sábado, 22 de junho de 2013

A PATROA E A EMPREGADA



 

A PATROA E A EMPREGADA


Fui ao banheiro dos pacientes quando cheguei ao Centro de Saúde para atender o S.U.S.. Não há banheiros exclusivos para médicos, aliás, um fato comum nos serviços de saúde e, o reservado a funcionários: é fechado, com a chave escondida em alguma gaveta, coisa meio complicada.
Cida no outro dia comentava:
- Este doutor é dos nossos, não tem frescuras.
Depois entendi que era devido ao uso do banheiro dos pacientes. Pensando bem, estava invadindo o território de outra classe social. Fiquei curioso, um homem usar um banheiro masculino, para urinar de pé não apresenta nenhuma invasão social e não tem jeito nenhum de se contaminar com o vírus da pobreza. Estava diante de um exemplo de divisão das camadas sociais pelo simples uso de um sanitário.
Realmente, cada vez mais tenho dificuldade de classificar a categoria social de meus pacientes pela aparência, mesmo atendendo pessoas de baixa renda. O que era um referencial tranquilo onde pela roupa, modo de andar, fala e apresentação em geral, proporcionando uma visão aproximada da camada social do paciente se diluiu, há hoje uma padronização, os modelos de roupa são semelhantes, os celulares que todos portam atualmente são iguais, a fala esta homogeneizada e mesmo em migrantes o sotaque não é destacado, aliás, praticamente não existe e na conversação da consulta o português melhorou muito e não se percebe mais erros gritantes. A diferenciação passou a ser sutil; quase imperceptível.
A comunicação via internet, televisão e outros meios, o acesso ao facebook e outras mídias sociais, fez com que o “bom gosto” que antes era restrito da classe média para cima se uniformizasse em todas as classes; acrescidos na facilidade de crédito e programas de distribuição de rendas do Governo Federal, facilitando a aquisição de novos objetos e interesse em se informar o modo correto de uso.
Esta melhoria social das classes menos favorecidas não quer dizer mobilidade social, uma vez que continuam morando em zonas de risco ou moradias humildes, continuam com trabalhos menos valorizados; sendo no litoral a minha observação, os trabalhos são diaristas, domésticas e “atendentes” em barracas de praia em finais de semanas ou temporadas, sem emprego fixo em sua grande maioria, mas conseguindo na soma de ganhos da família ter acesso aos bens de consumo tão propalados pela mídia.
A significante melhoria de condição de vida não significa uma mobilidade social, apenas um pouco mais de conforto. Uma parte que conseguiu melhores empregos ou pequenos comércios autônomos começou a pagar Imposto de Renda. O referido imposto, desde tempos imemoriais é o meio de controle da população. Esta inclusão de uma classe, antes completamente marginalizada alterou as estatísticas sugerindo que a classe burguesa tinha agora de compartilhar com uma classe inferior. Era a “My Fair Lady” se comportando corretamente tanto em fala como em vestimenta e, pagando impostos. Esta mendiga vendedora de flores, tão comum nas turbas europeias de desalojados começou a adquirir “status” social.
Toda sociedade de mamíferos se divide em camadas, onde os das camadas inferiores reconhecem os de cima [senhor], mas não são reconhecidos por este. Na sociedade humana não é diferente. A estratificação não mudou; cada camada continua em seu lugar o que mudou é a percepção de quem pertence a cada uma delas, é aí a confusão estabelecida.  Como a fala e a vestimenta já não são critérios confiáveis para diferenciação, esta se faz em pequenos detalhes, como o uso do banheiro.
Esta má percepção de classes provoca revolta na Classe Média, dirigida em quem fez a mudança, com ataques cada vez mais agressivos e desejo de substitui-lo por um príncipe todo poderoso, que por força de uma lei rígida refaça a ordem anterior. Esta desorganização aparente provoca um desarranjo transitório que só o tempo pode acomodar. Na verdade a burguesia da Revolução Francesa está enfraquecida diante do proletariado e com dificuldade em manobra-lo como o fez anteriormente. A Patroa se veste como a empregada.

Tony-poeta
22/06/13

Tony-poeta







corruira






Corruíra falou:
- E o dia se abriu
Com sua lanterna amarela
A nos abraçar
Nos lembra que a vida
É um aperto amigo
Uma forma de amar.
BOA TARDE


Tony-poeta

quinta-feira, 20 de junho de 2013

ENXURRADA



Depois da tempestade
Vem uma enorme enxurrada.
Só quando a agua baixar
É que se vê o que plantar.
Não provoques tempestades
Nunca saberás onde terás inundação.
Tony-poeta

quarta-feira, 19 de junho de 2013

VEGETARIANO



 

VEGETARIANO


Lacan, meu cão, senta a meu lado as refeições.

Reduzi drasticamente meu consumo de carne

Proteção aos animais.

Lacan tem protestado com ganidos.

Falta de consciência de classe.


Tony-poeta

terça-feira, 18 de junho de 2013

ROUBA MONTE



 

ROUBA MONTE.


Descarto
Recolho
Roubo
Perco
Recolho cartas
O mundo é instável
Nada se mantem
Roubo cartas
Perco o monte
Até onde?
Não sei!

18/06/13
Tony-poeta