sábado, 24 de setembro de 2011

alter ego






Fiz o ideal...

Formei meu viver.

Súbito,

Como um redutor de combustível

Esquentou o motor.

Quão complicado ficou o tão simples!



Projetei:

O humilde no vulgar.

Pouco esforço para uma pulsão,

Uma bolinha de luz me comandava...

De onde veio?

Eu sei... Mas não me lembro;

Para onde vai?

Eu sei... Mas não vejo.



O simples complicou-se com outra luz.

Uma centelha penetrou meu mundo.

Como um espelho,

Por consumo, me consumiu

Embaralhou minha pulsão,

Deslocou a bolinha de luz,

Deu refração.

O vulgar acusou

-Egoísta... -Vaidoso... -Foram seus termos

A refração aumentou

Na vizinhança... Aqui... Além...

Nas coisas... Nos bens...

De uma casa a um castelo,

Apenas um jogo de imagens.

Do sítio ao latifúndio,

Apenas uma refração

Do humilde ao onipotente,

Apenas uma mudança de fase.



Tudo é um jogo

Onde o ideal de uma luz

Perde-se em outras luzes.

Onde uma forma se deforma,

Fragmenta-se

E neles se recria,

 Como uma fada

Com coração de monstro.



Por fim...

Confuso...

Num palácio de espelhos,

Batemo-nos...

Batemos...

Batemos...

...





01/02/1990

VINTE E SETE







Vinte e sete,

O numero da maturidade.

Da fama da rebeldia

A passagem para pensar.

Vinte e se uma porteira,

Com tranca e cadeado,

Hermeticamente fechada

Pelo antagonismo

Dos empresários e da liberdade

Do dinheiro a vida meditativa

Do lugar sem rumo a uma ancoragem

Da vida, se é que se saiba um modo

De existir vida plena,

A morte já em curso das exigências

Que sempre se casam com os talentos precoces.

A precocidade não é glória

É dinheiro. É o ser sem substituto,

Sem reservas. É uno

E o que Uno, é explorado ao máximo

Tem de ser. O capital teme a orfandade

A maturidade é o fim,

É incerta, e um trote manso e monótono

Substituindo o potro selvagem

Que nunca se deixa domar.

O previsível é descartável, o selvagem não.

E Amy aos vinte e sete,

Sem nenhuma previsão

Foi procurar os companheiros

Que não abriram a cancela

Da vida plena.





23/07/2011


O CANTO




O canto de amor

Do pássaro apaixonado,

Não é uma fala,

É um louvor

Ao mundo vislumbrado.



Falar! Falsificar a vida,

Quebra seu ritmo

De forma dolorida.

Quando falamos,

Não é só para sermos entendidos,

Pois, a bem da verdade,

É para ter em nosso ouvido

O som matreiro

Da nossa vaidade.

Por mais bela que seja a fala,

Jamais será um som tão limpo,

Ter a perfeição que acasala

O ser da natureza ao Olimpo.



O recém nato não fala,

Tem apenas o balbucio dos anjos,

E a mãe que o embala

Com seu manhês forma o canto

Da natureza, que os entrelaça.



Quero, no meu canto

Holisticamente me unir

Ao mundo que me abraça.

Não quero falar só para ouvir

Minha própria voz melosa

Sempre a mentir,

Para se sentir gloriosa

Com som que ecoa.

Na própria carcaça.

Mas busco num som puro

A unidade do mundo

Onde quero me fundir.





24/09/2011










sexta-feira, 23 de setembro de 2011

TEATRO CONTINUAÇÃO



Trocando e-mail com o Fernando [Fernando Lopes Tunes], que permaneceu no SESC, atuando por um longo tempo, trouxe suas recordações do primórdio deste teatro. No casarão da Av. Paulista, até a apresentação do dia do comerciário e a chagada do Lineu [Lineu Carlos Constantino] e seu grupo, nos reuníamos nos porões do edifício, bastante espaçoso e adequado, pois realizávamos bailinhos, cantávamos e tocávamos instrumentos (eu ao tocava nada), tudo sob a supervisão de DONA MAKI, nossa supervisora. Aliás, uma pessoa adorável, que todos gostavam e que me trouxe agradáveis recordações.

