sábado, 17 de setembro de 2011

INSPIRAÇÃO

                 



Adentrei o campo parcial das formas puras,

Elos de energia emiti,

Eles cresceram, vibraram,

Quebraram a rudeza interior

E todos os plexos tornaram-se harmoniosos.



Por neurônios, dendritos e axônios corri,

Como esqui veloz acariciando as águas,

Foi-se formando em cada célula um instante,

Um, dois, três tempos: explodi!

Tornei-me mais veloz, de ondas vibrantes,

Corri o planeta em luzes

E os raios se espalharam.



Infinitos raios lazer corriam,

Saiam em cores,

Voavam sobre o negro,

Formavam cogumelos

Moldavam-se em tonalidades.



A explosão deixou marcada

A essência das células

E a lembrança do trajeto.

Na obra final

Num tom sé visível

Pelo eu das formas puras

Ficou escrito,

Vibrando como um maçarico

Em plena combustão de oxigênio

A estrutura mui terna

O prédio de nome amor.




Pensamento semi-vida


                         



Quando caírem lágrimas

Chamando à lembrança

As oportunidades do passado,

De tudo aquilo que não realizaste:

Ou por sonhar muito alto,

Ou pro extrema honestidade,

Creia. Cada gota será um troféu

Pelo sacrifício da busca da verdade.

Muito mais chorarias

Se te conformasses com paliativos,

Se acreditasses em semi-sonhos,

Se te se ofuscasses com semi-luzes

E, deixasses que transcorressem seus dias

Em uma semi-vida.





27/10/1969




AMANHECER

                         



No passageiro habitar

De varias essências.

No doce meditar

De varias vidas,

Há a comédia:

Colorida,

Enfeitada,

Enfeitiçada

Que canta cores

No ir e não ir,

Do ser e não ser,

E no não habitar

Há o desejo incompreendido

De percorrer os mares inexplorados

Dos vários amanhecer.





21/04/1971

Aniversario.


SORRIR

                                        



Quero sorrir,

Sorrir da vida.

AH! AH! AH!

Como é bom dar uma risada.

Rir da dor.

Gargalhar.

Desafiá-la.

AH! AH! AH!

Como ela se encolhe,

Tem medo.

Medo de me desafiar,

Quando sorrio.

Mas tenta,

Rio apenas.

Ela cambaleia.

Dou uma gargalhada,

Ela vai embora...

Embora...

De moral baixa.

Perdeu a batalha,

Sorrio

AH! AH! AH!



18/01/1971

PLÁSTICA

            





Estica...

Enruga...

Estica...

Enruga...

Não tinha forma.

Se formou.

Esticou.

Vieram as rugas.

Estica...

Enruga...

Estica...

Enruga...

Era feto

Virou moço

E depois as rugas

Estica...

Enruga...

Estica...

No fim

Montão de ossos.





24/01/1976


INCERTEZA


                        



Não foi preciso dizer nada.

Você veio,

Eu sorri.

Tudo se fez bonito.

Nada foi dito,

Tudo foi sentido:

Certeza do amor,

Espera do constante.

A espera.

Novamente você veio.

Nada foi dito,

Tudo foi sentido.

No inicio a esperança,

No final a certeza.

A certeza do final,

Certeza do impossível.


PRISÃO

                             



Zig-zag...

Zás-tras...

Azul procurado

No negro

Não veio.



Mais negro!



Relance!



Ra-tá-tá,

Bateria bem cinza,

Enegrecida,

Absinto de escura concepção.

L.S.D.

Faminto de coração

Pa-ra-ti-bum

Bum bum.

Prisão.





24/08/1970

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

ACROSTICO

                                



Poderei correr o infinito,

Ouvir as cousas doutras plagas,

Serei servo, senhor e rei.

Serei ovelha lobo e pastor.

Ou nada serei, apenas

Terei toadas e cantigas.

Os cantos nostálgicos.

Morrerei e ressuscitarei

A quantas vezes forem necessárias.

Rirei e chorarei

Marcarei a vida na cadencia,

A cadencia do sonhar.

Infinita e bela.

Serei teu, apenas teu.

Um átomo todo teu

Mas...

?Mais uma?





25/12/1972










decepção

                                



Virou a cabeça

Espichou os olhos,

Pra poder espiar

A morena tom veneno

Que passava a rebolar.



