ENTENDENDO A VELHICE.
Em 1954
eu tinha nove anos. Era o quarto centenário de São Paulo. Naquele tempo achava
todos os adultos grandes e velhos, não sei por que, acho que hoje a molecada é
mais esperta.
São
Paulo estava cheio de atividades, estava se inaugurando o Parque do Ibirapuera
e junto com ele o Roseiral do Adhemar: Lembro que achei feio uma roseira longe
da outra, coisas de criança. Fomos almoçar no Restaurante recém inaugurado no
Parque, pela primeira vez esperei uma mesa em minha vida. Eu meu pai e minha mãe, tudo comportado e eu
um homenzinho ao lado das pessoas velhas.
Meu tinha 37 anos na época.
Na
noite seguinte tinha a famosa Chuva de Prata. Um Teco-Teco iria passar e jogar
papel de alumínio que iria pratear os céus. Fui com minha mãe e alguns vizinhos. Tinha bastantes crianças junto com os
velhos.
Na hora
que foi jogado os souvenires minha mãe deixou que eu saísse de seu lado para
pegá-los. Estávamos na Av. Nove de Julho, por cima do túnel do lado Centro, na
rampa de grama que contornava o acesso para Av. Paulista.
Corri
como todos os moleques. Tinha uma torneira pingando de uma maneira invisível e
na grama molhada com barro surfei com os fundilhos e desci todo declive. Fiquei
todo sujo.
Logicamente
levei uns tapas, hábito da época, creio que deve ter sido difícil dada a penumbra
do local, ter achado um sitio limpo para as palmadas. Voltamos a pé, já que não
era muito longe, e eu sujaria o ônibus. Mesmo assim consegui levar umas
lembrancinhas que peguei antes de escorregar tragicamente.
Meu
pai, inimigo de castigos corporais consolou-me em casa. Explicou que eu veria a
passagem do Milênio e a festa seria muito maior e eu já seria adulto.
Deitei
pensando e fazendo contas mentalmente, o que sempre fui bom. Estaria na época muito velho, porém deveria
estar vivo. Será que conseguiria ir ver as atividades? Pessoas muito velhas têm
dificuldades, quase não andam. Assim peguei no sono e o pensamento ficou
gravado.
Atravessei
a passagem de Milênio, aliás, de Plantão. Não vi nada. Ontem estava me
lembrando das conclusões de infância e percebi que não estava careca, não tinha
cabelos brancos, apenas uns poucos fios sem cor na barba, não tinha os joelhos
duros, estava quase velho, mas ainda não. Aquela conta de gente velha e grande
não estava muito correta.
Súbito passou
pela minha cabeça uma idéia: Como será que eu verei a passagem para 2.100?