sábado, 11 de agosto de 2012

O CHORO E O DESEJO

 

O CHORO E O DESEJO


Ouvi de meu quarto
Um choro angustiado:
-Pequeno infante
Chorava sem parar,
Choro constante,
Engasgava e...
Continuava a chorar.

Como chora este pequeno!
-Pensei.
Sua mãe irá o alimentar.
Quem sabe pequena cólica
O faz tanto chorar.
Mas o infante não parava
A cada minuto mais chorava
Chorava até engasgar
E, recomeçava,
Recomeçava a chorar.

De que chora este pequeno?
Qual a dor de seu chorar?
Na angustia compreendi
Que começou a desejar,
Era o choro inicial
De na vida caminhar.
Pobre abandonado
Cercado por seres gigantes
No mundo desconhecido
Com imagens agressivas
Tudo em volta lhe parece
Conspirar contra a vida.

Pobre infante abandonado
No tempo,
No mundo jogado
Vai começar a caminhar.
Nesta vida que ignora
E não saberá andar,
Pois, descalço pisa em brasas,
Não pode nem parar.
[-Quem me dera que o pequeno
Não desatasse a chorar,
Não teria o destempero
De em brasa caminhar.]

Quando no choro exigente
Começa o desejar
Pobre infante, não sabe,
Que este ato irá marcar
Uma caminhada vazia
Para jamais se completar.

O choro revindica a falta,
Dela nasce o desejo
Pobre do infante que chora
O chorar não marca o caminho
-Mas o põe a caminhar!
É o andar em brasas, [do desejo]
Retirante: que sem parar a vida toda
Não se fixa em nenhum lugar
Pois, a pausa forma ulcera rasa,
Que sempre obriga andar.

Caminhante errante do destino
Que começou com o simples chorar
Frente a este desatino
De a esmo, sempre caminhar
Buscando uma ignota falta
Que nunca irá encontrar.
O choro é a armadilha
Que te põe a caminhar;
Andar sobre as brasas da vida
Até morrer...  Sem parar.

11/08/12
Tony-poeta





MEU FANTASMA

 

MEU FANTASMA


O fantasma apareceu:
-Era Eu.
Estava dentro de mim escondido
Agarrado aos sonhos perdidos
Misturado com frustrações
Tinha um nome gravado,
Teu nome brilhando, tatuado
Cores metálicas. Assombrações
Da felicidade que foi embora
Sem choro. Apenas foi embora
Sem perceber e ficou guardada
Com a força das alucinações.

11/08/12
Tony-poeta


PENSAMENTO ENVELHECIMENTO

 

ENVELHECIMENTO

pensamento



A alma nunca envelhece,
Apenas vai descansar,
Irritada de falar
Ao corpo surdo e teimoso:
Que o viver só vai vingar
Se for puro e amoroso.

11/08/2012
Tony-poeta

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

ALVORADA DE UM BOEMIO


ALVORADA DE UM BOÊMIO.


A noite está morrendo.
Desce a lua enterrada
Com séquito de estrelas...
Baila o funeral!
Bate luz. O sol exala
Seu canto matinal.

Segue a lua seu cortejo,
Corre o sol substituindo.

Desce o homem
Nas calçadas.
Que estrela ele será?
Está a lua seguindo,
Não quer ver
Não verá?...

Bate o sol com seus raios
Do funeral é o final.
E o homem segue rápido,
Fugindo!
Caminha na rota das ruas.

Para o homem na calçada...
Olha o céu...
O séquito sumiu.
Que é da lua?

Olha bem...
O sol surgiu.
Nasce uma nova alvorada
Novo sol
Novo cantar.

Ele bobo
Não diz nada.
Toma seu rumo
Vai deitar.


12/11/1971
www.tony-poeta.blogspot.com

DOCES SONHOS


DOCES SONHOS

Eu estava no amor
Vivia doces sonhos,
Era eu o trovador
Que marcava na alegria,
As serestas de uma noite
As luzes de novo dia.

Tempestade!
Vaidade se rompeu,
O horizonte escureceu
E a vida amargurou.

Trovador cantando estava,
No tom anunciava
A vida e o porvir,

E escutava!

A morena saltitante
Com seu gesto fulminante
Falando para encantar.

Era só perfumes,
Um vaga-lume
Me fazia enxergar.

Mas...  Num até logo
Fim de samba...
Aconteceu...
Emudeci.
Emudeceu.
Nunca mais a vi.


03/07/1971
Tony-poeta

OS PORQUÊS




OS PORQUÊS


Por que ela
Se poderia ser outra?
Por que outra
Se poderia ser ela?