Deu meia volta,

Ficou parado

E se pos a pensar

Esta morena

Me faz tarado.

Posso até gamar.



Hexitou, deu um passo,

Começou a correr...

Pra alcançar

A morena veneno

Que ia a frente a rebolar.



Chegou perto.

Quis falar, sentiu o cupido.

Gaguejou.

A morena num sorriso

Se explicou:

-Por trinta eu vou.





10/02/1971











,

MUDEZ

                                   



Eremita forçado pelo destino,

Seguindo em sombra, na ânsia da procura,

Nos vultos negros [disformes abantesmas]

Tento em vão achar cativo,

A cor, no meio da manta escura

Que se arrasta ao céu, como amorfas lesmas.



No meio da solidão que lhe agita,

Em gritos surdos e ecos inexistentes,

Olha-se introspectivo, prosta-se e chora,

Vê que a solidão que esconde, crepita

Na necessidade de ser, de falar e ardente

No peito surdo queima gritando e apavora.



Um jogo de xadrez monótono. Hesita!

Pião casa por casa, ataca timidamente,

É lento o passo, cada jogada demora

O tempo exato para alimentar a dor que habita

Na inconstância da jogada á frente,

Como bomba que nem jogada estoura



Bispos e cavalos, correndo ao vivo

Nas casas brancas e pretas [ventura e desventura ]

Não se juntam. Está longe, incomunicável pena,

Que no balé saltado, perdido, esquivo

Saíram da melodia e numa só nota, numa figura

É um todo, sendo solitários apenas.



09/06/1970


ENGANO

Já saiu

Teu nome nos sonhos,

Já correu

Tua voz nas coisas cotidianas.

Já existiu

Teu ser

Nos momentos que eram vida.



Oh! Foste completa,

E completa tiveste

A ironia

E a bondade.



Completa tiveste

O amor

E o ódio.

Exististes completas

No bem e na maldade,

Nas coisas da vida,

Chorastes depois.





25/10/72

CINCO ESPUMAS


                          



Cinco espumas

E um copo de Brahma

Caiu no terreiro

E o sonho: O parceiro,

Saiu pra pensar.

Pra buscar entre os ecos

Um sonho concreto,

Um tema de amor,

Para o amor desculpar.

A vida, a tristeza,

A beleza de ser ou partir,

Não sorrir pro chorar.

E num riso o louco

Deixou por tão pouco

Sorrir e chorar.


quinta-feira, 15 de setembro de 2011

TE VI



Quero sentar no tempo,

Cavalgá-lo.

Deixar que ele me leve

Para onde quiser.

Que me leve ao reino das sombras

Ou aos braços de uma mulher.



Quero voar no tempo.

Lado a lado, disputando,

Quero ver se integrado

Nas sombras dos sonhos:

-Do sonho do tempo,

Eu possa sonhar.



Quero montar no tempo

Domá-lo.

Vencê-lo.

Quero correr com o tempo

Aos sonhos de uma mulher.



06/07/1972

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O MUNDO PERDEU A POESIA

Vi o onze de setembro me locomovendo de um emprego a outro, no Metro Tatuapé, em São Paulo. As imagens na televisão, entre ficção e realidade, eram para mim um amontoado confuso de fotos, sem nenhuma conclusão possível.



Passado uma década, com muita desorganização, muitas guerras e suas mortes, com execuções de suspeitos, conseguiram entender hoje que a poesia fez uma pausa, não só por culpa do governo americano. Mas o que todos não entenderam os terroristas já haviam entendido ao atacar o maior símbolo da tecnologia moderna.



O mundo na visão de um poeta sonhando através do povo é um tecido coeso, onde cada fiação suporta a outra e todas se completam. O mundo é de pessoas. Os valores foram agregados ao meio social pelo aumento do numero de participantes, de modo que a vida instintiva [que possivelmente seja realmente o ser que gera a poesia] teve de se especializar, forçando a cada um a exercer uma função, a fim de que seu tecido não ficasse roto. Do grupo primitivo, dito irracional onde o líder (macho ou fêmea) centralizava o poder gerando daí uma hierarquia, começou a se ampliar com o controle do fogo (ainda éramos canibais conforme atesta o Homem de Pequim nas descobertas da arqueologia) Com o uso de ferramentas, começando pela pedra lascada e seguindo-se em progressão geométrica, outros utensílios que possibilitassem a melhor sobrevivência do homem ao ambiente, compreendido pela alimentação, fixação ao meio e reprodução. O Instinto básico, reiteradamente negado pelo nosso etnocentrismo, está oculto nos valores de uma nação. A nação tem seus símbolos: O Brasão a bandeira e seu hino que exalta seu território. Seu brasão inclui um grão que é o alimento e seu povo simbolizado, ou seja, reprodução, o Hino Nacional exalta a terra e o povo.



