sábado, 27 de setembro de 2014

TIVE UM SONHO - VERSOS LIVRES -



TIVE UM SONHO


Tive um sonho...
Quase nunca sonho...
Sonhei que a meu lado estava
A incrível mulher borracha...
A cabeça retangular
Tudo podia apagar...
Fiquei muito preocupado
Serei eterno coitado
Sem ninguém para sonhar
Com esta mulher deformada
A meus sonhos apagar.
Daí: ela me abraçou e fui apagado.

Tony.

A RUA LEVA... - versos livres.



A RUA LEVA...


O caro partiu
Embaralhou-se nos sonhos
Dos delírios das ruas...

Ainda bem que era um devaneio!

Um momento apenas
Que uma graça
Uma moça de saia pequena
Flutuou na calçada.

Não sabia quem era
Uma luz encantada
Lembrou-me outras eras
No balanço das ancas
Que num repente desbanca
Minhas tristezas...
Lembrei-me
Das muitas Terezas
Que pude amar.
O andar gracioso
Que repetia
Os amores que um dia
Fizeram-me delirar.

Num momento,
Ainda etéreo
Subi ao Olimpo
Suplicando amor...
O ronco do carro
O cruel motor
Me fez retornar
As encruzilhadas
Da solidão das calçadas.

27/09/14
Tony-poeta



sexta-feira, 26 de setembro de 2014

PARAR DE FUMAR



PARAR DE FUMAR.


Ariovaldo acordou preocupado, era um sábado chuvoso. Nestes dias nublados sempre fica melancólico; o pior que o médico no dia anterior falou taxativo: - Você tem que parar de fumar. Já fuma há trinta anos, sua barriga está com um metro e vinte, seu colesterol está alto, se não para vai morrer de infarto.
Bem que o doutor quis dar um calmante para ajudar, ele que não aceitou, estava arrependido de ter falado: - Sou responsável por minha saúde, paro na marra!
- Agora tenho que cumprir, pensou e começou a fazer as contas:
- Gasto dez reais por dia, em um ano três mil seiscentos e cinquenta, em trinta anos, saiu para pegar a calculadora, há muito não fazia contas de cabeça. Fez a conta:
- Cento e nove mil e quinhentos reais de cigarro. Tenho mesmo que parar. Dá para comprar um carrão, pagar o licenciamento, colocar gasolina e ainda sobra. E eu com este carro velho, se Renata vê esta conta me mata. Ainda bem que está na casa da mãe.
- Acho que a barriga vai aumentar e não diminuir. Bem, vou para academia e faço abdominais. Pensando bem vou perder as calças, as cuecas. Pela economia dá para comprar novas no Morumbi, vou andar na moda antes de comprar o carro novo.
- Vamos começar. Foi até a farmácia comprar os adesivos e as pastilhas de nicotina para os primeiros dias.
- Que coisa cara! mas com a economia vai valer a pena.
- Como será que eu começo? Pensou. Já sei: - Fernando falou que de início fumar de hora em hora poderia ser uma boa. Não foi para ele, não durou duas horas. Mas vou fazer isto. Foi almoçar no barzinho em baixo, já que estava só. Voltou e fez a sesta.
Levantou às duas e meia. Lavou bem a barriga onde não havia pelos, conforme orientava a bula. Colocou o adesivo. Olhou par o relógio: Dez para as três.
- Vou fumar em hora cheia, cada vez que o ponteiro dos minutos chegar ao doze, fumo um cigarro, na segunda feira passo para de duas em duas horas, combinou consigo mesmo.
Pegou uma cadeira e foi a parede adiantar o relógio para ficar na hora certa. Três horas, acendeu o cigarro para começar. Fumou lentamente como um condenado à morte. A seguir foi ao quintal regar as plantas.
Voltou para dentro da casa, o relógio estava com o ponteiro dos minutos na hora de fumar. Acendeu outro cigarro, fumou demoradamente e foi ao quarto ler uma revista.
Acabou o artigo, passou pela sala e já era hora novamente. Fumou de novo e foi a calçada jogar papo fora. O vizinho falou de futebol e tirou um sarro que o Palmeiras estava mal. Ficou bravo, cortou logo o papo e voltou. O ponteiro marcava hora de fumar.
- Já, de novo? Olhou melhor o relógio e estava parado nas três horas. Tinha deslocado a pilha para arrumar o mesmo. Viu a hora certa. Quatro e quinze.
Ficou muito nervoso, acertou o relógio irritado consigo mesmo, não admitia errar, e deste modo tão idiota. Automaticamente, sem pensar acendeu um cigarro. Súbito deu-se em conta de estar fumando.
Pensou, deu uma tragada, pensou de novo e concluiu:
- Sábado não é um bom dia para isto, ainda mais com chuva. Começo segunda. Deu uma gostosa baforada.
26/09/14
Tony-poeta




