O saco de
carvão tem uma aba, isto nos Mercados da região. Uma boa ideia para não sujar a
roupa.
Estava eu,
no Pátio de estacionamento, indo as compre e me deparei com um executivo
levando seu carvão para o churrasco. Visivelmente era um veranista, já que moro
no litoral, não o conhecia, mas andava segurando seu carvão como faria com a
pasta de couro legitima de alguma Multinacional.
Era
jovem, com roupa de grife impecável. O carvão ou a pasta mantinham a mesma fleuma
britânica no caminhar, contrastando com o ar forçadamente descontraído de sua
acompanhante. Não o conhecia.
De início
invejei os cartunistas que tão bem retratam momentos, colocando-os em uma única
imagem todo seu significado, ou seja, um casal de classe média em seu descanso.
Eis que me ocorreu a palavra ritual: Todos mamíferos tem o ritual de
comportamento como característica.
Este
ritual exige um estereotipo e um espaço próprio. No caso o casal ainda estava
conectado em sua posição de destaque social, mesmo na praia preparando um
churrasco.
A moça,
na atitude descontraída que adequara a ocasião mantinha a postura de sua
categoria. Ele, (pobre coitado, pensei) ainda estava preso ao trabalho, como o
apertador de parafusos do filme clássico de Chaplin, aliás, muito atual.
Todos nós,
mamíferos, temos um ritual que nos prende. Temos nosso corpo e mente
evidenciando a posição social que ocupamos.
O ritual
define a posição no grupo e delimita seu espaço.
Nas
Sociedades de Castas, hoje com o Neoliberalismo um tanto abaladas, estes grupos
são rígidos e não admitem mobilidade. O elemento de uma casta recusa-se a
participar da outra, seu ritual é fixo, seu espaço delimitado e rígido.
Na Sociedade
Ocidental a propaganda induz a esperança da felicidade com a mudança social, as
loterias se sucedem e os programas televisivos prometem desde um guarda-roupa “moderno”,
um carro último modelo de prêmio, até grandes quantias em dinheiro. O sonho da
felicidade passa pela mobilidade. Um ou outro cidadão que a consegue é motivo
de comentários e inveja.
- Mudou
de vida! -Está babando de felicidade! São os comentários que correm na boca de
seus conhecidos.
Mudou
sim: ritual e espaço. A adaptação no novo espaço é obrigatória, caso contrário
será expurgado do novo meio; isto se for aceito, o que nem sempre acontece.
Tivemos
recentemente um jogador de futebol de grande habilidade que quis voltar para a
comunidade pobre onde nasceu, apesar do dinheiro e do status merecidamente
adquirido. A crítica foi feroz e o mesmo caiu no ostracismo. O ritual e o
espaço de origem não foi aceito pelo novo grupo a que foi alçado.
Cada um
humano é único tem o seu espaço e ritual após conquistado marcado e é obrigado
a se adaptar; caso contrário retorna desacreditado ao estádio anterior.
As
sociedades primitivas não permitem gêmeos, que sendo iguais não podem ocupar o
mesmo espaço e não podem ter espaços diferentes, devido a igualdade, sendo os
mesmos ou adorados como deuses ou um é morto, quando não os dois.
Na verdade,
o executivo estava de férias e desfrutando as férias, dentro das variações
admitidas por seu ritual social, usava uma bermuda, ao invés do terno alinhado,
como faria numa visita informal a amigos e família, onde as vestes seriam adequadas
para ocasião. Se comportaria e conversaria nestas variações de modo apropriado
ao ambiente, porém sua identidade continuaria restrita ao espaço e ao ritual
que representava.
Ninguém é
mais ou menos feliz dentro de uma sociedade, desde que obedeça ao ritual e o
espaço. Este espaço é restrito em todas as camadas, nunca tendo a amplitude que
se imagina, sempre somos limitados e, o ritual de cada posição dentro da camada
que ocupa é rígido não admitindo grandes deslizes.
Na
verdade, somos estereótipos do grupo num dado momento seguindo um ritual restritos
a um pequeno espaço, não importando a área física e o número de humanos que
habitam o local. Temos apenas a ilusão
de liberdade.
Quanto a
tão propalada felicidade plena, garanto: Não existe!
16/07/16
Tony-poeta
Nenhum comentário:
Postar um comentário