sábado, 4 de agosto de 2012

o agasalho [ quem sou eu II]

 

O AGASALHO

Quem sou eu II


O som de uma voz
Que vibra em mim
Protege meu Ser.

É como agasalho:
Que me cobre a pele
No frio e a aquece.

Tem força do tempo
Soa dentro de mim
Como o vento frio.

O mundo externo
É um viver diverso
Do meu Ser interno.

05/08/12
Tony-poeta



AONDE?


AONDE?


Fim do dia.
Não entrou a noite.
Nada absoluto!
Resoluto,
Tento me achar.
Sem dia...
Sem noite...
Aonde?

Perdido em teus seios
(Cheio de amor?)
Sem leite...
Sem calor...
O marasmo me apossa
Na fossa...
Como posso amar?
Neste abismo...
Desilusão.
Não vejo a vida
Nem a morte.
Nem ao menos o relâmpago
De uma paixão.


Tony-poeta
s/ data

HAIKAI

 

HAI KAI


Mês de agosto

Floriu a flor de maio

Calma do mar.


04/08/12
www.tony-poeta.blogspot.com

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A ESTAÇÃO


A ESTAÇÃO


Adentrei a estação.
Formas sombrias,
Plataformas de ferro
Rudes...
Apavoravam...
Eram fantasmas
Dos desencontros.

Nela
Correndo...
Passaram amores,
Chorando muito...

Passageiros apressados
Fugindo...
Desencontros!

Amores,
Bem longe,
Se foram...
Frio trem de aço!

Ali ficou
Estancada.
Fria lápide
Esperando
Retorno de amores...

Sempre solitária!


12/09/1971
www.tony-poeta.blogspot.com

A NEBLINA

 

NEBLINA


Bate o sol. Abre-se A neblina,
Faz reverencias, dá passagem.
De longe o monte domina,
Tinge-se de verde a paisagem,
Todo amor que se encobria
Reaparece com coragem,
Inaugurando novo dia.

03/08/2012
Tony-poeta

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

RAIVA

                                               

 A RAIVA


- Dona Judite, Pode entrar; boa tarde. Era uma das ultimas consultas do dia do Dr. Mauro. Todos doentes em acompanhamento, normalmente para repetir o remédio, salvo ocorrências imprevistas.
- Boa tarde, Doutor.
- Como está a senhora?
- Vim pedir um calmante mais forte. Este está muito fraco.
O médico olha a ficha e argumenta.
- O calmante costuma ser suficiente, o que está ocorrendo?
- Estou com raiva.
- Não temos medicação especifica para raiva. O que houve?
- A raiva é tanta que até briguei com meus filhos.
- Quando foi isso?
- Ontem.
- Moram com a senhora?
- Não, moram fora.
- Bem Dona Judite, a raiva é um sentimento; é normal sentir raiva, quem não a sente está adoentado. A senhora sentiu este afeto, extravazou e agora na próxima conversa com seus filhos vai ficar tudo bem.
-- Mas a raiva ainda não passou.
- Passa! Disse Dr. Mauro, mas o que está acontecendo para a senhora ficar tão nervosa.
- Eles não assinam para vender o terreno.
- De quem é o terreno?
- Meu marido deixou de herança. O terreno e a casa onde moro. Preciso do dinheiro.
- Realmente, numa herança metade é da senhora.
- Eles não querem assinar. Que ingratos e tratei deles a vida toda, meu marido sempre tirou o corpo fora.
- Quando morreu seu marido?
- Há dois anos, foi um alivio, não servia para nada, agora estou muito bem.
- Tem netos?
- Seis, mas dizem que sou tramista, as noras nunca os trazem para ficar comigo.
- Mas a senhora manipula?
- Elas são iguais a meu marido, não fazem nada direito. Ainda querem o dinheiro do terreno.
- Quanto vale a propriedade Dona Judite?
- Tem um moço que dá quarenta mil.
- Então a metade é vinte mil. A senhora disse que são cinco filhos. Dá quatro mil para cada um. É pouco, mas ajuda. Por que eles não assinam?
- É que não querem pagar a conta.
- Que conta?
- A doença do pai,
-Mas não morreu há dois anos.
- Morreu, mas paguei os remédios, o enterro o seguro pagou, mas paguei as flores, o inventário e mais uma porção de despesas que tenho marcadas.
- Quanto dá isso tudo?
- Só a doença e o enterro dão dez mil, mas...
- Assim não sobra nada para eles, disse o médico.
Ela pensou, pensou e a seguir argumentou:
- Mas os filhos não ajudam os pais?
- Hoje em dia não é comum, disse Dr. Mauro, os pais cuidam e quando eles conseguem se manter vão embora sem nenhum compromisso.
- Quer dizer que os pais ficam com obrigação um tempão. Até que idade eles ficam dependentes?
- Olha, disse o Dr. Sorrindo, tem clientes meus que ficam assim até os pais morrerem.
Dona Judite pensou e retrucou
- O Senhor é muito calmo.
- A gente aprende dona Judite
- Sabe doutor passou a raiva. Vou conversar com eles.
- Ótimo, vou fazer sua receita.
- Qual remédio? Perguntou ela.
- O que a senhora está tomando no tratamento.
- Tem que ser o mais forte doutor.
-Por que Dona Judite?
- O Sr que disse que não ter raiva é estar adoentado. Estou sem raiva.
- Pega a receita, acabou seu tempo.
- O Senhor é igual meu marido. Ele nunca terminava uma conversa, e saiu da sala.

