sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A VENDEDORA DE LOTERIAS


                       A VENDEDORA DE LOTERIAS


 

Esperar a balsa por longo tempo, meia hora como acontece em dias de movimento, nos faz conhecer pessoas interessantes e anônimas.  Existe em volta da única balsa que faz travessia, uma porção constante de visitantes habituais, cada um com sua demanda.

Tem uma Índia, ela diz é parece que realmente é; que pede trocados; dou 25 centavos e esta sai meio contente, talvez se desse mais abrisse o sorriso, mas três vezes por semana, esta quantia está suficiente.

O vendedor de amendoim cumprimenta-me, mas não se aproxima; é que lhe falei que não como amendoins, uma desculpa. Gosto muito, mas como é em casca, vai sujar mais ainda meu carro e terei um acréscimo de reprimendas por não gostar de lavá-lo. Mentiras sociais, necessárias, infelizmente.

O vendedor de canetas para ajudar a clinica de combate as drogas, após receber seus dois reais no primeiro dia, quando dei a colaboração, me acena e não tenta repetir a venda.

Porém os que mais se aproximaram foram os vendedores de Mega Sena. Não se conformavam de nunca ter comprado um volante.

Um senhor, creio que entre 50 e 60 anos, é muito difícil avaliar idade de pessoas sofridas, logo se conformou da negativa de compra. Já a moça, que é a que vejo com mais frequência, creio que seja a responsável pelo ponto da lotérica, foi a que mais se aproximou.

O fato de não comprar bilhetes faz parte de minha filosofia de vida. Demorei muito para compreender que a estabilidade, sem grandes projetos é mais tranquila para se pensar. Tudo que corri para criar uma estabilidade, três filhos e seus estudos, aguentar oito planos econômicos de governos incompetentes, serviu para ver que o desgaste tinha chegado ao limite. Pão, amor e uma cabana é realmente o que nos faz contactuarmos conosco mesmo.

 Se nosso objetivo de vida é amar e por ele manter a espécie para que se perpetue, isto feito, o objetivo tem que ser o amor, mas o amor a nós mesmos, independente de religião, e o respeito ao próximo, que só é próximo porque além de viver como nós; é necessário para que nossa solidão deste individualismo, que creio que seja a base do ser humano, não nos caia como um porrete rachando nossa cabeça.

Este meu pensar, me levou a me adaptar ao que tenho; o que é pouco: um apartamento, um carro, um plano de saúde e uma aposentadoria suficiente para a velhice. Não preciso mais que isto. Ah, tenho meus livros, que são em numero suficiente para ler até o final de meus dias, e ainda continuo a os comprar, é minha fixação consumista.  Tenho todas as livrarias em favoritos na intermete.  

A vendedora, uma moça muito simpática próximo dos 40 anos, um tanto gordinha, sempre sorrindo, nunca a vi séria. De inicio não se conformava em minha teimosia em não tentar a sorte. Em um dia de pouco movimento, expliquei-lhe que sempre que se sai de uma situação que tudo está devidamente colocado e acomodado, para uma situação completamente diferente é um transtorno. Ganhar um prêmio determinado que dê para comprar uma casa, acomodar os pais, um carro e uma pequena poupança serão úteis, uma vez que não separa a pessoa do seu grupo e não provoca um problema de acomodação social, [logicamente na linguagem compreensível para a moça].

Ela tenha e tem seus planos. Possui uma lojinha em frente sua casa, que toca com a família e, o dinheiro que ganha com a venda de loteria era aplicado para aumentar seu pequeno negocio; o que é muito louvável.

Um destes dias ela me falou que parou de comprar bilhetes, só iria comprar o de Natal e mais nenhum. Que era bobagem comprar toda semana. Creio que está aderindo a minha filosofia. [tem gente que a acha louca].

Teremos logo mais um vendedor de prêmios, que apenas vende ilusões, sabendo que é somente uma ilusão.

 

28/09/2012

Tony-poeta

 

 

 

 

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