Os pontos citado, ou seja, fixação, alimento e reprodução representam a sobrevivência de cada ser vivo, o que em nossa sociedade chamamos de auto-estima representando: a terra, ou seja, seu sustento, seu país com sua fixação ao solo e sua família que é fruto reprodução. Tanto a Nação como a família, olhando-se deste ponto, tem idêntica formação, e não poderia ser diferente. Reforço:- mesmo com a reprovação dos que se julgam superiores aos animais, nossa formação é instintiva. Creio que o instinto é a linha ao redor da qual se forma a sociedade.



Ao atacar os edifícios foi atingida a ordem social de modo demolidor. A sociedade americana nesta ocasião já clamava por algumas mudanças, sempre adiadas conforme o esquema capitalista que espera-se o clamor popular para se realizar tímidas respostas, sempre insuficiente aos anseios mas, com função paliativa com resultados a curto prazo. Tinha se imposto, para adiar as reformas desejadas a Tolerância Zero. Havia perseguição velada aos imigrantes que vinha se demonstrar ostensivamente na fronteira do México. A criminalidade já seguia de forma crescente. Tais medidas, inócuas apenas coíbem a marginalidade não resolvendo o problema social que a desencadeou; a vigilância se estendendo a todos os cidadãos coloca indistintamente todos como igualmente culpados. Inseguros os mesmos vão procurar andar sob as câmeras de vigilância colocadas em todos os pontos turísticos e onde as estatísticas revelam maior risco, num teor de absurdo onde protegidos pela vigilância tentam andar escondidos da lei que os acusa no imaginário kafkaneamente. Medidas agressivas sem anteparo social atestam a incapacidade do Estado. A auto-estima já estava portanto lesionada.



Partindo-se do ponto de vista que a sociedade sempre busca uma ordem possível entre a desordem da natureza, e que a sociedade americana, sujeita a ciclones, tornados e furacões o equilíbrio conseguido foi através de sofrimento, já que a natureza, apesar de toda tecnologia, não costuma avisar e quando avisado não se sabe a intensidade que virá o fenômeno, uma agressão inesperada a auto estima é um fator de adoecimento a ser devidamente tratado.



Obviamente a sociedade passa por um período de encubação, igual a nosso organismo, o que não poderia ser diferente: os dois são interligados. Este organismo social tende a manter uma Constancia. O Maximo de homeostase possível antes de enfrentar a doença franca ou a desordem



Uma medida tinha que ser programada de imediato. Mas qual?



A agressão tem que ser esclarecida, tem que se mostrar que não se repetirá, ou seja, é um fato isolado e que se houver possibilidade de repetição que o preparo para a situação já está montado. Que o inimigo é conhecido e que sua ação é controlável. Concomitantemente temos que imobilizar o agressor e deixá-lo definitivamente sem ação. Mas o simples esclarecimento começaria a reequilibrar a situação.



Não foi o que aconteceu: ao invés de se optar pela práxis social a super estimação da técnica prevaleceu aliada aos interesses das indústrias de armas e de petróleo visando lucro com o desequilíbrio. Acreditando que a superioridade suas máquinas de guerra iniciaram uma luta oculta a um inimigo surrealista, residente em lugar algum com rostos cobertos e comandados por um líder milionário que fazia Shopping em cavernas e se ocultava em baixo da terra, quadro mais parecido com um desenho do HE MAN. Convém lembrar que a sociedade já dividida em amigos e inimigos e considerando os cidadãos não pessoas, mas consumidores e os soldados inimigos ETs não se dignando nem lhes dar a condição de pessoas.