Por que tenho muito
Se sou vazio?
Por que sou vazio
Se tenho muito?

Por que sorrir
Se posso chorar?
Pó que chorar
Se posso sorrir?

Por que calo
Se posso falar?
Por que falo
Se posso calar?

Sim...
Não...
Talvez...
Quem sabe?
Eu, dono de mim
Mesmo não sei...
Quem saberá?
Deus?
Você?
Mas quem és?
Também não sei...
Quem sabe?
Por que sabe
Se eu não sei?


03/1970
Tony-poeta


quinta-feira, 9 de agosto de 2012

BRIGA PARA VIVER

 

BRIGA PARA VIVER


Bem ou mal
Fizestes ver
Que o mundo real
É de briga para viver.

Na luta desigual
De amar e pertencer
Corro disparado
Em sonhos e fantasias
Sempre solitárias que escorrem
Na busca do néctar amor.

No intervalo da refrega
Teu nome trafega
Na mente insone.

09/08/12
www.tony-poeta.blogspot.com

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

REALIDADE: O OUTRO

 

REALIDADE: O OUTRO


Procuro o Outro
Na vida que ignoro
Poe ele rio e choro.

Procuro à amada
Dita idolatrada
Gelo ou deserto
De peito aberto
Coragem e medo,
Sempre me arremeto
Numa louca procura.

No fim de jornada,
Exausto, cansado,
Fecho os meus olhos.
Ninguém acompanha.
Ninguém me ensina,
Ninguém vai comigo.
Vou só ao jazigo.

09/08/12
Tony-poeta

TU ÉS COMO A LUA


TU ÉS COMO A LUA


Tu és como a lua
Que brilha e ofusca as estrela,
Tu és como a lua
Que salta as ondas
E as vagas do mar,
Resplandecendo nelas
Tua beleza.

Porém lépida, desprezando-as,
Pulando e pulando,
Nega-te as amar.

Tu és como a lua
Que faz do mar um espelho
Para se apreciar.

Ingrata!
Espelha-te em minh’alma,
Mostras tua beleza,
Mas corres...
Pois tu és a lua
E minh’alma o mar.


1962
Tony-poeta



A MORTE DE DONA CANDINHA e AS QUEIXAS DE UM ESPIRITO

 

A MORTE DE DONA CANDINHA ou AS QUEIXAS DE UM ESPIRITO.