02/08/12
Tony-poeta.


-


-

 

O CASAL ENAMORADO

imagem google

 

O CASAL ENAMORADO



Ao passar fiquei inibido,
Os dois namoravam,
Nem me notaram
Pois estavam aos beijos,
Apenas os dois
Numa esquina tranquila.
Fiquei a olhar.
Não se incomodaram,
A fêmea relaxada
Ele a acariciando
Com carinhosas bicadas.
Era realmente amor.
Discreto.
Será que estavam fugindo
Do esposo ou esposa furiosa?
Estavam isolados do bando
A sós. Numa esquina da vida
Festejando o amor.
Continuei olhando
Continuaram a se acariciar.
Até que voaram descontraídos
Para encontra seu pombal.
As aves também amam.

02/08/12
Tony-poeta.


MISTICAMENTE




MISTICAMENTE.


Quero misticamente
Juntar meu espírito ao teu
No desejo infinito
De ser profeta.

O profeta que une
O irreal do mundo
Com o irreal do céu.
E, faz crescer na junção
A vegetação do amor.

Quero misticamente
Juntar meu espírito ao teu
Não,
Para ser maior que o mundo
Mas apenas
Para que sejamos gente
Gente que ri e corre
Como outras gentes.



11/11/1972
tony-poeta pensamentos

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

OUTRA PARTE


OUTRA PARTE.


O poeta ama a mulher
Porque ela é sua parte.
O coração, nunca inteiro,
Pois com ela o reparte.

Nos atos de sua vida,
Coisas bobas... A arte
Faz a alma dividida
Na mulher, que reparte.

No amor inconseqüente
Que aprisiona a gente,
O poeta o reparte
E ama a outra parte.


s/data
Tony-poeta


O QUE QUERER?

 

O que querer?


Se o mundo nunca quer
[é observador passivo]
Corro no tempo
[para ele inexistente]
Rodo. Apenas rodo,

Sem nunca parar,

Mas o que quero do mundo?
Um beijo.
Um abraço.
Um minuto,
[o minuto que não existe]

Muda mundo indiferente,
Olha um pouco pra gente,
Faz de conta que me inventou.


S/data
Tony-poeta

O CURTA METRAGEM


IMAGEM GOOGLE

 

O CURTA METRAGEM


Quando criança
Pequena criança
Pensava bobagens.
- É um curta metragem!
É o que diziam
E as fantasias
[achavam fantasias]
Me iludiam
- São bobagens! Diziam,
Mudam com a idade.

Cresci.
Adulto,
Muito acrescentei
Muito aprendi
Na lida
Nos livros
Na escola da vida.
Muito li
As fantasias
Que eram fantasias
Pequenas bobagens
[O curta metragem]
Hoje está correto:
É um: longa metragem.

01/08/12
Tony-poeta




terça-feira, 31 de julho de 2012

UM BAR QUALQUER







UM BAR QUALQUER.



Um bar qualquer,
À noite
Uma mulher.
Renascer...

Um bar qualquer:
O álcool,
O querer.
Uma mulher
Para crescer.

Um bar qualquer
Uma mulher
O amanhecer.


01/09/1996
Tony-poeta

segunda-feira, 30 de julho de 2012

QUERIA TER SIDO UM BEDUINO

 

