor se alguém se interessasse;  levar os livros escolhidos as residências e trazer os já lidos. Apesar dos títulos serem todos em alemão, conseguia me virar, pois a colônia alemã era grande no Jardim Paulista e até conseguia falar bom dia, boa tarde e até logo na língua Germânica.

Logo nos primeiros dias a primeira decepção do emprego, na época me deixou revoltado, entregando os títulos na Av. Nove de Julho, próximo ao túnel, o porteiro obrigou-me a subir no elevador de serviços. Fiquei indignado, como pode cultura entrar pela porta de trás, a mesma deveria entrar pela frente e com fanfarra. Fiz a troca de livros.

Algum poucos dias depois chegou uma encomenda da Editora. Eram duas ou três caixas

de livros, e como não tinha nenhuma atividade, foi me destinado conferir os mesmos. Não tendo nenhuma experiência, lembrei-me que já havia chegado livro em casa com pagina não impressa e outro com defeito na hora de encadernar. Abri todas caixas e conferi livro por livro. Ganhei uma bronca, não me lembro de quem, era só para contar os volumes. Mesmo assim não entendi. Como poderia entregar livros com páginas com defeito?

O pior aconteceu depois de mais poucos dias. Choveu, a escada de piso fica obviamente escorregadia, como a grande frente de quatro metros. Deram-me um rodo e mandaram tirar a água. Fiquei revoltado. Primeiro morava a três quadras e era conhecido. Segundo meu pai tinha endossado uma conta bancaria para receber meu primeiro salário e o banco ficava na esquina. Que diria o gerente? E o pior fui trabalhar para transmitir cultura e não rodar chão. Pedi a conta.

Obs. Hoje compro na Livraria.

Quanto ao trabalho do menor, que antes formavam classes noturnas; que com a carteira de trabalho, o aluno era regularmente matriculado, foi depois proibido para proteger o menor, o que discordo. Todos meus amigos trabalharam e levam até hoje suas vidas de forma digna.