Do grupo. Denominado GRUPO DOS XV, participavam conforme nossas lembranças, o Luiz Fernando Schiavon, o Haroldo, o Mané, a Ana [irmã do Fernando] o Laerte Luiz Pinto Bueno, o Afonso, um casal de gêmeos que não recordamos os nomes e o Jean, já citado anteriormente.

Com a chegada do Lineu, já relatada, após a primeira apresentação de seu grupo houve fusão com o GRUPO DOS XV, e formou-se o TEATRO DE EQUIPE do SESC que passou a funcionar na edícula do casarão.

A primeira apresentação deste grupo foi a peça CASADOS e SOLTEIROS de Martins Penna, com direção do Lineu e destaque para o Ramis [Ramis Pedro Boassali], já citado na postagem anterior.

Quando nossa caixa de recordações apresentar mais detalhes os colocarei.

Maturidade



Passou.

Eu não passei.

O corpo arqueou

Eu me levantei.



O mundo mudou,

Nunca mudei.

Os anos passaram,

Porém não passei.



O tempo passou,

Eu não passei.

Mas, no fim...

O mundo não acabou.

Eu passei.





23/07/2005

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O ANDARILHO E O TEATRO

                                O Andarilho e o  teatro.





A poesia o Andarilho, junta com mais três, atestam a última experiência no teatro na minha juventude.

Antes de fazer medicina, no SESC da avenida Paulista foi criado um grupo de jovens.

Como era próximo do Ginásio Estadual Alcides da Costa Vidigal onde estudava, comecei a freqüentar o referido grupo, que tinha uma colega a Vitoria, que nunca mais tive noticias, o Fernando, meu amigo até hoje, o Jean que também perdi o contato.

No dia do trabalhador, não lembro ao certo o ano, apresentei uma poesia, o Jean apresentou uma sátira de Romeu e Julieta e alguns quadros que não lembro mais. Faz tempo.

A apresentação foi bem recebida e o SESC resolveu criar um grupo de teatro anexo ao que já existia, trazendo um ganhador do Moliére, o Lineu. Junto com ele vieram vários artistas já experientes, o que mantive contato até sua morte foi Ramis Pedro.

O teatro inaugurou com a Sátira de Mestre Pastelão, com boa aceitação e aí se formou o Teatro do SESC.

Chegando a Marília, após alguns anos depois, reencontrei o Ramis que era diretor do GETAM, grupo antigo de teatro amador na cidade, que me convidou para participar.

Estávamos em plena repressão da ditadura na época, e mesmo aceitando o convite, pairava alguma coisa de encoberto.

Assumi a direção artística, e montei como primeiro ( e único) trabalho. Uma apresentação com música da MPB, na época estava em voga Vinicius e música de umbanda, que ficou a cargo de um ex- integrante de um grupo musical local, o Duja do Banespa no atabaque, que fez sucesso, e um jogral de poesias (as minhas, claro.) com quatro oradores que se movimentavam por trás dos músicos ao centro, com iluminação, a cargo do Turato, meu colega de faculdade e república. Os demais componentes me lembro vagamente.

O espetáculo teve boa aceitação, com casa cheia e convites para apresentação em cidades vizinhas, o que foi feito. Como era aniversário da cidade, foi escolhida para representar a cidade na televisão (Não tenho certeza, mas creio que era a TV Tupi, na Rua Augusta) no programa do Saulo Gomes. Foi apresentada só a música, não as poesias.

O Saulo me procurou vá rias vezes para montar peças a serem apresentadas na TV, mas recusei por acreditar que a TV inibia a criação.

Continuei a dirigir o GETAM, seguindo Stanilavski, único livro da época: “A formação do Ator”. Fazendo um “laboratório”,pedi que as atrizes simulassem prostitutas no ponto de ônibus e os atores fossem os fregueses. O laboratório foi feito e deu o maior rolo. Um dos diretores, que posteriormente passou no concurso de Juiz Militar, ficou indignado com a representação de prostitutas, coisa agressiva para a época de tabu sexual, e acabei saindo do grupo.

Concluído:

O SESC montou um teatro na Paulista e exibe peças infantis, um dos pontos de discórdia entre o moleque (eu) e o Lineu.  Este só aceitava peças adultas, pois não existiam peças infantis na época. Eu sai, o Lineu saiu, mas a idéia ficou.