                                 QUERIA TER SIDO BEDUINO



Olhando na face book, vi uma foto de um beduíno e seus camelos. Pensei como seria bom se ao invés de Liberal no Ocidente fosse um Beduíno.
Não era a primeira vez que esta ideia me ocorria. Há dois anos vi uma reportagem e o pensar foi o mesmo. Não é um sonho de adolescente.
Diriam que estou louco, teriam uma série de razões, apesar de que eu não acho. Aliás, ninguém admite sua loucura. Mas decididamente não é loucura. Sei que não posso após os 60 ficar andando no deserto. Mas o que me atrai?
O deserto tem regras rígidas. Não se joga uma folha de papel no chão, bem diferente de nossas praias. Não se agride a natureza, mesmo a nosso ver distante, sendo esta muito pouco povoada de animais e vegetais.
O Beduíno, e gostaria de ser um viajante solitário, é humano. Tem indisposições; como dor de cabeça, mal estar digestivo, febre, viroses; como todo ser vivo e, tem que seguir a jornada. Lá é um lugar que não dá para parar. Os dias são excessivamente quentes e as noites geladas.
Os camelos, sua companhia, apesar de dóceis e inteligentes, também podem ser limitados por incômodos e doenças. Todo humano ama o animal que convive. Um animal doente no deserto deve acarretar grande sofrimento.
Não tem também placas de ruas, nem GPS, [pode ser que agora tenha,] mas o rumo é pela experiência do caminhante, caso contrário é a morte.
Diriam quem me conhece, como se formou esta ideia?
Não tenho parentes árabes, pelo menos até onde sei eles são portugueses. Tenho pele clara, bem clara, pertenço àquelas crianças que nascem loiras e com a idade ficam morenas. Não é uma pele adequada ao sol.
Tive poucos dissabores na vida. Os filhos estão formados e casados. Levo um padrão de classe média, com uma aposentadoria não exagerada, mas suficiente a meu viver e pensar.
Então porque gostaria de ter sido um Beduíno se não tenho nenhuma relação com o deserto? Por que este louco desejo tardio? Qual a razão de enfrentar uma vida muito mais dura que a das grandes cidades?
 Explicação é simples. Viver. Na cidade cumprimos funções sociais. Traçamos um objetivo social e vamos em frente; não vivemos, apenas realizamos tarefas sucessivas e mecânicas, sem olharmos para nós mesmos. É o despertador tocando; o carro, a rotina do emprego, os bancos, os atrasos dos pagamentos para receber e saldar, as necessidades nem sempre atendidas da família e, suas consequentes frustrações. É um eterno correr externo sem nada interno de compensação, não olhamos para nós e sim para tarefas continuas e infindáveis. Não há luz no final do túnel. Até as relações sociais se tornam formais e competitivas. As relações de parentesco diluem-se pela distancia, cada vez maior entre as moradias e os objetivos. Não há coesão em nossa sociedade.
Este Beduíno solitário também tem seus problemas; mas, cada manhã em que prepara a viajem, não coloca combustível num carro, mas trata com carinho os seus camelos que o acompanharão dia a dia da jornada, como participantes.
Ao se deslocar no deserto, têm que conhecer o rumo, os ventos, os redemoinhos na areia, as areias que se levantam sugerindo uma tempestade ou as que se acalmam numa bonança. Ao acampar a noite, tem todas as estrelas do céu comungando consigo a balada dos astros. O ser não esta de passagem na natureza, ele é a própria natureza e, comungando com ela se integra e participa: isto é viver.  
Ao chegar ao destino, parentes e amigos o esperam, sentam em círculo, contam a vida e vivem a família. Há afeto e amor. Eles se amam e a família é à base de sua relação. Finda a jornada, volta ao deserto ser natureza, tanto para ele, como seus camelos. E ao chegarem de retorno a sua casa, mulher e filhos o esperam em festa. Tudo está no tempo certo da vida.
Pena que não pensei nisto quando era jovem.


BALSA E SORRISO

IMAGEM GOOGLE

 

BALSA E SORRISO



Manhã gris
Manhã fria
Chovia.
A balsa balançava
Dançava
A moça sorria.
Vivia.
Sorriso tão belo
Singelo
Sentada encantada
Na bancada.
A balsa não corria
Balançava na incerteza
Correnteza no canal
Se espremia
O balseiro, nada via,
Pouco andava
E
Ela sorria
Sorria
Como quem ama.


30/07/12
Tony-poeta

domingo, 29 de julho de 2012

QUEM SOU EU I

 

QUEM SOU EU I



Não sou este Eu que se deforma,
Este Eu que a imagem modifica
Em cada idade uma nova forma:
Nada permanece e nada fica.

Não sou mutável: O meu pensar
Não tem esta maleabilidade
Que a cada instante pode mudar
Dando-me outra e nova identidade.

Sou uniforme:

O espelho não mente, apenas reflete um momento,
Uma situação momentânea e mutável de uma roupagem.
Não me reflete jamais.
Eu não sou a imagem do espelho.

29/07/12
Tony-poeta


TÉDIO


TÉDIO


Comemorei a vitória
Velando os cadáveres
Das frustrações.

Enterrei os sentimentos
Junto aos momentos passados
Caminhei desolado.

Ergui uma tela de ouro
Numa cama de mármore.
Os dois eram frios.

Sentei, onde sempre sentei,
Não senti calor nem frio.
Era o tédio.


23/08/1985
Tony-poeta