sábado, 19 de novembro de 2011

OLHOS INTERNOS.






Nos meus olhos internos vejo:

O mundo infinito ao cair da tarde,

Juventude solta. Revolução

Alegre em risos. Mais de mil alardes

Revoando entre astros, nos espaços

Harmoniosos de um jovem coração.



Nos meus olhos internos vejo:

Os olhos da vida que cegos ardem

Indiferentes. As evoluções

Correndo livres soltas, no Edem

Dos amantes. Vivas ebulições

Refletindo um arco de lampejos.



Nos meus olhos internos vejo:

O bailado inebriante do amor,

Teu corpo ao meu. Mavioso uníssono

Deste som dos astros vivos, fulgor

No compasso da melodias dos sinos

Que tocam docemente em nossos beijos.



Nos meus olhos internos vejo:

Um verdejante Oasis. Sem o louco

Mundo. Alheio, somente contigo

Satisfaço a todos meus desejos

Tendo apenas a ti como abrigo.



Pena que dure tão pouco!












solitário



Buraco.

Macaco

Que cai,

Que corre

E escorre

No vai e vem

Que foi,

Depois

Do partir,



E ao sorver,

Na paixão,

Caiu:

No tumulo,

No sonho,

No imenso

Da escuridão.


BALBÚRDIA.





Num deserto

Voando a todas as asas,

Em busca do verde,

Uma pomba encontra

O azul do mar...

A água é salgada.

O deserto é seco.

Seguir?

Voltar?



E, a onda bate na praia...

E, o azul caminha...

É estrada que vai,

Mas não se sabe se leva.

E corre...

É espuma.

Espuma do sonho verde,

Espuma que é de água.

De água que não se bebe.





29/06/1970




quinta-feira, 17 de novembro de 2011

PENSAMENTO.






Desejo é querer o que se conhece, mas não se tem.

O desconhecido só pode despertar curiosidade.

DIÁLOGO COM A SAUDADE.






Quando no crepúsculo

O ar cinza avermelhado

Toca a música das cores da saudade.

Ela vem meiga, flutuando,

Vem bailando, como se bailasse a valsa maviosa

Que fala aos corações partidos

Dos momentos felizes, que tiveram duração efêmera

E foram apagados pela escuridão.



Saudade! Tu és doce, porém.

És corolário. És afirmação correta

De que a busca deve continuar,

Pois o tesouro já foi avistado.



Saudade! És o incentivo a busca íntima.

És demonstração de alegria

Nem que esta tenha durado segundos.



Saudade! Não quero buscar

De modo algum, por teu intermédio

Fatos idênticos aos que passaram,

Estes não mais voltarão,

Mas guardo-te, guardo-te sorrindo,

Guardo-te ardentemente,

Pois és a certeza

Que o amor existe.





22/05/1969






ECOS.




Vai!

Partem as sombras dos ecos

No original silêncio.

Solidão!

Há tanta dúvida

Que a procura apenas tateia.

Indaga:

Tudo que corre

Talvez esteja parado.

Quem sabe?

O mundo vai...

Porque vai.

Apenas.


quarta-feira, 16 de novembro de 2011

FÉRIAS EM ARARAQUARA.





Por três anos, após nascimento de minha única irmã, quando tinha oito anos, fui despachado nas férias para casa de Tio Dante em Araraquara. Era sempre no inicio do ano após as festas. Parava o caminhão, meu tio tinha dois, o motorista me levava de férias. Gostava já de inicio da viajem. Tinha uma parada obrigatória num restaurante à beira da estrada, onde o motorista almoçava e eu comia um sanduíche de churrasco com queijo. Mas a fatia de queijo tinha quase um centímetro, em casa não conhecia esta fartura.

Na casa de meus tios jogava bola como em São Paulo, só mudavam os jogadores, comia muito bem; Tia Nena levantava antes de todo mundo para começar o almoço, passava o dia na cozinha e era a ultima ao deitar. Quem me vigiava era Terezinha, minha prima bem mais velha, de quem sempre gostei muito. Tinha a prima Vera mais nova e o Carlinhos, da minha idade, com quem brincava.

