A VENDEDORA DE LOTERIAS
Esperar a balsa por longo tempo, meia hora como acontece em
dias de movimento, nos faz conhecer pessoas interessantes e anônimas. Existe em volta da única balsa que faz
travessia, uma porção constante de visitantes habituais, cada um com sua
demanda.
Tem uma Índia, ela diz é parece que realmente é; que pede
trocados; dou 25 centavos e esta sai meio contente, talvez se desse mais
abrisse o sorriso, mas três vezes por semana, esta quantia está suficiente.
O vendedor de amendoim cumprimenta-me, mas não se aproxima;
é que lhe falei que não como amendoins, uma desculpa. Gosto muito, mas como é
em casca, vai sujar mais ainda meu carro e terei um acréscimo de reprimendas
por não gostar de lavá-lo. Mentiras sociais, necessárias, infelizmente.
O vendedor de canetas para ajudar a clinica de combate as
drogas, após receber seus dois reais no primeiro dia, quando dei a colaboração,
me acena e não tenta repetir a venda.
Porém os que mais se aproximaram foram os vendedores de Mega
Sena. Não se conformavam de nunca ter comprado um volante.
Um senhor, creio que entre 50 e 60 anos, é muito difícil
avaliar idade de pessoas sofridas, logo se conformou da negativa de compra. Já
a moça, que é a que vejo com mais frequência, creio que seja a responsável pelo
ponto da lotérica, foi a que mais se aproximou.
O fato de não comprar bilhetes faz parte de minha filosofia
de vida. Demorei muito para compreender que a estabilidade, sem grandes
projetos é mais tranquila para se pensar. Tudo que corri para criar uma
estabilidade, três filhos e seus estudos, aguentar oito planos econômicos de
governos incompetentes, serviu para ver que o desgaste tinha chegado ao limite.
Pão, amor e uma cabana é realmente o que nos faz contactuarmos conosco mesmo.
Se nosso objetivo de
vida é amar e por ele manter a espécie para que se perpetue, isto feito, o
objetivo tem que ser o amor, mas o amor a nós mesmos, independente de religião,
e o respeito ao próximo, que só é próximo porque além de viver como nós; é
necessário para que nossa solidão deste individualismo, que creio que seja a
base do ser humano, não nos caia como um porrete rachando nossa cabeça.
Este meu pensar, me levou a me adaptar ao que tenho; o que é
pouco: um apartamento, um carro, um plano de saúde e uma aposentadoria
suficiente para a velhice. Não preciso mais que isto. Ah, tenho meus livros,
que são em numero suficiente para ler até o final de meus dias, e ainda
continuo a os comprar, é minha fixação consumista. Tenho todas as livrarias em favoritos na
intermete.
A vendedora, uma moça muito simpática próximo dos 40 anos,
um tanto gordinha, sempre sorrindo, nunca a vi séria. De inicio não se
conformava em minha teimosia em não tentar a sorte. Em um dia de pouco
movimento, expliquei-lhe que sempre que se sai de uma situação que tudo está
devidamente colocado e acomodado, para uma situação completamente diferente é
um transtorno. Ganhar um prêmio determinado que dê para comprar uma casa,
acomodar os pais, um carro e uma pequena poupança serão úteis, uma vez que não
separa a pessoa do seu grupo e não provoca um problema de acomodação social, [logicamente
na linguagem compreensível para a moça].
Ela tenha e tem seus planos. Possui uma lojinha em frente
sua casa, que toca com a família e, o dinheiro que ganha com a venda de loteria
era aplicado para aumentar seu pequeno negocio; o que é muito louvável.
Um destes dias ela me falou que parou de comprar bilhetes,
só iria comprar o de Natal e mais nenhum. Que era bobagem comprar toda semana.
Creio que está aderindo a minha filosofia. [tem gente que a acha louca].
Teremos logo mais um vendedor de prêmios, que apenas vende
ilusões, sabendo que é somente uma ilusão.
28/09/2012
Tony-poeta
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