O GETAM continua até hoje

O Ramis como disse faleceu, O Turato e o Fernando ainda tenho contato, o Duja e os demais nunca mais tive noticias. Quanto ao Sr Juiz deve estar tentando se adaptar aos novos tempos, isto se ainda estiver vivo.

Nunca mais fiz teatro.






terça-feira, 20 de setembro de 2011

pensamento 28/02/1971

             



Levantar-te-ei,

Colocá-la-ei entre meus braços

E levar-te-ei ao vale,

Ao verde edem,

Que existe no inexistente.

E lá...

Num berço azul

De flores exóticas

Haverá um sonho...

Que belo!

Ah! Branca de Neve

Os animais silvestres te sorrirão.

Ah! Daniel

Teus amigos serão os leões.

E sorrindo,

Sem Laos

Ou diversos tipos de bombas,

Nada além de nos dois,

Um berço azul,

Um paraíso.


PENSAMENTO 03/04/1971



Caminheiro, sou

Do mundo que existe agora.

Em cada canto há um show

E ele é lindo, devora.



Siga! E sigo complacente

As águas, ou revoltas ou sonhadoras,

E sempre há nelas o instante, a mente

Do progredir, do que vem em frente.



Sorrir, Oh! Isto é a condição.

Vai o mundo, sobe a terra,

Há o infinito, a imensidão,



Mas tudo contexto é

Da vida que se enterra

E brota a nossos pés.




segunda-feira, 19 de setembro de 2011

ESPELHO D'ÁGUA - soneto

                








Mira-te nas meigas águas do remanso


E veja, no fundo da águas, na folhagem,


Nós dois juntos, num abraço doce e manso


Qual a leve carícia das ondas, à margem.





Mira-te... e espere até que sopre o vento


E, vejas as águas agora tumultuadas


Numa explosão colossal que causou um beijo


De duas almas cândidas apaixonadas.





Mira-te nos meus olhos, na placidez


Do meu coração e veja nele um retrato


Que tem esta cor rosada de tua tez.





E um brilho límpido, um suave e doce estrato


De seus dois sóis ardentes que podem ver


Dentro de minh’alma o intimo de meu ser.





13/09/1969



DESAMOR

                                    



Perdi o dia

Não encontrei a noite.

É o nada absoluto.

Tentei me achar.



Mas sem dia,

Sem noite,

No nada,

Onde me encontrar?



Perdi-me em teus seios

Cheio de amor.

Não mais achei teu leite

Muito menos teu calor.

Cai no marasmo

De nada encontrar.

Como posso na vida

Ter alguém para amar?



Cai no abismo

Que se chama desilusão.

E por mais que cismo

Não vejo a vida,

Nem mesmo a morte

Só vejo o abismo

Da grande paixão.



08/04/2009

domingo, 18 de setembro de 2011

PENSAMENTO 14/01/1992


                      



O freio

Quem impõe é o cavaleiro.

Não importa a força do parceiro.



O gozo

Quem impõe é o momento

Não importa seja pó ou monumento.



A vida

Quem impõe é o respirar

Não importa correr ou expirar.



Mas...

Quando vem e voltam sentimentos

O que importa é a força viva do tormento.


Primeiro de abril

                          



Hoje é primeiro de abril,

Sabe-se lá por quanto tempo se prolonga.

Nasci vinte dias depois

Será que subtraindo não nasci?



Hoje é primeiro de abril.

Será que toda vida não se juntou

Para fazer brincadeiras?



Hoje é primeiro de abril.

Primeiro... Primeiro dia,

Será que hoje nasci,

Tudo foi mentira,

E só hoje foi verdade?



Hoje é primeiro,

Hoje é abril,

É só um dia

Mas, talvez

Seja uma vida inteira.





01/04/1971

PENSAMENTO 11/09/1999

         



Vou parar de marcar os dias.

Para que contar o tempo?

Cada hora:

É lebre que corre

Pra boca do lobo.



Cada minuto:

É a fila do gado

Na laje do matadouro.



Cada instante:

É o relâmpago

Que alumia o poente,

Queima a arvore no pasto

Nas cinzas do ocaso.

Encobrindo voce.