Destas viagens guardo duas boas lembranças. Minha mãe achava que criança não tinha frio. Naquele tempo se usava calça curta. São Paulo sempre fez frio e tinha de agüentar. Os outros alunos começaram a usar calças compridas e eu passava frio. Naquele ano era o único aluno da classe que não tinha calças de adulto, como se dizia na época. Meu tio percebeu a situação e arrumou uma costureira. Com uma calça do Carlinhos fez duas calças cor caqui para mim. Lembro até hoje minha alegria.

Mas o que marcou mesmo foi a farmácia. A casa de meu tio era na esquina da Feijó. Tinha um terraço pequeno onde todos sentavam. Em frente tinha o armazém e vendia sorvetes, lá faz um calor danado. Na outra esquina o quintal murado de uma casa e na faltante a referida farmácia. O farmacêutico, muito respeitado na cidade tinha grande freguesia. Entre os clientes, parava a tarde uma charrete e desciam sempre uma moça bonita. Cada dia a moça era diferente, mas a beleza continuava. Para um moleque chamava atenção.

Carlinhos contou que eram mulheres da Zona. Toda molecada ficava esperando as moças bonitas descerem da charrete. Na época sexo era tabu. Em famílias descendentes de Europeus católicos, como a nossa, era proibido até citar a palavra.

Claro que a molecada fazia fantasias e teorias próprias. Achávamos que a mulher quando casava e fazia sexo, [antes do casamento para nós não existia este ato imoral], o quadril alargava e começava a andar com as pernas mais abertas. As moças “faladas” pela família eram atentamente olhadas pelo traseiro, para ver indícios. As fantasias rolavam soltas. Mas, Zona? Os do interior não estranhavam, mesmo não entendendo direito. Mas para um paulistano, era alguma coisa inacessível ao imaginário. Não dava nem para pensar. Só sabia que as lindas mulheres, bem vestidas iam tomar injeção, eram da tal zona e o farmacêutico é que aplicava. Ela abaixava a calcinha e ele ia ver tudo. Sem roupa a moça tão inacessível! Morria de inveja. Não tinha dados para viajar muito mais longe. Mas a excitação era muito grande.

Com o tempo parei de ir às férias para lá. Cada um da família tomou seu rumo. Nada especial. A farmácia hoje é uma grande rede, creio que não foi por causa das moças bonitas, bem vestidas, que iam tomar injeção.

pensamento democracia.




Comprei dois celulares

Para falar comigo mesmo.



Só assim poderei dialogar.

Quero falar com a voz interna

Dizer-lhe:- Pare de me recriminar!

Quero colocá-la em seu devido lugar.

Refazer dentro de mim a democracia

Clareando meu pensar.





19/11/2010

BUCOLICO.





Aguardo alguém na praça.

É ampla. Duas árvores mortas,

Uma doente. Outra mal tratada.

O mato crescido. Os bancos destruídos.

Aguardo na praça.



Dois jovens curtem o fazer nada

Chega outro. Sai outro de uma casa.

Casa da praça. Acendem o baseado

Começam conversar.

Está chovendo. Conversam

Curtem o baseado sob a chuva.



De outra casa sai uma senhora.

Guarda chuva e sacola. Vai as compras?

Não dá atenção aos jovens.

Sai outro jovem. Fumando cigarro

Permitido. Este vai trabalhar.



Dois beija-flores, casal suponho

Bem grandes namoram.

Dão trombadas no ar.

Estranho namoro sobre as arvores

Desfalecidas

Bem em baixo Um grande cão

Esta fazendo suas necessidades

Sem latir.

Chegou quem espero.

Saio da praça.





11/10/10




IR EMBORA.





Está na hora de ir embora.

Nada abala meu modo de ser.

A vida que dizem: consola

Não é a mola de meu viver.



Caminho pelo mundo

Procurando o que encontrar

Não sei qual, no fundo

 Não quero me encostar.



Se for para ser alheio

Poderei me mistificar,

Mas não vou a teu encontro

Para não me machucar.


terça-feira, 15 de novembro de 2011

FERIADO EM PRAIA GRANDE






Tudo começou com o porteiro do prédio. O zelador reclamou que não viajava e João, o porteiro se indignou: - Se guardar um real por dia, no fim de um ano tem trezentos e sessenta e cinco. Dá para pagar o ônibus e dois dias de pensão na praia.

Achei que tinha razão. Estávamos nos anos noventa e o dinheiro estava curto em geral. Cheguei ao Hospital Cristo Rei, a Marina fazia a mesma queixa. Retransmiti a idéia.

