sábado, 12 de novembro de 2011

VOCÊ.






Nas profundezas do mar

O verde puro se embaça

Como um coração a sonhar,

Ou um ser que se despedaça.



O milharal amarelo

De tom palha, desfalece

Deixando de ser singelo

Tal como adubo adormece.



Meu se perto de ti é mar

Profundo. Teus olhos verdes

Só podem o abacinar,



E as palhas que sou, morrem

Suplicando amor, qual o ouro

Em fios que aos ombros escorrem.



26/03/1968


RONDÓ.






Corro neste bosque

      Rondando

Um reino perdido,



Buscando encontrar

     Valsando

O reino do sonhar,



E ser deste povo

     Sem a dor

De ser sonhador.


PENSAMENTO







Cautela ao comemorar uma vitória.

Já começou a batalha seguinte.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

QUE SOU? [filosofando]






Sou eu?

Tenho identidade...

Sou idêntico...

Ao outro.



Tenho individualidade

Mas sem referencia

Fico excêntrico

Não pertenço.



Sou eu?

Sem o outro

Não me vejo,

Não me reconheço.



Que sou?

-Fragmentos dos outros!














PENSAMENTO







Ficar fechado em uma caverna evita que os outros saibam que não sabemos.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

PERDEU-SE O TOQUE.





O mundo agora é visual,

A ciência vive da imagem

E as pessoas interagem

Em novo louco ritual.



Sem visão, ensimesmados

Se pedir fala normal

Reclama-se em recital,

Todo mundo é zangado.



Neste mundo complicado

Onde só existe o virtual

Corre-se muito apressado:

Repetição digital!



Contando a vida no asfalto

Para manter seu astral alto.


PENSAMENTO








Neurótico é aquele que não tem o outro como modelo.

VOCE EM MIM;






Doce

É correr na vida,

Cair nos teus braços.

De repente... Toda tensão:

Teus abraços doces, teus beijos

Tão quentes... Alucinação!

Tua pele roçando...

Tua boca ardente

Quase só desejo...

Teus olhos serenos

Ficando pequenos... Pequenos...

Entrando em mim.



No nada e no tudo

Nem sei mais o que é o mundo

Tenho só o Universo

Você em mim.




ENAMORADOS






Nestes caminhos que nunca nos levam.

Que conhecemos todas referencia,

Pois um dia, aprendemos na inocência

Dos braços doces que inda nos enlevam.



Se um dia saímos em busca, sublevam

Em cada ato de amor e de paciência,

De ver cortadas nossas experiências

Pelos próprios pés. O que nos carregam.



E este corte brusco. De força plena

Ruí o que se criou com as mãos pequenas,

No andar errante do desconsolo.



Sentimo-nos só, como um bobo.

Num movimento estereotipado

Então: Dizemo-nos enamorados.














quarta-feira, 9 de novembro de 2011

ALVORADA DE UM BOÊMIO.





A noite está morrendo.

Desce a lua enterrada

Com séquito de estrelas...

Baila o funeral!

Bate luz. O sol exala

Seu canto matinal.



Segue a lua seu cortejo,

Corre o sol substituindo.



Desce o homem

Nas calçadas.

Que estrela ele será?

Está a lua seguindo,

Não quer ver

Não verá?...



Bate o sol com seus raios

Do funeral é o final.

E o homem segue rápido,

Fugindo!

Caminha na rota das ruas.



Para o homem na calçada...

Olha o céu...

O séquito sumiu.

Que é da lua?



Olha bem...

O sol surgiu.

Nasce uma nova alvorada

Novo sol

Novo cantar.



Ele bobo

Não diz nada.

Toma seu rumo

Vai deitar.





12/11/1971

PENSAMENTOS






O amor nunca será eterno, porque sempre perceberemos que o companheiro não nos é idêntico, como o que pensávamos de início.

DE QUE ADIANTA?





De que adianta viver de sonhos,

Se quando realizados ficamos perdidos?

