segunda-feira, 13 de junho de 2016

JOÃO QUE SE DENOMINAVA BOBO

JOÃO QUE SE DENOMINAVA BOBO

João, que se denominava bobo, perdeu o futuro. O presente não existe e o passado, composto de lembranças tristes, o atormentava. Não havia mais estradas nem para frente nem atrás, não mais vivia apenas flutuava num cenário vazio sem objetos.
Era indiferente se a fumaça de seu cigarro fosse para os lados ou para frente, o cigarro não tinha gosto e, no nada era apenas fumos do abandono. O livro de cabeceira, amorfo e sem poeiras, apenas no nada descansava, nada dizia e as letras frias nada representava. O bibelô de bailarina não mais dançava, não se movia, nem lhe olhava.
Se era noite ou dia não importava, para onde iria? O abandono da alma humana requer uma mão que lhe leve em frente. Tudo necessita de um calor amigo que como um cachecol lhe de agasalho, não importa a neve, nem o orvalho.
Pode o mundo ser só presente? Não! Para si respondia e não mais pensava, pois, pensar exige a visão de uma estrada, com obstáculos ou alegrias, sempre uma jornada que projeta em frente à mente que sente o pulsar da vida, a vida é caminho, não importa o que a fantasia alucinada informe, mas nunca será o nada, como no tom disforme de uma vida parada.
O cigarro queimou, o tempo passou sem notar. Perdido na própria ausência, João Bobo não mais sabia nem chorar. Apenas constatava que os seres são solitários e que os sonhos são particulares e não se repartem, não se doam, cada qual tem seu sonho e não vai compartilhar.
No fundo, uma música tocava, a música estava a chorar... João bobo não a escutava.

13/06/16

Tony-poeta