No reino
animal, ao qual pertencemos, há duas e apenas duas formas aceitas de combate:
guerra e predação.
O predador
ataca sua presa, sempre procurando alimentação, ou cercando-o como fazem os
lobos, ou pelas costas como os leões com os grandes animais do qual se
alimentam. Faz parte da sobrevivência do grupo e da espécie e, os protege de
ferimentos.
Entre iguais
a Guerra é sempre frontal, o animal que foge e é ferido pelas costas
denomina-se covarde, do mesmo modo que aquele que ataca seus iguais pelas
costas sem ser notado.
O humano
em sua história tem a tradição de, em conchavos, envenenamentos e punhaladas
vencer deslealmente e, sem luta, seus adversários. A isto damos o nome de
traição.
Uma vez bem-sucedida
a covardia o elemento enfrentará dois olhos.
Todos,
nesta sociedade unanimemente chamada de louca, vivemos sobre dupla vigilância.
Somos formados socialmente em nossa infância pelo olhar, olhamos todos e deles
incorporamos valores que nos acompanharão pela vida e nos olham dia e noite,
vigiam nossas ações e nosso repouso. Sempre o olhar interno está presente
estejamos só ou acompanhados.
Por outro
lado, o olhar de cada pessoa que cruza nosso caminho, que comparamos conosco,
mesmo que não se dirija a nós é presente. A roupa que usa, o penteado dos
cabelos, o modo de andar ou a expressão facial olha e compara, não vivemos sem
que a sociedade nos olhe e é exatamente isso que conforma o grupo social.
O traidor
tem que enfrentar estes dois olhos. O interno que o reprova, mesmo que tente
demonstrar que venceu e é superior e, também cada pessoa que passa a sua
frente.
A
duplicidade lembra a Paranoia; onde pelo olhar se projeta a própria angustia e
os próprios medos a outro, nesta cópia de loucura, sente o olhar de reprovação
de todos, independentemente[A1] de ser verdadeiro e direto ou
falso e dispersivo: para ele todos os reprovam.
Os dois
olhares passarão a guiar seu novo mundo infrator, o interno que o recrimina sem
parar e o externo que o acusa a cada encontro com humanos. Está instalado o delírio.
De início
começa a querer eliminar todos olhares de quem sabe o que ele fez e o acusa: Os
golpes de estado sempre são seguidos de eliminação dos vencidos por meio da
traição. Quer com sangue, masmorras ou exilio, cada olhar externo tem que ser
eliminado.
Tal
atitude não soluciona o problema, o olhar interno continua acusando, alucinando
que o olhar externo de cada pessoa que passa que passa tenha um indicar
apontando como acusador.
A fase
seguinte, com as vítimas testemunhas eliminadas pela agressividade dos olhares,
o traidor começa a atacar seus comparsas para eliminar os olhos que o fitam,
como que esta solução mágica apagasse o olhar interno que o enlouquece. Em vão!
A solução
para aplacar os olhares, até agora malograda, volta-se a tentar o
reconhecimento de todos.
Qual o
reconhecimento que um louco pode ter senão a guerra?
Inicia-se
a lavagem de sangue, guerra atrás de guerras, mortes onde os campos de batalha
cobrem-se de vermelho, mas os cadáveres continuam a o olhar, já que o olhar
está dentro e não fora.
Se a
morte não pegar antes nosso delirante, por certo o isolamento de qualquer olhar
seja a última e inútil tentativa, pois os olhos internos também estão nas
masmorras onde foi jogado. E o infeliz delira até a morte sentindo-se olhado
com reprovação.
A
história de Napoleão, traindo o proletariado com um golpe de estado, a seguir
banhando a Europa de sangue e morrendo isolado numa ilha, mesmo com o
reconhecimento de um grande general que lhe atribuíram, exemplifica a monotonia
que acompanha os traidores.
21/04/16
Tony-poeta
[A1]ente
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