O enterro de Dona Candinha estava concorrido, nunca se vira tantas pessoas em um velório. A vizinhança compareceu em peso. Até as crianças e, os cachorros lá estavam.
Não é que a defunta fosse benquista, todos queriam certificar-se que morrera mesmo e, em apenas três dias. Não mais faria o controle de toda região.
Seu Aito, seu marido, que na Verdade chamava-se Airton Luiz de Almeida, Aito era o nome familiar, não digo carinhoso, pois não corresponderia à verdade. Estava acabando a primeira garrafa de pinga, a qual exibia ostensivamente, sem as implicâncias da mulher.
Todos seus amigos estavam presentes. O pessoal do boteco do Justino, o pessoal do escritório e, antigos amigos de juventude, que há muito não os viam. Todos falavam a mesma coisa:
- Agora vai ser melhor.
Terminado de jogar toda terra que tinha direito, o Espírito começou com muita dificuldade a se movimentar. Logo pensou:
- Já estou quase livre para papear com ou outros espíritos.  E começou a fazer força para arrebentar logo a camada de matéria que o prendia.
- Como este troço é duro, pensou alto. Como essa mulher conseguiu fazer isto comigo? Não deve ser erro genético. As suas irmãs são normais. Dona Eudoxia, sua mãe, coitada dela! Morreu quase a míngua no quartinho do fundo e não reclamava.
-Além de tomar sua casa, para fazer economia, jogou a mãe e o pai no quartinho dos fundos. Uma verdadeira prisão. Não deixava os velhos nem chegarem à porta; até que morreram. Depois foi cobrar dos irmãos todas as despesas, que alegava para cuidar dos mesmos. Dava mais que a casa. Guardou todas as notas por três anos e misturou suas despesas com a dos coitados, que passavam fome.  Tentei protestar, mas ela não ouvia ou fingia não ouvir. Os irmãos não vieram ao seu enterro. Este sepultamento não é o meu, não! Vou conseguir ficar livre.
-Estou conseguindo soltar da parte debaixo. É a mais fácil. As mãos e o cérebro, que problema! Está muito difícil, Candinha conseguiu uma camada de cálcio no perispírito, como pode? Cada vez menos consegui falar. De inicio minha fala distorcia, ou ela é que distorcia, até que não chegou mais. Quem comandava era o cérebro. Sabe: o cérebro comandando sozinho não dá certo.
-Um dia, depois de ela passar por três médicos no mesmo dia; achava que era infeliz porque era doente. Não contou a nenhum que tinha passado nos outros e, foi buscar os remédios de graça, com as três receitas. Coitada da funcionária da farmácia. Consegui me comunicar com o espírito dela e, com dificuldade. Não dava nem para falar com outra alma, para dar a tal intuição. A moça se chamava Arlete. Atenciosamente alertou que os remédios eram iguais e, só mudava o nome. Levou um tapa na cara. O cérebro de Candinha já achou que era perseguição.
-Coitada da Arlete: chamou a policia, mas a velha alegou que era doente, arrumou um advogado grátis do Estado e não aconteceu nadinha.
-Ufa! Consegui me libertar até onde começa o diafragma. Ainda estou sufocado. Lembra o coitado do Aito. Viveu a vida toda sufocado pela Candinha. Eu falava, quando dava, para a alma dele para que fosse embora. Ao invés de ouvi-la tomava umas pingas e não criava coragem. Coitado! Não tinha o que fazer. A mulher também conseguiu controlar o homem. Trabalhava, tomava umas pingas no boteco do Justino, cerveja só quando alguém pagava ou ele roubava algum dinheiro dela. Dava todo dinheiro em casa. Ela dizia que era para a despesa. Mofumbava tudo. Ia para a conta da Caixa, a poupança. Só comprava carne de domingo, na semana era ovo quebradinho, que o Mané trazia da granja; aqueles que não podia comercializar. Da última vez tinha 300 mil Reais guardados, ele vai descobrir agora, na hora que mexer nos trastes da velha. Vai fazer a festa... ou não... Está velho; bêbado e doente do fígado, Pobre homem!
-Um pulmão está livre. Ah! Como é bom começar a se sentir espírito de novo. Lembra-me quando ainda conseguia dar umas intuições. Que decepção! Falava para cuidar dos três filhos e, o cérebro dela cuidava era da vida dos coitados. Foram embora um por um. Os dois rapazes não vieram nem no enterro. A Tatá veio, mas acho que para não dar de ruim. Candinha se intrometeu tanto no namoro, que o Ditinho deu três tapas na sua mãe. Como gostei! Depois disso a moça saiu de casa e está casada até hoje com dois filhos. Acho que vivem bem.
-Só falta o cérebro. Está difícil. Além da capa que me aprisiona, dá choque. Realmente eu era um espírito aprisionado. Como pode! Mas o de cima sabe que tentei de tudo, não tenho culpa da teimosia. É muita ruindade.
-Estou livre, já é madrugada. Creio que as outras almas deem uma volta neste horário, esperando o juízo final. Por dez anos não consegui conversar com ninguém. Que alivio! Posso esperar uma eternidade que ainda estou melhor. Fiz o que pude.
- Credo o cérebro da velha está pegando fogo. Tem um fogo correndo atrás do vigia. É o Fogo Fátuo. Bem se podia esperar, este Boitatá é a ruindade de quem morre e corre atrás dos vivos, não é alma não!
-As outras almas estão ali, vou enfim conversar.  

08/08/12
Tony-poeta



terça-feira, 7 de agosto de 2012

A SESSÃO DE MATERIALIZAÇÃO

 

A SESSÃO DE MATERIALIZAÇÃO.


