domingo, 23 de junho de 2013

O FARMACEUTICO, A BENZEDEIRA E A PARTEIRA



 

O farmacêutico, a benzedeira e a parteira.


Em 1975, quando comecei a clinicar, vários colegas médicos resolveram se estabelecer em cidades próximas de Marília, ou seja, na Alta Paulista e no Paraná. Na época a residência médica era incipiente e a maioria saiu direto da Faculdade para exercer a profissão. Felizmente a formação era satisfatória.
Ao chegarem à cidade em que iriam exercer a medicina se depararam com o seguinte quadro. Nas cidades maiores já existiam outros colegas, o que não provocou maiores traumas já que havia uma organização; aos que foram a cidades menores encontraram um prédio mal equipado, com alguns leitos e Centro Cirúrgico programado para pequenos procedimentos, pequenas cirurgias: cesáreas e apêndice, por exemplo, e fraturas. O Hospital com Atendentes de Enfermagem, que eram os profissionais existentes na época, formados em curso breve de poucos meses, um aparelho de R.X. de pouca penetração e mais nada.
A medicina nestas cidades era exercida pelo farmacêutico, benzedor e a parteira, aliás, pessoas muito bem quistas na cidade, sendo recomendado aos profissionais recém-chegados manter um bom relacionamento com os mesmos, caso contrario teria dificuldades com a população local.
A ambulância, ou a perua Kombi era sempre presente na localidade, na ausência de médico os doentes que tinham sintomas não resolvidos, eram colocados no veiculo e levado a cidades maiores onde congestionavam os Prontos Socorros. Não tanto como atualmente, mas já havia espera e agitação na porta. A condução ficava horas esperando e os que não foram internados retornavam a cidade local.
O numero de cidadãos queixosos era escasso; muito destes profissionais que substituíam os médicos tem atualmente seus nomes homenageados como nome de rua.
Com a evolução técnica, começou a se exigir cada vez mais exames especializados. Não que estes sejam absolutos, o que é uma falsa impressão; a maioria dos exames repete o exame clínico que é estudado em qualquer faculdade de medicina. O Ultrassom foi uma grande melhoria da percussão onde o médico batendo com o dedo indicador pelo som identificava os órgãos.  A tomografia é uma melhoria do R.X. onde fazendo penetração de imagens a cada centímetro com ajuda do computador se consegue uma imagem tridimensional das estruturas, e assim por diante. Houve grande melhoria de diagnóstico em tempo e precisão, sempre baseado na medicina de base que é ensinada.
A sofisticação em diagnóstico e aparelhagem é cara e, na maioria dos casos dispensável. Um profissional treinado pode perfeitamente fazer a triagem dos doentes que necessitam de um exame mais detalhado e os que podem ser tratados pelo exame clínico, afinal os exames imitam o homem e não ao contrário.
Como o preço é alto e nos casos de exame de laboratório o reagente uma vez aberto tem que realizar um numero X de exames, caso contrario vence e tem que ser desprezado, as pequenas cidades ficaram mais uma vez na mesma situação de 1975, sem médicos, com o agravante que os “farmacêuticos” que na verdade eram práticos desapareceram junto com as parteiras e benzedores. A situação piorou. Sem ninguém para atender a quem necessitava, os veículos se multiplicaram juntamente com as viagens aos centros maiores, com congestão em ambulatórios e Prontos Socorros.
A ideia do Governo de trazer profissionais de outros Países para realizar este atendimento básico, evitando encaminhar toda a população doente a centros maiores me parece válida, já funcionou com profissionais não médicos. Como estes profissionais vem com contrato por tempo determinado é plenamente possível que os médicos do País se organizem e no final do contrato digam se estes ficam ou se serão substituídos por médicos aqui formados.
A meu ver, o que não pode é a população ficar sem nenhum atendimento.

Tony-poeta
23/06/13




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