ORDEM E VIDA
Ordem é
a sala petrificada de um idoso desolado tecendo recordações; os bibelôs de
outrora estáticos nas prateleiras esperando um acontecimento. Nada acontece! Apenas
a poeira fica acumulada nas memórias desbotadas. Caso venha a faxineira e
movimente o ambiente, já não mais é ordem, apenas recordações, deleites e
sonhos passados e sofrimentos congelados.
A vida
é o poeta bêbado, duro num fim de semana, que acha perdida em uma gaveta, restos
da boemia, uma nota de cem reais esquecida. Pávido se dirige a padaria acordar
o Seu Jair, pede cerveja, mostra o dinheiro, e este sonolento e rabugento
entrega as garrafas que farão poemas, criarão sonhos e no recital etílico agitarão
a vida; o movimento circular trará o sorriso alegre de quem quer viver.
Ordem não
é progresso: é congelamento. Por dentro da bolha da ordem borbulham agitados
pensares, a bolha sofre pressões, quase de desfaz, aguenta! E do rebuliço saem
novas inspirações, novos fazeres, novas angústias, novos movimentos de amor.
Cabelos
penteados não fazem sexo. Só a agitação, os cabelos alisados por mãos trêmulas
de desejo, soltos ao vento conseguem acompanhar toda excitação, Ordem não faz
amor, ordem é o casal com tudo arrumado onde a mulher vê televisão e o homem
fica no computador, de tempos em tempos ruminam uma observação surda e sem
significado, até que vão a cama, um dorme e outro vê as notícias compartilhadas
no Facebook.
Nunca
busque a ordem, agite-se, enfrente momentos e curta a desordem, mesmo que esta
machuque. Não se descobre o objetivo da vida, nunca! Mas no rebuliço que
fizeres terás momentos agitados e alegres e poderás dizer: Eu vivo a vida!
14/05/14
Imagem
Google.
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