Reuníamos-nos todo final de semana.  Tentávamos entender o sobrenatural, se eram espíritos ou uma vida em outra dimensão, que provocavam os fenômenos discutidos na época. Poderia também não haver fenômenos. Na época tínhamos o Padre Quevedo, que afirmava que tudo era fenômeno normal apenas não explicado, os hippies que acreditavam em vida paralela, o Uri Geller que apareceu na televisão entortando garfos e os espíritas e esotéricos, a qual minha família pertencia.
Éramos quatro amigos, todos ao redor dos dezoito anos. Eu, o Fernando que morava no Brooklin, o Wilson onde nos reuníamos na Rua Apeninos e o Ezequiel seu vizinho. Os livros que nos orientavam era os de meu pai, que vivia na livraria do Circulo Esotérico da Comunhão do Pensamento, próxima a Praça João Mendes.
Lendo procurávamos chegar a uma concentração para atingir o sobrenatural, auxiliados por um gravador Geloso, que o Wilson acabará de comprar, onde registraríamos os sons de outra dimensão.
Não estava aparecendo som nenhum; o que atribuíamos a nossa falta de prática em concentração e continuávamos a ler e tentar. Foi aí que o Fernando chegou com o convite oral para que dois de nós assistisse a uma sessão de materialização na Mooca.
Ficou acertado que iria Eu e o Fernando. Havia um preparo que antecedia o trabalho. No dia anterior não poderíamos beber alcoólicos, o que não seria problema. Não comer carne, que também não era difícil e não fumar. Isto era um grande sacrifício. O Fernando acordava a noite para dar umas tragadas e eu fumava bastante. Resolvemos diminuir o máximo possível para não atrapalhar os trabalhos.
No dia, fomos até a Praça João Mendes e pegamos o elétrico. Descemos no Cemitério Quarta Parada e dois quarteirões depois, subimos à esquerda e chegamos numa casa simples com pequeno jardim e uma entrada lateral. Apresentamos-nos e adentramos ao recinto.
Era uma pequena sala de entrada contigua a uma sala de jantar um pouco maior, uma construção antiga e simples, tudo estava cercado por panos brancos e espessos para uma vedação do ambiente, que consistia em uma série de cadeiras em fileira, ao redor de trinta, onde sentava a plateia e nos sentamos também.
Iniciado o trabalho, a médium não aparecia, ficava atrás das cortinas isolantes e alguém da família orientava a sessão. Foi colocada uma musica: Ave Maria, de fundo e feita às preces habituais: O Pai Nosso e a Prece de Cáritas.
Seguindo os trabalhos, apareceu uma luz azul, pouco menor de uma bola de ping-pong que passou por cada presente, o que observamos.
A seguir o toca-discos começou a interromper e continuar a música sempre do mesmo ponto onde esta havia parado, dando sequencia. Até aí, achei que não havia nenhuma má fé; as aparelhagens que conhecíamos na época não permitiam tais efeitos. Posteriormente o Fernando concordou comigo.
O trabalho seguia com estes efeitos quando a médium, segundo informação do orientador e, pela tosse continuada que ouvíamos passou mal. Foi nos informado que eram fluidos negativos que se encontravam no local. A luz foi acesa e todo mundo ficou nos olhando desconfiados, já que éramos os estranhos do trabalho.
  Bastante aborrecidos, tanto por não ver a materialização e pela acusação velada de olhares dos frequentadores, compramos cigarros: Continental sem filtro para o Fernando e Kingston para mim, já com filtro. Pegamos o ônibus de volta.
Foi aí que descobrimos que com o cigarro mais o ônibus ficamos sem dinheiro. Descemos na Praça João Mendes de volta. Para o Jardim Paulista era uma boa caminhada, porem viável, para o Brooklin era longa, algumas horas. Resolvemos ver se ainda conseguiríamos localizar meu pai.
Sr. Carlos Gomes, meu progenitor era proprietário do Salão Guarany. Uma tradicional barbearia no Largo Paysandu, em cima do Ponto Chic, famosa lanchonete, Era o horário que costumava fechar.
Fomos até o Paysandu e já estava fechado. Antes de voltar para casa meu pai lanchava, ora na Salada Paulista, ora na Padaria Ayrosa, ambas bem próximas. O encontramos na Padaria comendo um pedaço de Pizza.  Era uma massa bem grossa com cobertura caprichada, muito conceituada na época. Aproveitamos para comer também. Não tínhamos comido nada.
Contamos o ocorrido e juntamente com ele não chegamos a nenhuma conclusão, sobre a interrupção da música e da bolinha azul que observamos.
Pegamos o ônibus no Anhangabaú e terminou a aventura. Nosso grupo continuou a se reunir por mais algum tempo e, não fez nenhuma descoberta paranormal. Também não concluiu nada sobre nossa aventura.

07/08/12
Tony-poeta
  








MEIO TEMPO


MEIO TEMPO




Hoje...

O tempo

É meio tempo.

Nem frio, nem calor,

Parece os contratempos

Que acompanham o amor.

Tempo:

Se decida!

Quero cuidar da vida.



07/08/2012

Tony-poeta


FORMAS FIXAS




FORMAS FIXAS.


Troquei os óculos
Olhei o mundo,
Transportei-me.
Novo lugar?

Campos profundos?
-Não os vi! -Não sei!

Como navegar
As formas novas
Da deformação?

Formas velhas
Novas prosas.
Rima antiga.
Novas cantigas
Tudo o mesmo...

Não existem
Outros mundos,
Só inspiração
De cada poeta.


22/07/2011
Tony poeta pensamentos