sexta-feira, 23 de novembro de 2012

ATÉ LOGO


                                                            ATÉ LOGO


 

 

Paulo estava a trabalho indo ao banco, a pressão do dia a dia dava-lhe uma aparência fria e não sociável. Andava olhando ao chão, como que procurasse uma moeda de ouro enterrada no asfalto. Não via ninguém, o mundo era indiferente. Ele era ele, apenas.

- Boa tarde, ouviu uma voz quebrando sua introspecção, até assustou por um instante.

Olhou ainda sério e logo abriu um sorriso. Era Ione. Há muito que não a via. Estudaram sempre na mesma turma, eram amigos muito próximos, nunca tiveram nada, eram apenas amigos, muito amigos.

Rapidamente, como força a sociedade, cada um contou sua vida, sua família, seus filhos, gostariam de falar mais tempo, mas tempo não existe no mundo do capital, cada um tem que correr, e buscar a qualquer custo seu sustento numa guerra muda individualista.

Trocaram telefone e ao se despedir, como sempre o fizera, Paulo beijou a face de Ione.

Nesse momento viu que estava em outra dimensão. Não existia em pessoa, era apenas uma luminosidade que se espalhava, não havia profundidade, não havia espaço. Tudo que existia era apenas harmonia esparsa, numa dimensão desconhecida, onde as palavras não a definiam. Tudo era cor desconhecida de matizes suaves, um som vibratório invadia o ambiente, não havia musica ou instrumentos, talvez a expansão de si fosse esta musica que floreava o éter, talvez fosse cada vibração, daquilo que fora um individuo chamado Paulo, que sem dissonâncias, sem notas tônicas fizessem esta harmonia pregnante. Tudo eram paz e harmonia.

Quanto tempo passou em outra dimensão naquela fração de segundos de um beijo de despedida, não saberia dizer.  Pode ter sido um lapso de tempo ou uma vida, sabia ser ele e por ali passar, mas não tinha individualidade, era apenas uma força que se juntou a um todo que era paz.

Confuso viu Ione sorrindo seguir seu caminho. Olhou as paredes empoeiradas, até notou a cor, diferentes do outro mundo que conheceu, deu dois passos, olhou ao relógio e saiu de novo apressado com sua individualidade.

 

24/11/12

www.tony-poeta.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário