Deu-me vontade de falar,
Contar ao mundo que a vida
É bólido em disparada
Rumo a uma reta final
Ansiando a láurea xadrez
De preto e branco, a chegada
Aonde já fora partida.
Deu-me vontade de falar
Contar que a vida é flor efêmera
Que o colibri beija buscando
Absorver o amor que a compõe.
E quando murcha, ao ali passar,
Lembrará o colibri o perfume
Sonhando beijar nova flor.
Deu-me vontade de falar,
Contar que a vida é fuligem das fábricas.
(Fumaça espavorida enchendo o ar
E nas correntes se dissipando.)
Mas, voltando na primeira chuva
Ao chão se sedimentar solidamente,
Retornando a terra o que dela era.
Deu-me vontade de falar
Contar que a vida é um sonho e pesadelo
Mal balanceado. Mas vencendo, o sonho
De cada aurora a cada poente rima
Trazendo nas vivas cores do arco-íris
Os louros mais brilhantes da vitória
Sobre a fria e turbulenta tempestade.
19/09/1968