sábado, 28 de julho de 2012

CORRUPIO

 

CORRUPIO


Flash do momento.
Tempero de saudade.
Horizonte?
Não há horizonte.
Apenas instante.
O próximo momento?
Quem sabe?
A vida é um corrupio
No meio do rio.
Mais nada!

28/07/12
Tony-poeta.

VAZIO


VAZIO



Vazio,
Inteiramente vazio...
É noite nublada
Sem estrelas.
É bar vazio
Sem mulheres.
É coração vazio
Sem amor.

É noite fria de calor, de vida.
É tudo rude, agreste, selvagem,
Os prédios escuros, os homens xingando,
Os homens bebendo e o bar malcheiroso,
As prostitutas vendendo,
Como objeto
O que é sublime.
[Bem sei que é problema social]
Mas é selvagem e doloroso.
Tudo continua frio,
O conhaque esquenta o sangue
Mas esfria o coração.
E tudo roda... roda...
Rende-se o ego
Toma conta o instinto.
Ficam sublimes as prostitutas
Fica vazia a memória
E fico mais vazio.



28/07/1969

QUASE HUMANO


QUASE HUMANO




Um pequeno planeta. Muito pequeno. Era habitada por uma população que se autodenominava Circular; a área habitável se resumia a um circulo cercado por formações minerais. Além deste circulo havia um pântano com gases onde moravam os Gasosos. Animais do tamanho dos Circulares que se alimentava de peixes, os quais pescavam nas águas que separavam os dois domínios. A alimentação básica também era peixe para os mais desenvolvidos.

Com o aumento de população e o excesso de construções, um inseto antes raro começou a proliferar e picar os Circulares. Tentaram várias formas, em vão. Até que resolveram colocar uma parede na divisa entre o território e as rochas que o circundavam, para que o vento sendo desviado aumentasse a velocidade e expulsasse os insetos; levados pelo vento não teriam onde se fixar e morreriam.

Feito o paredão, o resultado foi excelente, os insetos começaram a desaparecer e acreditavam que não mais seriam picados e assim evitariam as doenças que ocasionalmente acometia a população. Diziam que estavam entrando na Era da Saúde.

Os Gasosos por sua vez, com o vento começaram a ter um esfriamento de seu território e pararam de se reproduzir. Ameaçados de extinção apareceu um movimento na comunidade dos circulares para preservação da espécie.

Depois de muitos projetos e negociações, sempre exaltadas, concluíram que um segundo muro de divisa com o pântano, desviando o vento para as rochas, deveria ser construído. Isto aqueceria novamente o território e seus vizinhos.

Feito o muro, o aquecimento foi um pouco acima do esperado e os Gasosos, ao invés de uma cria passaram a conceber três ou quatro filhotes, refazendo rapidamente a população e a aumentando.

Vinte anos depois os Circulares continuavam com as mesmas doenças. Os insetos não mais existiam e os Gasosos estavam em grande numero, vivendo muito bem.

Os cientistas chegaram à conclusão que aumentando um peixe diário melhoraria a saúde da população.  Concluíram também que com o aumento de consumo dos peixes faltaria alimento em breve, por excesso de Gasosos, que se reproduziam muito.

Após acaloradas discussões, foi aberta a temporada de caça aos Gasosos.



28/07/2012

Tony-poeta


sexta-feira, 27 de julho de 2012

O CASTELO ENCANTADO

 

O CASTELO ENCANTADO


Quando passo na trilha de mata dirigindo-me ao trabalho; em certa curva existe uma contenção de blocos de pedras, ou melhor, paralelepípedos, dispostos em paliçada, à direita e a esquerda do caminho. Sempre aguçam com vigor minha imaginação.
Esta construção é a mesma que eu via nas histórias infantis; onde perdidos, os personagens, sempre crianças tinham de encontrar o Portal de acesso para um lugar conhecido. Era a mesma construção mágica do mundo de fantasias.
Não creio que vá encontrar este portal em uma estrada asfaltada, ou numa pequena estrada aberta com toda proteção ambiental, mas minha mente sempre o encontra.
Cada dia: é nova passagem e nova história. O viver não tem repetições, tudo se inaugura a cada momento. O instante é singular e o seguinte: outra narração, com outras rotas e personagens: amigos ou agressores; alegres e tristes, todos estampados no enredo da imaginação aguçada buscando alguma coisa desconhecida e, ao mesmo tempo segura, que nos ampara carinhosamente.
Quem fez a contenção de pedras lia histórias, com certeza. E cada pedra colocada era um novo enredo, interminável, como é este caminhar, o pedreiro estava narrando sua sensibilidade.
A estrada e sua contenção é a história da vida de cada um, pulsando no caminhar.

