JOÃO QUE
SE DENOMINAVA BOBO
João, que
se denominava bobo, perdeu o futuro. O presente não existe e o passado,
composto de lembranças tristes, o atormentava. Não havia mais estradas nem para
frente nem atrás, não mais vivia apenas flutuava num cenário vazio sem objetos.
Era indiferente
se a fumaça de seu cigarro fosse para os lados ou para frente, o cigarro não
tinha gosto e, no nada era apenas fumos do abandono. O livro de cabeceira,
amorfo e sem poeiras, apenas no nada descansava, nada dizia e as letras frias
nada representava. O bibelô de bailarina não mais dançava, não se movia, nem
lhe olhava.
Se era
noite ou dia não importava, para onde iria? O abandono da alma humana requer
uma mão que lhe leve em frente. Tudo necessita de um calor amigo que como um
cachecol lhe de agasalho, não importa a neve, nem o orvalho.
Pode o
mundo ser só presente? Não! Para si respondia e não mais pensava, pois, pensar
exige a visão de uma estrada, com obstáculos ou alegrias, sempre uma jornada
que projeta em frente à mente que sente o pulsar da vida, a vida é caminho, não
importa o que a fantasia alucinada informe, mas nunca será o nada, como no tom
disforme de uma vida parada.
O cigarro
queimou, o tempo passou sem notar. Perdido na própria ausência, João Bobo não
mais sabia nem chorar. Apenas constatava que os seres são solitários e que os
sonhos são particulares e não se repartem, não se doam, cada qual tem seu sonho
e não vai compartilhar.
No fundo,
uma música tocava, a música estava a chorar... João bobo não a escutava.
13/06/16
Tony-poeta
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