De que adianta correr no hoje

Se o amanhã será sempre remoto,

E o que se passou já nos será esquecido?

Como viver cada momento,

Se os momentos vividos

São sempre ansiosos e tensos?



Afinal!...

O que é viver,

Se não lutar, dia a dia,

Para sobreviver?






SACRIFICIO NO AMOR.


SACRIFÍCIO NO AMOR





Doação sempre... Sempre doentia

A vibração sem calor

Nunca aquecerá o dia

Perder-se-á sem ocaso.



As referencias: aqui ou lá

Sem luzes e sem sentido...

Perdidas!... Espaço sofredor!

Sem amor ou desamor,

Não será nem tormento

Dos ecos no firmamento

Pois o espaço inexiste



Tanto o alegre ou o triste,

O hoje e o ontem, o amanhã,

No recanto escuro: nada!

Sombras sem luz inexistem!














terça-feira, 8 de novembro de 2011

SARADO






Não Sabes!

É gostoso

Acordar naquela ressaca.

Tomar água

Duas aspirinas.

Deitar de novo.

Redormir.

Reacordar.

Sentir no próprio corpo

O perfume barato

Das mulheres baratas

Que te chamaram: Benzinho!

Recordar as Brahmas

Tentar contar

Quantas foram destiladas.

Lembrar da seresta

Os tangos do meretrício.

A casa da Geralda...

Casa de Giselle...

Sentir-se bem

Pois retornaste a noite

Depois de alguma ausência.





08/02/1971






segunda-feira, 7 de novembro de 2011

DIGNIDADE








Era domingo de manhã. Tomava meu café com pão e manteiga na padaria ao lado de minha casa. Era o que todos paulistanos, como eu, faziam ao acordar num fim de semana.

Um Senhor já idoso, com a perna quebrada e corrigida por um Lisarov, com muletas e uma valise na mão; mal vestido, acabava seu café. Deu dez centavos de gorjeta ao balconista. Chamou-me atenção o inusitado. Pobre e dando gorjetas no balcão da padaria.

Nisto o balconista intervêm:

- E a conta? No que foi rapidamente retrucado

-Como, nesta condição? Enquanto falava mostrava a perna.

Os balconistas se agitaram e o senhor saiu, sem pagar, demonstrando grande indignação.

Os demais fregueses, bem como o dono, ficaram atônitos. Não houve outra reação além da indignação do não pagante.

Não vi esta transgreção com repudio, poderia perfeitamente pagar o café da pessoa, e normalmente o faria. Antes vi a dignidade da ação. Pode um homem em total desequilíbrio social se rebelar? Liberdade é: apenas duas moedas na carteira para pagar uma conta? Pode um ser humano ser impedido de tomar um café e comer um pão por estar impossibilitado de trabalhar? Tem o ser humano que mendigar?

É lógico que numa sociedade capitalista, onde o dono do estabelecimento tem que pagar seus impostos, funcionários e tirar seu lucro, não cabe doações a necessitados. Cansei de ver pedinte ser humilhado e expulso; no máximo recebendo um salgado do dia anterior do lado de fora do estabelecimento. O capitalismo não permite solidariedade. Dizem:- Isto é função do governo! Mas a classe média é a primeira a condenar qualquer tipo de inclusão positiva. A Bolsa Família é um exemplo, é até hoje hostilizada, inclusive por pessoas tidas como cultas.

Este senhor, não se humilhou. Não pediu comiseração. Apenas matou a fome e deu gorjeta. Saiu ainda reclamando seus direitos. Fala-se: A miséria não faz guerreiros e sim pedintes. Ele não optou nem por um, nem por outro. Manteve a dignidade.

Não conversei com ele, creio que o mesmo me diria se perguntasse:

-A sociedade é o conjunto dos elementos e estes devem se ajudar mutuamente, sem humilhações. Não pude pagar o pão; mas pude recompensar o balconista. Um dia volto para pagar a conta.

Seria tão bom se fosse assim!