27/07/12
Tony-poeta

O DESEJO E A SEGUNDA FEIRA

 

O DESEJO E A SEGUNDA FEIRA


-Papai: eu quero um carrinho igual ao do Silvinho.
- Segunda feira papai te dá!
Tinha uns três anos e Silvinho era meu vizinho. Ganhara um carrinho vermelho e não deixava ninguém brincar com ele.
A situação era difícil, meus pais em inicio de vida, corriam, trabalhavam e faziam contas e mais contas tentando sobreviver.
A segunda feira nunca chegava. Cada vez que voltava a pedir, a mesma resposta:
- Segunda feira papai te dá.
Fui à escola, aguardava a segunda feira.
Terminei o ginásio, o colegial e, segunda feira não tinha chegado.
Fiz a Faculdade, fui trabalhar logo a seguir, se passou a segunda feira não notei.
Casei num sábado e na segunda feira estava viajando.  Não vi a segunda feira.
Nasceram os filhos, cresceram estudaram e não mais olhei ao calendário para buscar o dia prometido.
Aposentado. Olhei o calendário. Na segunda feira comprei um carrinho vermelho. Era a segunda feira.
Não achei o Silvinho e ninguém que pudesse brincar. Haviam parado em alguma segunda feira.

27/07/12
Tony-poeta


quinta-feira, 26 de julho de 2012

solidão acompanhada



SOLIDÃO ACOMPANHADA


Quero ficar só.

Mas... Só tendo alguém, no entanto.
Que faça companhia no meu canto
Alguém que respeite meu silencio.
Que me cubra de amor e encanto.


Hora de calar, um doce olhar
Tagarela. Cantar para o mundo.
Que faça uma só prece, um rezar.
Para amar, um se integrar profundo

Quero ficar só. Só com alguém
Que respeite meu mundo, realmente
Ultrapasse o viver muito alem
Vivendo nas nuvens ternamente.

Ficar só, viver todo respeito
Compartilhar o mudo pensar
No riso, um grito com todo peito
Que é hora perfeita de amar.

Pois:
Nunca se chora em perfeita integração.


19/12/11
tony-poeta pensamentos


A DOR e A CURA

 

A DOR e A CURA


Nossa passagem pelo planeta tem duas diretrizes: Viver e Amar.
Amar é reproduzir eternizando a espécie.
A dor, sem ser traumática é a angustia provocando o vazio.
O vazio dói.
O vazio busca eco em nós mesmos.
Procura um órgão.
O vazio fala pelo órgão exausto pelas nossas aflições.
Pede socorro.
A dor é o pedido de socorro.
A dor pede o Outro.
O Outro é amor.
Toda dor pede amor.
A cura é sempre um ato de amor.

26/07/12
Tony-poeta

quarta-feira, 25 de julho de 2012

MEU TEMPO

 

MEU TEMPO


Meu tempo é breve e a vida curta,
Menor que as tartarugas
Maior que as borboletas,
Não sei: se muito ou pouco,
Não sei o que pensa a borboleta
Para fazer a comparação,
Então: que a vida se curta
Sem outra explicação.

25/07/2012
Tony-poeta

O CARRO


O CARRO

Carro corre veloz
Escorre no asfalto
Cidade percorre
Fazendas escorrem
No vidro do carro.
É carro que voa
À toa,
Destoa distante
De o vegetante viver.

                                                                         Cabloco que anda
                                                                         Moroso vagaroso
                                                                        Pertencente à paisagem
                                                                        Cabloco que vive,
                                                                        Revive, rumina
                                                                        A dura sina
                                                                        De plantar e colher.
                                                                         Caboclo todo dia absorto a estrada atravessa.
É o carro que corre...
                                                                         O caboclo caminhante...
Todo dia um carro diferente,
Outra gente.
                                                                        Todo dia é o caboclo
                                                                         O mesmo caboclo.
E cá[o]bloco do carro
E o caboclo se auto/move
Horizontal/vertical
Cruzam-se.
Duzentos por hora
[a hora que passa]
Gasolina consome
[suor que escorre]
Carro que corre
[pito e fumaça]
Ressaca de uísque
[cuspe e cachaça]
Um/dois
A hora que passa
Um beijo
Um amasso
O carro que corre [PARA!]
Encara
O grito aflito.      
                                                                          Caboclo não corre
                                                                          Nem anda
                                                                          Desanda
                                                                           Deserta da vida.
O carro olha
Se entorta
Amassa
Apenas se amassa.

27/10/1970
Apresentado em jogral pelo GETAM-MARILIA
Tony-poeta



A BUSCA [1964]

 

A BUSCA   [1964 ]



Fui ao deserto
Buscar uma rosa.
Fui às rochas
Buscar uma orquídea
Deixei murchar a flor
Viçosa, que desabrochava a meu lado.