Conforme acompanhamos nas manchetes: Derrubaram-se tantos acampamentos, ou abateram-se um numero x de tanques vemos que em tal relato não há pessoas, pois as mesmas já se encontram incluídas como peças das maquinas ou esconderijos. Neste delírio, onde o mando absoluto do Capital começou a ser sentido com toda sua intensidade. Os cidadãos alem de perderem o que lhe restava de amparo, - só lembrando que nos centros maiores cada americano não mais hasteava sua bandeira Nacional pela manhã como sempre foi seu hábito e para agravar, não conseguia reunir a família e agradecer o Senhor em cada refeição devido a luta pela sobrevivência e a sociedade atual não mais garantia a segurança de um emprego estável.



Há 50 anos, ou pouco menos, um trabalhador de um serviço não qualificado conseguia no final da vida ter sua casa, seu plano de saúde e o mais importante ter aceitação e reconhecimento social – Passaram de pessoas a consumidores e além de Deus já morto em mil e novecentos o homem como ser atuante entrava em agonia. Mas a Técnica predominou e a práxis foi mais uma vez esquecida e junto com ela a angustia que foi se acumulando nos vários extratos sociais. Um grande fator de desordem é uma agravante considerável, necessitando de tratamento de urgência.



Logicamente uma sociedade de consumo, onde seu pleno desempenho depende da confiança do consumidor, na ausência deste o capital desaba. Numa reação paradoxal, visando manter um lucro impossível, aumentou as manobras fictícias e ilegais de controle social desorientando o sistema, refletindo na população onde a sensação de desamparo se torna palpável. Isto gerou a quebra de 2008 onde, a guisa de manter o sistema, executou títulos e hipotecas deixando a população literalmente ao desamparo sem saúde e moradia.



Neste ambiente belicoso, onde o numero de vidas perdidas só a história nos poderá dizer. Mataram Bin Laden, em circunstâncias não explicadas. Não apresentaram o cadáver ou funeral, como que se o diabo tivesse virado fumaça podendo aparecer em qualquer lugar em novo ataque. Perdeu-se a oportunidade de iniciar uma catarse e um luto, o perigo passando mesmo com as lesões forma-se um novo equilíbrio e conseqüentemente fechar a ferida.



Hoje a sociedade continua sem alicerce de sua auto-estima O alimento, lugar seguro e reprodução atingiram os países que gravitam em torno dos EUA, que sem o referencial do líder econômico entraram em grave crise econômica e social. A fome e o desemprego aumentam pelo mundo todo. Os grupos radicais começam a ter voz política dentro e fora dos Estados Unidos confundindo mais a situação. Veja como o Tea Party dificultou recentemente o acerto dos compromissos dos EEUU gerando mais incertezas. Este grupo radical, onde a maioria de seus membros, por exemplo, não crê em aquecimento global, aumentou sua força com o desencontro do capital confiando na técnica e os desejos reais da sociedade excluída clamando por bom senso. A indefinição promove a volta do que mais lhe lembra o antigo, sendo a solução já abandonada vista ilusoriamente como solução para a população desamparada. A sociedade não tem meios de projetar no futuro um fator que a reequilibre; deste modo retrocede ao passado sem se dar conta que o sistema anterior, em franco declínio foi quem levou a situação atual, e ainda mais, também sendo atingido pelo descontrole que ele só enxerga na perda do lucro monetário, este radicalismo aliado a seu Deus do tecnicismo e do lucro, só pode trabalhar com soluções radicais, piores do que aquela que favoreceram os atentados desestabilizantes..



Ignorando todos os sociólogos e filósofos competentes disponíveis em suas Universidades, neste novo aniversário continuam os lideres americanos a regar a ferida com vinagre, e não se dão conta que o defunto não está enterrado e não se vivencia o luto necessário.


DESAFIO

No desfiladeiro da emboscada

Vão os dias caminhando.

As pedras desafiam os dias.

As rochas em posição de bote

Perscrutam a vida em posição de guerra.



Um...

Dois...

Um...

Dois...

Vento sopra.

Nuvens correm.

Cai poeira.

Poeira das pedras.

Levanta poeira

Dos pés que andam.



Um...

Dois...

Um...

Dois...

Vai!

Vem!

Continuam os dias andando,

E o desfiladeiro da emboscada

Tremendo em ininterrupto desafio.





27/09/1970