DIALÉTICA DA NOITE.





Noite

Chuva.

Que anjos é que vem?

São sombras

Nos pingos

E luzes das ruas

Em cores excêntricas

Desmaiam no asfalto.



Cantam,

Levantam

Pulam

Balbuciam

S’espantam

Resvalam

E s’expraiam

Na torrente

Da enxurrada

Nas sarjetas



Gotas afobadas.

Enciumadas

Em disparada

Lançam-se:

É busca abobada

De alvo ignoto

No negro da noite...

É gota de álcool

Perdida nas vísceras

Sem atingir o espírito

E afogar as mágoas.



Na embriagues,

Corpo cambaleante,

As gotas correndo

O cérebro girando

O álcool queimando

O sangue fervendo

A água gritando

A mente fugindo

A água buscando...

O buscar ou fugir...

O viver ou morrer...

Do ser ou não ser

Do contexto

A dialética.





26/08/1970




domingo, 6 de novembro de 2011

A ENCERADEIRA.






Ju estava realmente contente, a satisfação era visível. Acabara de colocar uma pia maior na sua pequena casinha. Ela e o marido trabalhavam, e bastante, com empregos assalariados. Três filhos estudando. Pouco restava de poupança para tornar um pouco mais confortável a casa de mutirão. A pia adequada substituía a prestação do computador dos filhos que acabara de ser quitada. Próxima aquisição só daqui a um ano, quando acabar esta nova parcela.

Lembrei-me que em toda infância e juventude em casa havia controle das despesas Na maior parte das vezes incluía a alimentação. Um queijo, um azeite era programado. Quando em casa foi comprada a enceradeira, abri a porta da sala deixando esta visível para a rua e comecei a mover o barulhento objeto para ser visto por todos. O interessante é que, como não tínhamos empregada, minha mãe me obrigava a fazer algum serviço doméstico, o que detestava e me envergonhava:- coisas de mulherzinha, diziam os coleguinhas, mas muitos também ajudavam suas progenitoras escondidos.

A tal enceradeira quebrou meus melindres. Era uma novidade. Era caro. Por fim uma demonstração social.

Pior foi o rádio comprado anteriormente, tocou a todo volume por uns dias, até o vizinho reclamar com minha mãe e eu receber o devido pito.

O tempo passou. Hoje pouco me lembro de minhas aquisições posteriores. Estão ali como que sempre estivessem presentes. Estes dias o computador de minha esposa teve um problema. O técnico demoraria alguns dias. Não emprestei meu notebook, fui as Casas Bahia e comprei um de estepe, quebraria o galho e ficaria para visitas. Os tempos mudaram?

Sim. Além da mudança os valores se perderam, é um mundo descartável para a classe média. Não há vibração. A pia da Ju tem valor, a enceradeira de minha mãe valia muito, mas, hoje objetos e por contigüidade pessoas tornaram-se descartáveis. Nunca se teve tão pouco sentimento de posse, perdeu-se o sentimento de perda também e a sociedade passou a se comportar como robôs comandados, sem sentimentos e sem vínculos esperando que apareça algum objetivo real, sem ser ganhar na loteria. Enquanto isto as pessoas caminham a esmo sem saber aonde ir e despidas de afetos, o suprem nas telas televisivas onde vive uma sociedade completa que passa a ser a do cidadão, com seus amores e sexos vibrantes.

É uma pena.


DUVIDAS

                       





Por que este absurdo: correr...

Se cada dia se está morrendo?

Que modo louco de acabar!

Que coisas estranhas existem

Atrás do firmamento ao sonhar?





Por que sentir:

-Estás partindo?

Como entender...

Como indagar?

Se o mundo corre

Para onde será?



Que coisa louca está acontecendo:

O mundo chega ao entardecer,

Ou apenas nuvens estão passando?



Que existe?

-Não sei.

Perdi-me nos labirintos das palavras,

Nos meandros das ilusões

E nos meus pensamentos vãos.





04/06/1972