No deserto não havia flores
Nas rochas, só espinhos
Por não me compreender
Por não me encontrar
Perdi a flor que era minha.
Não achei outra para substituir.

Aonde irei agora?
Voltarei ao deserto quente?
Escalarei a rocha fria?
Caminharei a esmo
Pelos caminhos que se me oferecerem?
O que farei?

Tenho que caminhar.
A vida é seguir,
Viver é caminhar,
Não se para no meio da jornada,
É obrigado seguir
Aproveitar os frutos do caminho
Vencer rochas e abismos,
Ir sempre em frente
Lutando com as tormentas
Deliciando-se com a alvorada.
Seguir...
Não parar para não fenecer
Não desanimar
A volta é longa
Muito mais longa que a ida.

1964
Tony-poeta

afetos I


AFETOS




Desperto

Inquieto

Irrequieto

Procuro em cada canto

O encanto de teu afeto.



Atento

Na noite

Ao relento

Escuto o vento

Que trás noticias



Vento

Brejeiro

Fofoqueiro

Conta que

O que conta

É o amor primeiro.



Corro

Como corro

Mais que o vento

Quero pioneiro

Teu afeto inteiro.



25/07/2012

Tony-poeta.

terça-feira, 24 de julho de 2012

SEXO E DITADURA

 

SEXO E DITADURA


João estava com Maria e um grupo de amigos tomando chopp. Frequentava um bar: O Carcará. Quase todo final de semana; pelo menos quando ele vinha a São Paulo encontrar com Maria. Ele estudava engenharia em São Carlos, ela funcionária de uma grande empresa.
Os dois, emancipados, lá se encontravam, bebiam com os amigos e por fim ia a um hotel passar o resto da noite. Maria morando em um pensionato não podia chegar de madrugada.
Saíram da mesa pelas três horas. Uma noite quente de novembro de 1968. Dirigiram-se ao Hotel Brigadeiro, onde costumavam ficar.  Foram a pé como de costume. Ficava entre a Rua Tutoia onde estavam e a Avenida Paulista, era o meio do caminho, uma subida de 45°; os dois estavam habituados a andar.
Lá chegando foram informados que não poderiam passar a noite. Tinha havido uma batida pela segurança pública e, por uns dias não se arriscariam a curta permanência, por medo de serem fechados. Só podiam se hospedar casais com certidão comprovando. Perceberam que o local encontrava-se vazio. 
O recepcionista que já os conhecia, indicou outro estabelecimento na Rua Bela Cintra, que estaria sem problemas. Esta rua saia da Av. Paulista. O Hotel ficava duas quadras abaixo, descendo à direita.  Não havia muita opção, tudo estava fechado. Foram andando, apesar da distância de aproximadamente treze quarteirões: - Era bom para baixar o chope, foi à conclusão final do casal.
Já no Hotel, às quatro e meia da manhã, foi solicitado documentos. Foram Informados que os mesmos ficariam retidos na portaria, por precaução.  João, acostumado à vigilância da ditadura, onde toda semana, ao chegar à casa de seus pais onde morava, o zelador preenchia uma ficha de permanência, seguindo a ordem da Secretária de Segurança. Deixou a documentação. Desconfiado, mas deixou.
O Estabelecimento estava instalado em um antigo palacete da época do café. A portaria, acessível pela lateral ficava sob a escada. Todos os cômodos foram transformados em vários quartos. Aparentemente o andar térreo era mais confortável e melhor decorado.
A curta permanência, onde ficariam, era sofrível. Os quartos eram divididos por compensados em quartos menores, com espaço suficiente para uma cama de casal, dois criados mudos e um guarda roupa, sem nenhuma combinação, parecendo móveis comprados em lojas de usados. A janela foi dividida entre os quartos, ficando no cubículo, onde se instalaram, apenas uma fresta de 30 centímetros. A iluminação do local era bastante fraca.
Após inspecionarem a espelunca onde foram parar, preparavam-se para deitar quando ouviram barulho sugerindo uma batida policial. Chegaram à conclusão que era melhor apagar a luz e ficarem quietos.
Parecia que os policiais investigavam todos quartos sem registro, arrombaram uma porta, sempre aos berros e com toda truculência, sem se importar com os outros hospedes. Perceberam que três ou quatro casais foram presos para averiguação.
Por fim o ambiente se aquietou. Na fresta de janela entrava uma luz, estava amanhecendo. Ficaram por mais meia hora e saíram.
Maria pegou um taxi e foi para o pensionato onde morava. João saiu a pé, retornando no mesmo caminho, morava próximo ao Carcará.  Indignado pensava se toda esta ação protegia da falta de liberdade dos comunistas ou era apenas uma cópia mal feita.

