quinta-feira, 10 de setembro de 2015

O FISCAL LADRÃO

O FISCAL LADRÃO
Imagem Google

Severino, sujeito pacato com quarenta anos, casado, três filhos, passou no concurso de fiscal da Prefeitura de Quebra Galho. Apesar de receoso dada a fama que corria na cidade onde se atribuía a todos fiscais roubarem e ”comerem bola” das construções e reformas do local, ficou contente. Estava há dois anos desempregado e a pequena reserva que possuía, herança da casa da família, já tinha se acabado e vivia de bicos. Dizia:
- Se todos roubam, o que não acredito, não vou roubar. Não quero que meus filhos tenham um pai ladrão e, não foi isso que prometi para minha falecida mãe junto a imagem de Nossa Senhora.
Começou a visitar a mais remota periferia. Esperava diariamente um ônibus que chegava a demorar uma hora, aliás não havia horário estabelecido para o mesmo, apesar de constar no papel. Com ou sem chuva vistoriava todas obras da região que lhe fora determinada sem pensar em se corromper.
A chefia, bem como o vereador Zé da Trancas e os colegas de início insinuavam sobre a cobrança por fora do serviço e o jeitinho para coisas irregulares. Ele fazia que não entendia e continuava trabalhando honestamente. É que existia uma caixinha que era dividida entre todos, achavam que Severino os estava roubando.
Com um salário fixo logo conseguiu que a vizinha tomasse conta de seus filhos mediante duzentos reais mensais, o que liberou a esposa para trabalhar na padaria perto da casa ganhando mil e duzentos, mais a cesta básica. A qualidade de vida melhorou muito. Continuava devoto de Nossa Senhora, ia as missas no domingo e levava os filhos já que a esposa trabalhava no horário.
Os novos colegas continuavam a olhar desconfiados, faziam insinuações ora indiretas, ora não tão indiretas assim, mas ele continuava em sua vidinha e suas convicções.
Os locais onde fiscalizava era visto com bons olhos por uns, dada sua honestidade, porém xingado pela maioria que queria burlar as normas da prefeitura de Quebra Galho.
Um ano depois comprou um carro usado e financiado, não muito novo, mas em bom estado, escolhido com capricho. Teria melhor deslocamento, melhoraria seu trabalho e a assistência a família. Nunca imaginou tantos transtornos.
Assim que apareceu de carro na Prefeitura as indiretas passaram a diretas:
- Você está roubando e não divide o dinheiro, o bate-boca foi se avolumando com ele dizendo que não era ladrão e os outros fiscais o acusando de roubar um dinheiro que presumiam que havia roubado, até que Zé das Trancas, político ardiloso interviu, acalmou os ânimos e colocou um fim na briga temendo a repercussão da mesma.
A partir daí recebeu gelo de toda a prefeitura o que tornou seu trabalho insuportável.
Um construtor da cidade vizinha chamada Arvoredo Queimado sabendo da fama de honesto do fiscal que não aceitava bola, o que desagradava os construtores seus amigos, necessitando de um encarregado de confiança para seu material, contratou-o. Severino e família mudou de cidade.
Foi aí que todos tiveram certeza que era ladrão, até os que não conseguiram suborná-lo.

10/09/2015

Tony-poeta

Penso!

PENSO!
imagem Google

Penso:
- Assim sei que existo.
[ Existo porque penso. ]
Crio!
Mundo: minha criação,
Possibilidade de corpo,
Corpo que some com a morte,
Que não mais pensa.
Na verdade:
- Sou apenas pensamento,
Mais nada...

Tony-poeta
10/09/15