Marina, de mais de 40 anos, solteira, foi falar com Julia, com o mesmo perfil. Julia entendia de contas. Trabalhava na contabilidade.

Confabularam, confabularam, o Hospital e seu plano de saúde empregavam mais de 50 moças, a maioria solteira ou descasada, sem dinheiro. O pagamento além de pouco, muito atrasava. Reuniram-se e resolveram viajar nos Finados. Começaram a viabilizar a viagem. Primeiro arrumaram com um cliente um Kitinet na Praia Grande, por um preço realmente barato. A seguir conseguiu, com um conhecido de Ana, outra funcionária, uma Van com onze lugares. Este rapaz fazia lotação em São Paulo e deixava a família no Litoral, só pagariam o pedágio e a gasolina. Faltavam 120 dias. Selecionaram as outras oito que participariam, fizeram os cálculos. Começaram os preparativos e a economia. Um real por dia. Fora os gastos pessoais.

Como as vaidades não podiam ser desprezadas, todas, mulheres desimpedidas, a economia teve que aumentar. Cortaram meio almoço. Começaram a pegar cinco marmitex, no quilo em frente, onde as seis comeriam. À tarde passariam a andar a pé até o ponto, dispensando a interligação do Metrô. Economia de uma passagem. Para tanto começaram a deixar os sapatos de salto, que eram obrigadas a usar, na seção e se locomover de sapatilhas.

As roupas normais para viagem compraram no Brás, perto do serviço. Já a de praia, a viseira, o chinelo, a toalha colorida foi comprada em uma fábrica que descobriram. São Paulo é ruim de artigos de praia.  Como a roupa de banho foi adquirida em um só local; em um sábado, as onze, dirigiram-se em bando a fábrica, para não sair igual a um “par de vasos”.

Chegou o finados. Saíram conforme o combinado. A estrada estava cheia. Três horas de congestionamento. Perderam o sol da manhã. Comeram alguma coisa que haviam trazido e foram para praia. Era meio dia.

Voltaram ao por do sol. O bronzeador não protegeu. As paulistanas, branco leitosas, após anos sem tomar nenhum raio de sol, estavam vermelhas que nem camarão, ardendo e doidas. Passaram Nívea, Leite de Magnésia. Deu certa aliviada e foram dividir os três beliches, em onze pessoas. Lógico, sobraram cinco que teriam que se acomodar no chão. Escolheram as menos queimadas para as camas. Ia doer muito no chão.

Dia seguinte, após longa fila da padaria, tomaram café e desceram. O tempo já ameaçava chuva. Ainda dava para ficar na praia. Serviram a caipirinha que tinham preparado. O Paulistano acredita não se sabe por que, que a bebida alcoólica não sobe nem faz efeito no Litoral, e se não beberem, não foram à praia. Tomavam o aperitivo começou a chover. Estavam salgadas e com areia, foram fazer o rodízio do banho.

Estava Rose, a terceira a tomar banho, acabou a água. O litoral não estava preparado para muita gente na temporada. Além das filas em tudo que fosse adquirir, faltava água e ocasionalmente luz.

 Foram falar com o Zelador, que fazia tudo no prédio, ele indicou a construção vizinha que a caixa d’água não era usada. Daria para pegar alguns baldes de água de emergência. Não muitos, pois os outros apartamentos também usavam. O zelador tinha balde para a emergência. Tomaram banho de gato e restringiram o líquido para alimentação, lavar a louça e limpar a privada, senão não agüentariam o cheiro.

A pele ardia mais no dia seguinte, continuava chovendo, foram buscar a água. Tinha acabado a luz também. Cinco andares de escada, no escuro, carregando balde. Ficaram se distraindo como puderam no apertado apartamento.

Dia seguinte. Hora marcada, pegaram a estrada, ainda congestionada e foram deixadas no Metrô em São Paulo. Acabara a viagem.

Na segunda feira contavam a Marta, que não pode ir, a viagem e esta falava:- Na próxima vou junto se tiver desistência.


PENSAMENTO






O homem se agrupa em sociedade para facilitar sua existência.

O homem não gosta de trabalhar.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

EXERCER MEDICINA.









Em final de dezembro de setenta e quatro recebi meu diploma. Já era médico, faltava ainda reconhecer o cartucho, mas por direito já era um profissional. Comemorei com parentes e amigos e, dia seguinte, fui iniciar meu oficio em Irapuru, cidade pequena e simpática da Alta Paulista, onde tinha combinado se houvesse adaptação, ficar como médico.

