TERRITORIO E SOCIEDADE
Uma senhora portuguesa veio à consulta. Por mais que fosse
meu esforço, não conseguia compreender o que dizia; tendo de contar com a
tradução do filho que a acompanhava. Estávamos nos finais dos anos 70. Havia
saído das terras dos ancestrais fugindo das guerras de libertação das colônias
africanas, onde estavam convocando os jovens, no caso seus filhos.
Na mesma época li o livro Henfil na China, que tinha a
absurda população de 700 milhões de habitantes [hoje quase triplicou]. Falava ele
da dificuldade de alimentar, vestir e dar moradia para esta população
exagerada. Como exemplo citava: cada habitante recebe duas vestimentas por ano.
Caso se pense em aumentar um botão na roupa padrão, teremos que fabricar um
bilhão e 400 milhões de botões a mais, ou seja, teremos que fazer uma nova
fábrica.
Na semana passada, li um artigo publicado versando sobra a
sociedade das formigas. Como se sabe um regime absolutista, com uma rainha e,
dividido em castas sociais. Nele o autor destacava as formigas que não se
adaptavam a esta sociedade. Na maioria das espécies, as mesmas eram mortas; porem,
em duas, [evolução?] as “dissidentes” eram aproveitadas em serviços úteis a
comunidade. [o artigo, que não recuperei, saiu em uma revista especializada e,
na verdade era um resumo].
Comparando com a sociedade humana, poderíamos enquadrar como
o aproveitamento dos catadores de recicláveis como se faz no Brasil e como
isolamento ou morte como acontece em regimes fechados, em várias regiões do
mundo, onde ou o elemento não adaptado é preso indefinidamente ou
executado. Isto me fez observar o
seguinte:
A vida se transforma e, as populações apresentam sempre os
elementos que se diferencia, caso contrario a vida no planeta ainda seria ainda
formada por filamentos de RNA que a originou. Os elementos diferentes são
básicos para a formação de novas espécies ou, evolução da mesma.
Um mesmo grupo, mesmo dividido em castas, como o humano e as
formigas se mantém estável enquanto o território for suficiente, onde os
dissidentes podem ser de uma forma ou de outra, controlados. No caso da minha
paciente as guerras territoriais desestabilizaram uma população, que sabe
milenar.
O numero maior de elementos em relação ao território faz com
que uma população procure outro território e, se este é habitado por elementos
diversos tente expulsá-los, originando guerras. [Este é apenas um dos motivos
das guerras, mas tem grande peso].
Nos grandes centros urbanos, com milhões de pessoas exprimidas
em territórios mínimos, onde até o deslocamento se torna complicado, os
Urbanistas tentem disfarçar com áreas verdes, que consistem na maioria das
vezes de meia dúzia de eucaliptos cercados de um gramado e algumas pombas
ciscando. Este apelo maquiado propicia aumento de preço do imóvel e grande
sucesso nas vendas.
Não conhecemos todas as características da espécie humana,
porém sonhamos com uma sociedade justa e harmônica. Creio que devemos
urgentemente levar em conta a relação território/habitantes, com todas suas
variáveis: terra agricultável, agua, períodos de chuva e estiagem, alimentos
possíveis, contaminação ambiental e de sol, desmatamento ecológico, preservação
de espécies.
Para estabelecer um local seguro e com harmonia, se não
iniciarmos pelo território, todas as medidas serão especulativas, pois a vida
se desenvolveu e as novas espécies se formaram em relação ao território, sempre
buscando novos locais “seguros” para reprodução e perpetuação da espécie.
A ideia que tudo se move em função do sexo, é
obrigatoriamente posterior à fixação do elemento em seu nicho ecológico,
portanto, passa inicialmente pelo território, Sem território não progride a
vida. Esta se organiza em função do local e o que este oferece, como na China
do Henfil com divisão igualitária ou, como nos países pouco habitados, com
maior liberdade de consumo.
O crescimento das populações deve orientar o consumo. O
consumo capitalista, exagerado em função da relação habitante/território só
pode gerar instabilidade e guerras ou internas, ou externas.
Tanto nos países capitalistas, como nos frustrados modelos
comunistas, não se levar em conta a necessidade básica da relação
território/habitante provoca distorções e uma organização politica semelhante à
idade média, da qual ainda não nos libertamos; onde privilegiados se arvoram
“donos do território”; a população, com uma parte jogada na indigência, fica
sem ter um território mínimo onde possa considerar seu, isto provoca ebulição
social e revolta. Os regimes continuam a ser feudal, de forma idêntica ao
antigo regime, a custa de opressão.
Cada homem tem direito a seu território, suficiente para que
tenha uma vida digna, nenhum homem necessita território maior do que aquilo que
satisfaz suas necessidades e, a produção orientada deste modo é que vai
proporcionar o consumo satisfatório para cada um, sem excessos.
Uma sociedade justa e boa de viver, se faz com uma igualdade
social e, a politica serve apenas como administradora desta igualdade. O
Território é o inicio de tudo.
26/09/2012
Tony-poeta