SE APOSSAR
DO BELO.
Em minha
infância convivi com um casal vizinho de origem alemã. No quintal quase comum
estava todo dia na casa do tio Rude e tia Helena. Bons momentos de minha tenra
infância. Na época tinha menos de cinco anos e, até falava algumas palavras em
Alemão.
O que
entre outras coisas ficou em minha imaginação foi o quadrinho brilhante de
borboletas embalsamadas. Lembro que até corri atrás de algumas pensando em
emoldura-las sem sucesso, felizmente.
Estranho é
o animal humano. Hoje sei! Tentamos capturar o que achamos belo, transforma-lo num
relicário egoísta para nossa admiração e demonstração de posse, como
possuíssemos alguma coisa em nossa breve existência.
Vi certa
vez um filme sobre hienas, um predador como os humanos. Também possuem uma
ordem social como qualquer outro ser vivo que se organiza em grupos. Dominam um
território e se sentem confortáveis e fortes tentam dominar a moradia do grupo
ao lado. Igual a nós. Porém, ao contrário que fazemos, respeitam o ambiente.
Mantendo certa distância. Aquilo que não serve para alimento é totalmente
ignorado. O belo se resume no útil, no que os sustenta, nada mais que isto.
A ampliação
do belo graças ao aumento do campo visual que impulsionou o primata humano,
além do dom da fala complexa deu como colateral o delírio de aprisionar aquilo
que tem destaque, conforme a moda de cada civilização. Colocar as borboletas em
quadros é apenas uma pálida amostragem do magro Pavão servido em um prato
pomposo como refeição de nobres, juntamente com o selvagem suíno com uma maçã
na boca. Como a sala de jantar com pele
de ursos no chão e chifres de alce nas paredes, o belo de tornou destruição.
Se os
animais têm ou não noção do belo, creio que são indiferentes, não importa. O
que vale é que a “invenção do belo” apenas serviu para captura dos mesmos, por
meio de assassinatos e, sua consequente extinção e, por outro lado, o
indiferente passou a categoria de “feio” sendo eliminado.
Se o
quadro das falecidas borboletas, que me trazem tantas recordações agradáveis, representou
o belo em minha caminhada, hoje sei que belo é a vida. Aqueles seres vivos
deviam estar voando na natureza. Estariam presentes até hoje.
Na
civilização atual o belo foi restringido a frias formas de concreto, onde se
tenta dar movimento as estruturas impessoais imitando as borboletas libertas da
moldura que as aprisionava, agora é tarde! Elas se dissolveram como toda matéria
orgânica se dissolve no tempo e foram extintas.
IMAGEM GOOGLE
07/10/2016
Tony-poeta
Nenhum comentário:
Postar um comentário