Logo cedo me desloquei, a cidade ficava cerca de duzentos quilômetros de Marília, onde morava, junto com Ana, minha esposa, e nosso filho Rodrigo de quatro meses. O dia estava nublado e chuvoso, o que em muito aumentava a ansiedade de iniciante. Agora era por minha conta, não mais havia professor ou preceptor responsável. Achava-me bem preparado. O curso era excelente. No tempo disponível tinha me dedicado ao máximo, lido tudo que podia, vi todos doentes internados, isto apesar de lecionar a noite para manter as despesas. Ana também lecionava

 Era à hora da verdade: tinha de manter a família e ainda pagar uma parte que devia a Faculdade, de mensalidades atrasadas.

Irapuru era bem pequena. A parte central bem arrumada, com asfalto, seguia a uma periferia mais pobre, de casas mais humildes, a seguir a zona rural. Nesta época predominava o café e algum gado. A cultura de café, devido à área muito grande de plantio, forçava contratos de parceria para tocar a lavoura, o mais comum era o meeiro; Isto tornava a região com bom poder aquisitivo, aliás, como era toda Alta Paulista na época.

Dirigi-me, já na cidade, ao Hospital. Ficava um pouco afastado do centro. Como a terra estava molhada, o fusca que dirigia não subiu a ladeira que dava o acesso mais curto. Tive que dar uma volta. O Hospital era amplo, havia uma enfermaria para gestantes, duas para clinica e cirurgia e quatro amplos apartamentos, um tanto exagerados, perto de trinta metros cada um, com armário embutido e banheiro. Tinha um Raio X com um aparelho de baixa potencia, os postinhos de enfermagem e a recepção. Mais um espaço para laboratório, não existia previsão de instalação e funcionamento. Ao lado da recepção estavam as duas salas de consulta e a seguir o centro cirúrgico-obstétrico, adequados para o trabalho.

Estavam esperando oito pacientes, todos particulares. Sempre há curiosidade de conhecer o médico que se propunha mudar para o município. Dr. Arnold o médico que eventualmente dava consulta ali, era morador de Pacaembu, cidade vizinha,

Arnold não havia chegado. Fiz meu primeiro dia coincidir com o que ele atendia. Estavam marcada três cirurgias, todas de pequeno porte, a cidade não comportava cirurgias maiores. E também não conseguiria fazê-las.

Almocei no Hospital, Dr. Arnold chegou.

No meio da tarde apareceu um fazendeiro da região, o Sr Yoshie cujo pai idoso morrera na fazenda. Tinha de se verificar o óbito. Não havia medicina legal na região. O colega falou: - Vá Antonio e eu fico operando com a enfermeira.

Como ainda não tinha saído meu CRM ele teria que assinar. Após recomendações de verificar se realmente a morte foi natural, deixou um impresso preparado com sua assinatura para quando retornasse da fazenda.

Atendi mais alguns doentes, e segui para a verificação. A sede ficava cerca de duas horas distantes. Segui no carro da família, uma perua confortável.  Yoshie, o filho e motorista pouco me informou do acontecido, apenas disse que o pai já idoso há muito se encontrava restrito ao leito e morrera após almoçar.

Começava entardecer, continuava nublado e escuro o final do dia Após alguns minutos de asfalto pegamos uma da estrada de terra e logo depois começamos a atravessar pastos, e abrir e fechar porteiras.

 A região era infestada de corujas que voavam quando o carro passava. Pequenas corujas, típicas de pasto, onde fazem toca. Paulistano, nunca tinha visto corujas soltas, lembro que quando adolescente, morreu o avô de um amigo e culparam a coruja que tinha cantado na janela do mesmo, esta superstição abrangia todo meu conhecimento.

Chegamos à sede, já escuro. Era um ancião, todo retorcido por uma artrite deformante, emagrecido, aparentemente era morte normal. Verifiquei os pulsos e batimentos cardíacos, ausentes, o que era desnecessário, pois o senhor já estava rígido. Sempre há uma insegurança para se atestar morte.

Retornávamos. Yoshie condoído pouco falava, a chuva caia e as corujas voavam com a luz do farol. Pensei comigo: - Meu inicio parece um filme de terror. Tinha visto muita morte na faculdade, mas nenhuma como esta. Mesmo na epidemia de meningite, onde fiz dois estágios no Emilio Ribas, vi crianças dolorosamente morrer, vi adultos morrerem seguidamente, mas eu não era o ator. Sempre havia alguém responsável acima de mim. Era ele que tomava a conduta, se responsabilizava pela medicação e também pela morte. Compreendi que, mesmo estagiário, não passava de um voluntário que participava, mas não pertencia realmente. Agora, este senhor falecido sem meus cuidados, apenas fui atestar sua passagem, era realmente alguém que me tocava, constatei a não vida, confortei mesmo sem traquejo a família, preencheria o atestado. Era, na noite escura, meu primeiro paciente real, mesmo já partido. Maneira estranha de se conscientizar da responsabilidade.

Chegamos ao Hospital, fornecido o documento, cobrado conforme o costume local, Arnold já tinha orientado a recepcionista de quanto cobrar, mesmo não sendo para ele,

Atendi mais duas ou três consultas. Peguei a féria no caixa e me recolhi ao apartamento.





                                                   II



                                 O SONO





Tomei banho. Vesti-me e corri o hospital, só tinha três ou quatro funcionárias, não havia doentes internados pela falta de médico. Lá fora tudo escuro, fiquei inseguro, poderia aparecer um parto complicado. Parto simples o pessoal tinha prática, sempre fizeram, mas com ocorrência, não havia ambulância na cidade, tinha ido não sei aonde; e se aparecesse um baleado ou um acidente. O que faria? Temeroso, recolhi-me ao quarto.

Após estar de pijamas, contei o dinheiro. Era muito, mais que um mês de trabalho da família, naquela hora era uma fortuna. O Hospital era isolado, só eu de homem, tudo escuro. Muito escuro lá fora, nenhum ponto de referencia. E, se aparecesse um ladrão?

Comecei a abrir os armários para ver algum local seguro. Ocorreu-me que se guardasse um pouco do dinheiro, bem pouco, no meu bolso e escondesse o restante o imaginário ladrão seria enganado.

Se dormisse de luz acesa este possível ladrão poderia ficar com medo.

Passei a noite de luz acesa, deitando e levantando procurando um lugar seguro para o dinheiro que ganhei. Logo eu, que sempre fui desprendido de dinheiro e mesmo em situações muito adversas sempre dei um jeito. Mas, o dinheiro tornava-se muito importante naquela hora; tinha um filho pequeno, com gastos e faltando bastante coisa. Estava na casa do sogro, o que no momento era necessário, já que a Ana estava acabando também a faculdade de Sociologia. No ano seguinte era obrigatório que tivéssemos nossa casa e independência.

Entre análises sobre a vida, sobre o roubo possível e o valor do dinheiro. Isto somado a meu debute com a morte, à noite e as fúnebres corujas. Com a luz acesa e o dinheiro escondido, não dormi.

Pela manhã atendi mais alguns doentes e fiquei de voltar em três dias. Retornei ao lar.





                                                    III

                        

                       

                                           O SUPER MERCADO.



Na viagem de retorno vinha com um misto de euforia e dúvida. Poderia ganhar muito dinheiro. Todos os médicos que aceitaram a região tinham sua fazenda, bom saldo bancário, alguns inclusive entraram para a política.  Alguns conseguiram ser prefeito e até deputado. De outro lado, ficaria isolado, com poucas oportunidades de evoluir na profissão. A Ana no máximo conseguiria ser professorinha, não valendo de nada sua faculdade.

A morte ainda me impressionava muito. Realmente a experiência foi traumatizante. Cheguei a Marília. Adiei o assunto.

O almoço estava pronto. Fizemos a refeição. Fomos ao Super Mercado. A dispensa estava bem debilitada. Fiquei alegre. Encontramos um carrinho de bebe, Rodrigo ainda não tinha. Este carrinho tinha adaptado um bebe conforto. Era super moderno. Ana imediatamente colocou Rodrigo no carrinho, braços estavam doloridos, sempre foi um garoto forte.

Ao pagamos a conta, percebi que estava menor do que esperava. Ao conferir, constatei: - Não tinha sido cobrado o carrinho, onde Rodrigo brincava alegremente. Sempre foi uma criança alegre. Pedi que incluísse.

 Paguei e fui dormir.