segunda-feira, 9 de julho de 2012

HOJE VOU ENVENENAR MEU CÃO


HOJE VOU ENVENENAR MEU CÃO




Sim, hoje é dia de envenenar meu York, o Lacan. Tenho de fazê-lo a cada dois meses.

O procedimento é o seguinte: Como este pode pegar carrapatos nos raros matinhos, que ainda restaram nas trincas dos cimentados e, pegar pulgas de algum visitante vindo da Capital; dizem que é infestada destes insetos, tenho que, para o bem deste envenená-lo.

Sabe-se que os carrapatos transmitem uma doença fatal para os cães, onde estes perdem a força, param de se alimentar e morrem. Portanto, guerra aos carrapatos. Já as pulgas mordem cachorros e homens, aí que está o perigo; é pânico na família. Uma pulga é um bicho e, nos olhos femininos transforma-se nos lendários dragões cuspindo fogo e destruindo tudo com seu rabo que termina em seta venenosa, contaminando todo o estatus social adquirido.

O envenenamento do Lacan se dá da seguinte forma: Agrada-se o animal. Tira os pelos do cangote. E coloca-se o veneno. Pronto! Por dois meses carrapatos e pulgas que se atreverem a pica-lo morrerão envenenados. Portanto estamos frente a um cão venenoso. Pensar: Que o Lacan é tão manso e festeiro!

Pensando neste envenenamento compulsório e periódico que tenho que realizar, prestei atenção em vários artigos, onde se reclamava que haviam sumido as abelhas, joaninhas, tatuzinhos bola e outros insetos tão comuns em minha infância. O envenenamento devia ser mais extenso, e não só o Lacan era culpado de andar envenenado. Percebi por exemplo que os grandes e belos condores da América do Norte estavam, devido ao BHC colocando ovos moles, que não reproduziam; ainda que as calotas polares estavam impregnadas de tais inseticidas.

Comecei então a prestar atenção nas grandes cidades. Um Condomínio de Luxo em lançamento, invariavelmente propaga uma área verde preservada, muitas vezes significativa para o tamanho do terreno. Correto e promissor. Mas, se formos olhar direito, o restante da área é cimentado, sem nenhum pé de capim. Até aí tudo bem, apesar de meu amigo Fernando sempre afirmar que somos Extraterrestres, onde tem terra: Asfaltamos.

Voltemos à área verde. Geralmente é uma área que sobrou de alguma propriedade, como conservação, com boas árvores. É isolada do restante do condomínio, uma espécie de mancha, e vai ser destacado um funcionário para cuidar.

Mas só até o prédio ser habitado. Na primeira reunião de moradores, para baixar a taxa do condomínio, este funcionário da área verde é sumariamente despedido. A área que se vire com a natureza, ou o pequeno pedaço desta, como sempre o fez.

Dependendo de onde se encontra o prédio, as preocupações com as garagens e com o congestionamento de automóveis, que se forma toda manhã, tentando sair do imóvel e não conseguindo ter acesso a movimentada rua onde foi construída. As nossas cidades atuais tem mais carros do que ruas para os mesmos, a área verde termina por ficar semi abandonada.

Digo semi, pois é frequentada por adolescentes, que querem lá ficar sem serem perturbados e, por crianças menores que querem bisbilhotar o que estes estão fazendo. Com as carreiras constantes, que os adolescentes impingem nos menores é: o que temos de vida, nesta mancha de mata.

Olhando melhor, vamos ver que os pardais, que até a juventude de meus filhos eram pragas, habitando qualquer cumeeira e sujando ao redor; sumiram. Apareceram em seu lugar as pombas, que aumentaram em muito e as maritacas, antes raras de se ver. Não sei o motivo, creio que o combate a dengue com seus caminhões fumacê tenham diminuído a população. Este método, hoje em desuso, consistia em cercar a residência de uma vitima de dengue, por vários quarteirões, soltando em vapor uma grande quantidade de inseticida. Provavelmente os pardais por seu menor porte, devem ter tido grandes baixas. Atualmente se descobriu que o método é praticamente inócuo como prevenção, pois as fêmeas, quem realmente procria e, transmite a doença, se abriga nas residências e é pouco atingida. O veneno mata os machos que vivem ao relento e existem em quantidade muito superior a suas parceiras. Mais um envenenamento inócuo. E os pardais realmente escassearam.

A ciência apresentou um progresso impressionante, mas manda o bom senso que façamos uma análise, não será tudo que foi descoberto que permanecerá. Sempre foi assim na história de humanidade, e não podemos por empolgação acreditar que já estamos a ponto de dispensar a natureza e viver só e somente no asfalto. Isto é falta de bom senso.

Por enquanto, vou chamar o Lacan para envenená-lo.



09/07/12

Tony-poeta


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