terça-feira, 20 de novembro de 2012

PIOLA E A ALOPECIA AREATA

alopecia areata imagem google

PIOLA E A ALOPECIA AREATA


 

Após o trote da faculdade tive que raspar o cabelo, judiado e com falhas devido à recepção.  Sendo da segunda turma e com poucos veteranos; feito o habitual corte do cabelo e a comemoração alcoólica no barzinho da Prefeitura, nada mais de excepcional ocorreu.

 Indicaram-me o Piola como barbeiro.

Era uma pequena barbearia, de uma só porta na Av. Sampaio Vidal, ao lado do Bar Pinguim, era bem simples e, há muito não via reforma.

Piola ficava orgulhoso quando atendia os futuros médicos, falava de boca cheia que era responsável pelos doadores de sangue; sabia o tipo de sangue de cada um dos cadastrados, e que vez ou outra colaborava cortando cabelo e fazendo barba para os necessitados da Santa Casa.

A principio achei exagero, mas com o correr do tempo vi que realmente era importante sua colaboração. Não havia hematologista na cidade, as transfusões eram assinadas por médicos clínicos, não especializados. Quem tocava o serviço era uma Irmã que havia aprendido o serviço sem nenhum curso. O numero de cirurgias já era considerável, os acidentes com boias-frias eram constantes, com grande numero de vitimas devido ao transporte em caminhões sem nenhuma proteção: iam como carga.

As indústrias remanescentes de óleo de amendoim, não ofereciam segurança no trabalho, sendo comum, operários chegarem esmagados, pela pilha de sacos que caia sobre suas cabeças. Realmente esta coordenação voluntária pelo barbeiro, mesmo empírica, era de grande valia.

No terceiro ano, começou cair meu cabelo, formando placas de couro cabeludo liso em vários locais, sem nenhuma raiz aparente; a lesão era até brilhante, em formato de moeda, ou numulares como se diz em termos técnicos.

 A causa podia ser uma infecção na face, rinite ou sinusite; ou uma infecção dentária ou piripaque, todas plausíveis na minha pessoa. Tratamento, nenhum conhecido. Era esperar o cabelo resolver crescer. Tinha que me conformar; não se conhecia remédio na época. Pelo menos tinha um nome, já que não tinha solução, era denominada Alopecia Areata.

Como o cabelo são estivesse comprido, fui cortá-lo. Piola conhecia a doença e logo foi falando que sabia curar aquele mal. Bastava que eu lhe levasse um vidrinho, pequeno, com querosene.

Sabia que querosene deixa uma mancha amarela de péssimo aspecto, tinha umas oito lesões e, estas ficariam piores do que estavam. Hesitei, mas como a falha incomodava muito resolvi acreditar no tratamento, o único proposto. Levei o vidrinho cheio.

Piola misturou com algum capilar, na época se usava muito Pantenne, não reparei direito se foi o próprio. Após preparar o liquido, com um algodão aplicou-o em cada lesão, friccionando o preparado com vigor. Fez dois ou três dias o mesmo procedimento. O aspecto ficou péssimo, mas o cabelo voltou a nascer.

Não sei até hoje se o crescimento se deveu ao preparado ou se iria nascer naturalmente. Os professores atribuíram a uma reação a irritação que ele provocou com sua poção primitiva. A verdade é que rapidamente o problema foi corrigido. Creio que nesta hora foi meu dermatologista com bom resultado.

Com o tempo perdi contato com o Piola, nem sei seu nome, apenas o apelido. Soube apenas que merecidamente o mesmo recebeu após alguns anos de voluntariado o titulo de Cidadão Mariliense.   

 

21/11/12

Tony-poeta

 

 

 

 

 

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