quinta-feira, 25 de setembro de 2014

SANGUE E ROSA - versos livres.



SANGUE E ROSA


Fala
Sangue e rosa:
Confronto...
Ilusão...
Busca de si
Na vida triste,
Quem sabe o amor
Da moça prosa?
No sangue que queima
No perfume da rosa
Apenas,
A prosa da solidão.

Tony-poeta
25/09/14


PERNILONGO ALUCINADO - crônica poética.



PERNILONGO ALUCINADO.


Um pequeno inseto saiu da mata próxima, perdido na noite buscava a luz. Pequeno demais a luz o ofuscava, não sei o que pensava, certamente sonhos de grandezas cercavam este inseto voador.
Ele, na luz se queima, cai. Mas volta tentar, tenta se queima e cai. Persiste até que suas asas não mais baterem. Desfalece alucinado pela luz onde vê o poder.
Ele, dono da própria vida, transmissor de genes que persistem a minúscula espécie, impotente tentou se apossar da luz imponente que o fará maior, num delírio de grandeza, sucumbiu tentando até o ultimo bater das asas, ser o senhor.
Quem sabe neste mundo louco de nosso planeta, se as árvores tivessem pernas enterrariam seus frutos no melhor solo. Buscariam a melhor terra, a umidade necessária e lá fariam a multiplicação para reinar na floresta.
Também o humano determina sua vida, Escolhe a terra onde assentará sua moradia, trabalha para construir e transformar, usa o trabalho como motivo da vida incessantemente, só por ele pode os genes perpetuar.
Alucinado, como o inseto suicida, que morreu na luz pensando continuar a vida, criou a moeda. As guerras se sucedem e a morte impera, nuvens de dor varrem a terra, mesmo assim continua a trabalhar na busca do falso ouro metálico, criado no delírio de grandeza que impede a clareza de o amor procurar.

25/09/14
Tony-poeta.


segunda-feira, 22 de setembro de 2014

OS SÁBADOS DE EZEQUIEL



OS SÁBADOS DE EZEQUIEL

Ezequiel, coitado! Era feio, realmente feiinho. Com catorze anos, mulato de pele pardacenta, cabelos cortados a militar pois não aceitava nenhum penteado, não era nem crespo nem liso, havia parado pela metade, mesmo curto ainda arrepiava; magro muito magro com orelhas de abano, sua mãe Dona Cleide explicava que seu avô era igual, isto na foto que tinha visto quando era da mesma idade. Depois ficou muito bonito. O rapaz esperava tentando se conformar com a feiura.
Por outro lado era muito inteligente, lia muito, seu pai Osvaldo comprava todos os livros que saiam para sua idade e, ainda dispunha de uma boa biblioteca. O rapaz conhecia todos os volumes e autores. Estudava violão e inglês, que já falava razoavelmente, só tirava nota máxima na escola e no convívio diário era alegre e perspicaz.
Morava em uma comunidade antiga no litoral, Senhor Osvaldo viera trabalhar de carpinteiro há trinta anos, junto com a esposa. Terminado o trabalho na construção civil houve uma invasão da área. O vereador Fontana, que vez ou outra ia a obra, onde tinha facilitado o alvará.
Sabendo que o Souza, dono da construção não havia pago o combinado e Osvaldo não teria dinheiro para retornar com a esposa a Minas de onde saíra e, ainda mais, com Cleide, sua esposa, grávida do primeiro filho, facilitou que ele invadisse um dos lotes ao pé da montanha, com a condição de transferir o título de eleitor.
Sem outra saída, foram morar na nova favela que foi denominada Canto dos Macacos. De início trabalhou no que aparecesse. O fato de ser letrado e com visão facilitou para abrir uma birosca na frente da casa; onde além de vender cachaça ia colocando o que percebia que faltava no local: de linha de costura a parafusos, lâmpadas, produtos para casa e cozinha e assim por diante. Quando a rua foi asfaltada o pequeno comércio, já com boa clientela, foi ampliado para materiais para construção e elétrico.
Como conhecia tudo de construção e orientava a freguesia, o pessoal das casas de veraneio adquiriu confiança e a loja não tinha mais onde ampliar, contava com cinco funcionários além dele e da esposa e, possuía uma moça que fazia a comida, a qual fornecia aos funcionários gratuitamente, além de cuidar da casa, já em padrão de classe média alta, que fora construída no andar de cima do comercio. Não ficava em nada devendo ao padrão das casas de veraneio.
Os dois filhos que teve nesta época fizeram Direito, estavam formados, casados, com filhos em São Paulo, sócios de um bom escritório de advocacia. Ezequiel era rapa do tacho, nascera quando Cleide entrava em menopausa e além de única companhia do casal era o xodó dos dois.
OS SÁBADOS
O grande problema acontecia no sábado. Os jovens da comunidade se reuniam na Praça Central no período da tarde, lá iam ao Shopping, ao cinema, faziam compras e jogavam conversa fora. Um momento de descontração para o aplicado rapaz. Para chegar ao ponto de encontro o ônibus era obrigatório.
Neste horário de final de semana a loja, apinhada de gente, não permitia que o jovem pegasse uma carona; para voltar não haviam problemas. Da moradia até o ponto de ônibus eram dez minutos, um quilometro aproximado, nada que um adolescente não pudesse andar.
O que complicava era em relação ao policiamento, como a onda de violência estava muito grande havia uma triagem preventiva. Policiais truculentos, como é a polícia de toda Brasil, seguindo um misto de resquícios da ditadura e práticas importadas da América do Norte abordavam todos os que considerassem suspeitos, sem um mínimo de critério, ou melhor, o critério era: se parecesse de família importante ou veranista não eram suspeitos, caso tivessem um aspecto que não agradasse e ainda fossem negros o alvo da abordagem estava determinado, chegavam na maioria das vezes de modo agressivo, verificavam se não tinha arma ou drogas, para isto palpavam dos pés à cabeça e seguir o possível meliante ficava de braços estendidos na parede até serem consultados os antecedentes do detido na Central. Se negativo, então se procede secamente a liberação sem pedir desculpas.
Praticamente todos os sábados Ezequiel tinha o dissabor de ser abordado. Inicialmente contava para os pais, que logicamente ficavam revoltados, tentavam achar uma solução, telefonavam aos outros filhos e generalizava um mal estar, sem uma solução visível. Os policiais se revezavam, não havendo uma ronda fixa que pudesse ser alertada de quem se tratava, não havia meios de sair da loja no horário de fluxo e, a opção de ir de bicicleta também não resolvia que a triagem era tanto para quem andasse a pé como de duas rodas.
Com o tempo o jovem parou de contar, só relatando os repetitivos incidentes quando acionado.
Em um feriado prolongado ao ir ao encontro dos amigos foi parado por duas vezes, altamente constrangido continuou a caminho do ponto de ônibus. Foi quando chegou uma terceira viatura e novamente foi parado. Educadamente, como era seu feitio alegou ao policial que era a terceira vez no trajeto. Este truculento, sem nenhuma consideração desferiu-lhe uma bordoada alegando desacato e por pouco não o levou a delegacia. O rapaz voltou para casa chorando de raiva. Não quis ver os amigos e tampouco contou aos pais, para não aumentar o ódio.

