Dou-te u’a concha de presente
Que estava enfeitando a areia,
Quem a trouxe foi a sereia
Em uma tarde ao sol poente.
É uma concha pequenina,
Frágil, fina, delicada.
Mas uma mensagem cifrada
Escute-a atenta menina.
É a mensagem de Netuno.
É a paz do fundo do mar,
Muito tem para te contar
E muito tem de oportuno.
Diz ao pé, as linhas traçadas,
Que toda pompa e riqueza
Não se esconde na grandeza
Das baleias avolumadas.
E bem ao centro está escrito:
Não é dom, a felicidade,
Do tubarão, na verdade
Eterno monstro proscrito.
E no ápice, a construção,
Mostra-nos que a inteligência
Não pertence só a regência
Do golfinho brincalhão.
Na conchinha tão pequena,
Ao mar, insignificante,
Escreve-se puro e brilhante
Um poema que ao éter acena.
Há um reinado de carinho
No castelo em miniatura
Espargindo nas alturas
Toda solidez de um ninho.
Quando vires u’a conchinha
Para! Medita! Ela fala.
Veja a casa, entre a sala,
Vá jantar a sua cozinha
Olhe as linhas... Tudo é paz:
Lar, doce lar, na parede,
Um canto calmo, uma rede
Hinos de amor por detrás.
Em casa a conchinha imite,
Sim, a jóia insignificante.
E conseguido. Triunfante
Verás que o mundo aí reside.
28/01/1968
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