Três caixas de livros estavam sem espaço na casa de Frederico,
meu filho caçula. Nas diversas mudanças de residência, por motivos
profissionais, os mesmos ficaram para trás. Coisas de mais de quinze anos. Chegaram
hoje. Como apaixonado e grudado em meus livros corri olhar os que ali estavam.
Entre muitos livros importantes, como os dois volumes de O
Capital, que há muito eu cobrava o paradeiro, estavam embaladas duas coleções.
Os romances de Machado e a Coleção Cultura e sua história em minha vida.
Nos anos sessenta houve a febre das Feiras no Ibirapuera,
parece-me que numa U.D., feira de utilidades domésticas, na época abertas ao
público, fui com meu pai à dita exposição. As feiras eram agitadas, os
primeiros banners eram distribuídos, junto com amostras e outros cacarecos
promocionais, os visitantes ávidos mais por ter lucro, do que por novidades iam
ajuntando papeis e brindes, estes mais raros. O evento era muito concorrido com
uma multidão afluindo. [Hoje é feito no Anhembi].
Subitamente em um “stand”, fugindo ao tema da feira, vendiam
coleções de livros. Duas chamaram minha atenção de imediato. Uma chamada de
Cultura e outra de Shakespeare. Na coleção cultura, o que chamou minha atenção
foram três livros: A Ilíada, A Odisseia e os Lusíadas. Calhou de Sr. Carlos,
meu pai estar com dinheiro disponível e comprou as duas.
A coleção Cultura estava nos livros repostos; a do escritor
Inglês havia sido vendida num dos apertos dos tempos de faculdade, acompanhada
do devido luto. Sim, a perda de um livro sempre provoca tal reação nos vidrados
por livros. Avidamente comecei a recordar os amigos. Tinha ainda “Eram dos
deuses astronautas”, livro em moda da época que provocava acaloradas discussões
e um livro que trouxe grandes recordações: “O Átomo, de Fritz Khan”.
Estávamos há cerca de quinze anos das inaceitáveis explosões
nucleares do Japão. O tema átomo pouco era difundido na época e motivo de
mistérios em nosso grupo de adolescentes. O fato de possuir tal livro me colocou
em destaque. Lembro de ter lido e relido as matérias em nível acima do meu
conhecimento, aliás do conhecimento de todos nós. Abri o livro.
Na verdade com o conhecimento atual era um livro elementar, de
conceitos superficiais [acho que entendi por ser elementar], e com umas teorias
existentes na época, por exemplo: O edifício Martinelli reunindo os átomos se
tornaria uma agulha; mas tão pesada que quebraria o Viaduto Santa Efigênia, ou
ainda, uma casa sem porões faria mal à saúde, por não permitir a circulação das
partículas.
Dei um sorriso, imaginando o furor das teorias em nossas cabeças
e as discussões que provocaram. Mas, o mais importante hoje é Dia dos Pais e
este é um presente que continua me agradando apesar do tempo e das separações
da vida. Obrigado Papai.
Tony-poeta
10/08/2014
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