quarta-feira, 14 de maio de 2014

ORDEM E VIDA - crônica



ORDEM E VIDA



Ordem é a sala petrificada de um idoso desolado tecendo recordações; os bibelôs de outrora estáticos nas prateleiras esperando um acontecimento. Nada acontece! Apenas a poeira fica acumulada nas memórias desbotadas. Caso venha a faxineira e movimente o ambiente, já não mais é ordem, apenas recordações, deleites e sonhos passados e sofrimentos congelados.
A vida é o poeta bêbado, duro num fim de semana, que acha perdida em uma gaveta, restos da boemia, uma nota de cem reais esquecida. Pávido se dirige a padaria acordar o Seu Jair, pede cerveja, mostra o dinheiro, e este sonolento e rabugento entrega as garrafas que farão poemas, criarão sonhos e no recital etílico agitarão a vida; o movimento circular trará o sorriso alegre de quem quer viver.
Ordem não é progresso: é congelamento. Por dentro da bolha da ordem borbulham agitados pensares, a bolha sofre pressões, quase de desfaz, aguenta! E do rebuliço saem novas inspirações, novos fazeres, novas angústias, novos movimentos de amor.
Cabelos penteados não fazem sexo. Só a agitação, os cabelos alisados por mãos trêmulas de desejo, soltos ao vento conseguem acompanhar toda excitação, Ordem não faz amor, ordem é o casal com tudo arrumado onde a mulher vê televisão e o homem fica no computador, de tempos em tempos ruminam uma observação surda e sem significado, até que vão a cama, um dorme e outro vê as notícias compartilhadas no Facebook.
Nunca busque a ordem, agite-se, enfrente momentos e curta a desordem, mesmo que esta machuque. Não se descobre o objetivo da vida, nunca! Mas no rebuliço que fizeres terás momentos agitados e alegres e poderás dizer: Eu vivo a vida!

14/05/14

Imagem Google.

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