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ANTES DO ALMOÇO
Dez horas da manhã, dia de buscar os remédios para a pressão. Eu
e Ana, minha esposa, fomos a farmácia. Aproveitando a saída compraríamos outras
coisinhas.
Logo na entrada farmácia quase fomos atropelados por um senhor
de classe média, de cara fechada que passou bruscamente a nossa frente.
Conversou com uma senhora, que já estava no balcão, ora em português, ora em alemão,
notava-se que o atendimento era pela Farmácia Popular. Além do azedume da
classe burguesa e da fala, mal se dirigia a balconista que tentava ser atenciosa.
Saiu bufando com sua medicação gratuita.
Ana observou que o País é generoso, fornece gratuitamente
medicação para não brasileiros. Acrescentei que o elemento que acompanhava a
senhora, dada a postura e a cidade burguesa que moramos, provavelmente é o
mesmo que reclama das Políticas Sociais, ora em extinção, em valor muito
inferior ao benefício que estavam gratuitamente recebendo.
Antes de dirigir-nos ao carro, após efetuada as compras,
deparamos com uma jovem em andrajos pedindo dinheiro para comer. Ainda estávamos
na farmácia. Como hábito peguei algum trocado para oferecer, o que o fiz mesmo
com a mesma cercada pelos balconistas que a olhavam desconfiados, ou com medo inexplicável,
dada a inofensividade e precariedade da pessoa. Atrás de nós ouvimos um senhor
reclamando que nem podia comprar seu remédio em paz e não merecia este abjeto
desprazer.
Ainda no caminho para a condução, iríamos ao Hiper Mercado, sob
uma marquise abandonada onde sem tetos se protegem, a polícia fazia uma “batida”
nos “moradores”, estes com as mãos para cima aguardando a consulta ao
computador da viatura. Uma inspeção de rotina onde todos pobres e desempregados
tornam-se suspeitos, são revistados, numa inserção social negativa e
discriminatória, para atender uma população apavorada que acredita que pobre é
vagabundo e criminoso. São exatamente estes coitados que nas madrugadas frias
são agredidos, tem seus parcos pertences roubados, suas cobertas levadas ou
rasgadas por anônimos em função de um delírio que cada dia mais se torna
coletivo.
Já no Super mercado, comprado o necessário nos dirigimos ao
caixa. Um senhor de aproximadamente setenta anos embalava suas compras já
registradas. Comecei a dispor as minhas no balcão quando fui empurrado. Este
senhor, na contramão, de volta ao setor de compras: resolveu trocar um vinho, o
levava na mão. Não pediu licença, nem desculpas, nem olhou em minha direção,
como só ele existisse. Pensei em retornar a agressão, mas me contive. Na
verdade, não sou agressivo, felizmente.
Ao retornar para casa comentei com minha esposa, que saudades da
sociedade que conheci, onde fazer compras era um prazer, as pessoas se
conheciam, as balconistas nos chamavam pelo nome e demonstravam afeto, as
pessoas pertenciam a uma comunidade onde todos compartilhavam. Até os mendigos
locais tinham nome e não precisavam pedir. Será que uma sociedade onde o
triunfo monetário mede as pessoas e as classifica em castas tem futuro? Como
pode um homem provavelmente aposentado não respeitar ninguém, mesmo não sabendo
quem está a seu lado?
Pensando bem, a era da internet e dos telefones que acompanham
as pessoas aonde vão, sempre teclando, é uma solução justa para uma sociedade
sem pessoas, habitada por sombras que se movem taciturnas sem sorrisos. Do
pedinte ao aposentado, todos estão se tornando invisíveis com medo de tudo que
os rodeia.
07/07/17
Tony-poeta
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