A PSICOLOGA

Após este dia não mais foi encontrar com os amigos, fazia suas atividades normais durante a semana e aos sábados recolhia-se a seu quarto escutando música.
Os pais estranhando as reações do filho ficaram preocupados. Indagavam sobre o que se passava, mas o Ezequiel não queria tocar no assunto e se fechava mais ainda. Conversaram com os filhos, amigos e até pesquisaram na internet.
A família chegou à conclusão que na melhor das hipóteses o filho estava com Síndrome do Pânico, podendo ser até uma Esquizofrenia, escrita bem clara na página do computador, retraimento e isolamento no quarto.
Levar a um psiquiatra não estava nos planos, o filho não era louco, pelo menos Dona Cleide não admitia, foi quando Gisele a irmã do rapaz sugeriu a Maria de Lourdes.
Esta moça, da mesma idade da irmã, que pegava junto a esta condução para a faculdade, formou-se em psicologia. Teve sucesso, atualmente está lecionando na Faculdade e tem consultório na região do comercio. Além de ser de confiança, conhecia a realidade do local.
Após atender por três vezes o rapaz concluiu tratar-se de simplesmente medo e raiva e não doença. Amiga da família, ficou pensando como poderia ajudar. Foi quando lembrou dos filhos do Senhor Justino.
Os filhos do Justino faziam tratamento com ela por mal rendimento escolar e agressividade, no fundo não eram maus rapazes. O pai havia mudado para a Comunidade na mesma época e trabalhava em uma grande empresa com cargo importante. Estava muito bem de situação econômica e por todos aqueles anos nada desabonava sua conduta. Seus filhos estudavam na mesma escola que Ezequiel.
Sugeriu para o rapaz que fossem juntos até o ponto de ônibus, mesmo sendo de grupos diferentes: eles do grupo dos bagunceiros e ele dos estudiosos, ir junto até o ponto em nada atrapalhava. Afinal, os cabelos loiros dos irmãos, uma altura avantajada para idade não atraia a atenção dos policiais.
Ezequiel não se mostrou animado com a proposta, o que Maria de Lourdes imaginou que este estaria inibido com a diferença de apresentação física, sendo normal o menino feiinho ficar complexado diante de dois rapazes que chamavam atenção das meninas. Conversou com os pais de Ezequiel.
Estes acharam ótima ideia, falaram com o Senhor Justino que solicitamente achou ótimo, afinal uma ou outra vez que voltar pode ficar complicado pelas horas ou chuva poderiam revezar para buscar os rapazes. Bastava combinar a hora que iriam sair e o deslocamento até a casa do outro. Estava resolvido.

O DESFECHO

Por alguns meses a estratégia deu certo, geralmente Ezequiel ia até a casa dos vizinhos, de lá iam ao ponto do ônibus sem contratempos, até que:
Em um dos dias combinados a polícia invadiu a casa do Senhor Justino, havia uma denúncia. Fizeram uma batida e no escritório que o mesmo mantinha trancado encontraram farto material de produto de roubos.
Este senhor pertencia a uma quadrilha e, os objetos de valor, joias, relógios de marca, obras de arte eram levados a seu escritório e aproveitando a posição relativamente boa em uma grande empresa, podia negociar com tranquilidade. Um dos elementos do bando foi preso e indicou o esquema.
Ezequiel foi preso junto, permanecia à disposição do Juizado de Menores, não antes de levar umas bordoadas. Estava sendo acusado de pivete, ou seja, de fazer pequenos serviços a quadrilha e dado seu pequeno porte entrar nas residências por vitros ou telhados, abrir as portas sem necessitar arrombamento, afinal além de feio tinha o porte ideal para tanto.
Deu bastante trabalho para seus irmãos provarem que nada tinha a ver com isto.

22/09/14
Tony-poeta.




domingo, 21 de setembro de 2014

TRÊS AVES



TRÊS AVES


Três vultos brancos
Na luz do luminoso.
Meia noite,
Fantasmas?
Três aves noturnas
No estranho voo
Do escuro da noite.
Sumiram como chegaram
No relance foram luz
Em um instante solidão.
Luz e sobra é amor
Que vem com um beijo
De chegada e despedida.
Luz e sombra
Também é a vida
Um sopro de um dia
Para uma noite vazia.
Três aves e o amor
Um beijo apenas
Na luz de neon,
Um fantasma que passa
Um devaneio que fica
Do amor que nunca passou.

21/09/14
Tony-poeta