VAREKAI – CIRQUE DU SOLEIL - UM MUNDO A SER IMAGINADO.
Ontem fui ao Cirque du Soleil assistir Varekai, escrito e dirigido por Dominic Champagne. O Cirque é um espetáculo onde os palhaços, o som, a luz, os acrobatas, trapezistas, narradores, malabaristas, são dispostos, pela imaginação poética do escritor, para viver uma história que aguçará a imaginação dos espectadores.
Portanto temos uma poesia representada. A estilística diz que poema é a apresentação visual de uma idéia do poeta, com lacunas a serem preenchidas pela imaginação e conhecimento de quem a vê. Creio que cada um verá com seus olhos, seu imaginário e sua concepção de natureza, este espetáculo de primeira grandeza.
O roteiro apenas nos diz: Um jovem cai do céu, numa terra fantástica com vulcões e personagens imaginários, daí para frente vale a apresentação, linda, e a imaginação. Tentarei descrever o que senti:
No início, com homens lagartos e fumaça, senti a origem de fogo de nossa vida. Não a vida da história ou da antropologia, pois, esta limitada, começa já sabendo geometria, já tem cultura, e é civilizada. Estou na fase anterior, do homem no fogo traçando seu caminho na natureza sempre surpreendente; com muito de desconhecido e pouquíssimo de dominado.
Ícaro, este jovem, começa a história humana, que cabe só em nossa imaginação e não nos livros. Ao cair perde as asas e vira humano. Começa a dança da vida humana, Relembrando o espetáculo. Situei-o antes da Babel, não na confusão de línguas, mas na formação destas. Da comunicação do homem e seu mundo. Aí aparecem os atores: o narrador, o militar, o mago, definindo a magia da vida e da morte; o palhaço com uma companheira. O som é perfeito; a luz sem falhas e os quadros tem vida. Começou o espetáculo da existência.
Ícaro só observa a evolução. Fica no palco semi-imóvel como ator passivo do desenrolar das coisas: aguarda uma definição. Os povos nômades aparecem com suas fantasias. O Oriente, com sua musica e sua mitologia se faz presente com cantos e evoluções. É aí, que a poesia do espetáculo cria meu poema livre de espectador. Com certeza me levando da origem da vida para a vida atual do homem, eis meu poema:
Livre o ser. Na dança das formas,
Mundo estranho veio aparecer.
Sua vida de forma espiralada
Podia ser ou tudo ou nada.
Pequeno, impotente, olhava
Lhe restava à dança frenética
Que com muitas cores rodeava.
Caminhos havia. Qual seguir?
Como natureza, integrado,
Ser planta da terra, florir
Cores dum mundo deslumbrado.
Vencer o ente, viver o Ser
Não ter os limites do corpo
Mar e Terra poder vencer.
Voar... E voar... Sem nenhum escopo
Viver e flutuar, pertencer.
Podia também destruir a terra
Destruir os seres, fazer guerra
Egoísta, só ele viver.
Sair da luta, não padecer
Pois como covarde: destrói
E ignora a dor que o corrói.
Ícaro viveu a natureza.
Viu: as flores a se abraçarem
Num buque, doce sutileza,
Movimentos... A se amarem.
Viu gametas formarem plantas
Num espiral. Então sorria
O vazio. A cor que acalanta
O nada fazia uma melodia
Na terra. - Graça envolvente
Forte e fecunda, - em seu ventre.
Outras formas evaporaram
Da carne crua e todo seu peso
Entre luzes, leves voaram
Como um vaga-lume aceso
E lumiaram com um encanto
O tapete voador. Ouve-se canto:
-Odes de louvor entoaram.
Enquanto perdido seguia
O homem cru no picadeiro
O som de Piaff o perseguia.
Ele nunca acendia o candeeiro
Do solfejo. Encontro perdido
Dos holofotes destoantes.
Grito! Solidão sem sentido
Desencontro de desejantes.
E o militar. Luz das idéias
Da marcha destrutiva. Marchar
Fazia de sua vida. Pilhérias
Na formação pronta a imolar
Tudo que em cores se formaram
Na ignorância da luz e ar
De quem quer a vida matar.
Mas o mago em trajes de luto
Ordena às lavras do vulcão
Para tragar o ser frio e bruto.
-Não teve na morte emoção-
Palhaço! Perdeu-se no dia
Foi para noite que o seguia.
Da terra como dom surgiu
Num movimento em contorção
Um ser. Como ele ninguém viu,
-Imita a natureza. - Chão
De onde amor puro se formava
E o novo mundo acariciava.
Ícaro chegou. - Alvo ele era. -
Juntou-se ao novo ser de alvura.
Início. Uma primavera
Novo mundo de formas puras
Num toque quase de profeta
-Que é o sonho de todo poeta. -
A vida humana começou
Na terra que a acariciou.
Pelo menos, nos vôos de meu pensamento, vou saber que a vida pode ser pura em sentimentos, como nesta evolução do circo.
30/11/2011
Tony-poeta pensamentos