24/07/12
Tony-poeta
Os nomes são fictícios, a história real.


QUE SERÁ


QUE SERÁ.

Tudo o que foi.
Era!
Pois somente podia ser.
O que passou,
Era!
Porque já tinha passado.
O que é.
Era...
Ou será?
Vamos correr...
No que é
Para alcançar
O que será.


Mod. 24/07/12
Tony-poeta

segunda-feira, 23 de julho de 2012

A INTERNET E A COMUNICAÇÃO MODERNA

 

A INTERNET E A COMUNICAÇÃO MODERNA



Recebi uma carta. Chegava do trabalho. Fiquei surpreso. - Uma carta! Pensei comigo.
Olhei o envelope, um envelope de mala aérea, com remetente e meu nome impressos por mala direta, esta vinha assinalada no rodapé.
Achei muito estranho, recebo as contas mensais, as publicações que me interessam e quando saio do município, uma multa de transito. Às vezes vem de Bertioga onde trabalho, mas já havia chegado uma nestes dias. Como não tinha viajado e o impresso era um envelope, não era uma multa turística. Sabe: as cidades lucram com o turismo.
Olhei o nome. Angélica de Matos. Fui até a NET e abri meus amigos, não constava nenhum com este nome, decididamente não era pessoa de meu relacionamento.
Intrigado, olhei a cidade que estava carimbada sobre o selo. Valinhos. Pensei: a cidade do figo. Quando fazia feira, com meus filhos pequenos, procurava verduras e frutas com pouco agrotóxico, coisa impossível hoje em dia, sempre ouvia: - Olha o figo de Valinhos; O figo. Fora isto não sabia mais nada da cidade. Tinha um amigo em 1960 em Vinhedo. O Jorge; fui lá uma vez. Mas o sobrenome dele era libanês. Não era, portanto o remetente.
Palpei novamente o envelope, só havia papel na missiva. Continuei intrigado. -Não se usam mais cartas! Pensei.
Só pode ser vírus ou aplicativos, foi minha conclusão final. Deletei. Joguei ao lixo sem abrir. Não quero correr riscos. Fui fazer outra coisa e não pensei mais no assunto.

23/07/12
Tony-poeta

TOMANDO CHOPE


TOMANDO CHOPE


A moça come pizza
Em frente à avenida
Defronte a construção.
Nuvens de pó
Embaçam a atmosfera.

O carro passa,
Sobe poeira.
A moça morde,
Acha gostosa
A comida empoeirada.

Tem bastante chope.
É calor.
O homem trabalhando
Olha a comida de esguelha,
Sente a espuma do chope
E continua levantando alicerces.

Roda chope.
Entra um moleque,
Com saco de farinha,
De seu tamanho, nas costas.
-Me dá um auxilio?
-Troca vinte?
-Troco.
-Some moleque sem vergonha!
Surpreende-se...
Se manda...

Os carros passam,
Gente passa.
Gente sentada conversa.
Toma chope.
O namorado olha com ternura,
A moça flerta outro escondida.
Um ri.
Ninguém chora.
Estão todos
Simplesmente tomando chope.


08/12/1970
Tony-poeta


domingo, 22 de julho de 2012

A PRAÇA

IMAGEM GOOGLE

 

A PRAÇA


Tudo passa
Fico na praça
Olho as ruas.

Tudo voa
A praça é redonda
Ruas são tortas.

Tudo é triste
A praça ampla
Que rua existe?

Tudo passa
Na praça
Recomeça.

Praça triste
Talvez alegre
Tudo passa.

22/07/12
Tony-poeta

senilidade


SENILIDADE


Brinca...
Ri...
Canta...
Corre...
Busca...
Choro interno, canto alegre,
Riso nos lábios, canto em desespero,
Olhos interrogativos, olheiras funda,
Como que penetrando
Na alma que se desfaz.

Brinca triste,
Ri procurando,
Canta chorando,
Corre em desespero.
Busca apavorado,
Alma em convulsão se desfazendo,
Suspense cardíaco,
Mente confusa, como areia
Vista ao longe aos raios do sol.

Brinca triste e sem sentido.
Ri procurando o ontem,
Canta chorando o amanhã,
Corre em desespero cada minuto.
Busca apavorado a juventude.
E a juventude se esvai,
É o riacho nordestino
Nas últimas gotas.
Vai evaporando
Evaporando cada segundo
Cada vez mais,
Mais,
Mais...
Não vai restar nada!
É o fim,
Ponto final.
Esta terminando
E brinca,
Ri,
Canta
Corre,
Busca,
Corre,
Corre,
Corre...


25/07/1969
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