quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

MORRER EM CASA





MORRER EM CASA.





José Barbosa da Silva estava grave. Seu coração há muito falhava e agora não mais queria funcionar. Deitado, ou melhor, semi-sentado, com respiração difícil, quase não respirava. Estava todo inchado, há muito tinha edemas, mas agora estes pioraram. O doutor que acabara de sair falou que era ascite, e explicou, que era água na barriga, para seus filhos perplexos.  Na verdade estava morrendo.

José, valente caboclo do Velho Chico, que dizia que o atravessava a nado e era verdade, sempre mandou com mão de ferro em todos da família. Quando o médico falou de Hospital foi taxativo: - Homem do Velho Chico morre em casa.

Por mais que o médico, seus três filhos e quatro filhas argumentassem, ele não cedeu.

O médico do Home Care foi embora. José Filho até concordou que, mesmo pagando um mil reais por mês no plano de saúde, não poderia o médico ficar todo dia esperando Sr. José se resolver.

Sentaram os sete em volta da mesa da sala, deixaram a porta do quarto do doente aberta para que ficasse visível e, ficaram a confabular sobre o que fazer. Sr José, mesmo quase sem conseguir falar, dava palpites.

Por mais que pensassem e tivessem as mais diferentes idéias, estas ou eram absurdas, ou o doente as refutava de pronto: - Homem morre na sua casa, repetia.

Tonico, o mais novo lembrou-se de Severino, afilhado do moribundo, que este tinha muito apreço. Morava a meia hora dali, talvez ele o convencesse. Assim fizeram.

Severino chegou assustado, sabia da doença crônica do padrinho, mas não do agravamento. Pediu a benção, sentou-se ao lado da cabeceira e tentou convencer Sr José por mais de quinze minutos. Em vão. – Homem morre em casa, repetia.

Sr José piorava. Os sete mais o afilhado voltaram a sentar em volta da mesa. José Filho falou:- ele vai morrer em poucos minutos. Não é justo deixar de satisfazer seu último desejo. Todos concordaram.

-E o atestado de óbito? Lembrou Maria a filha do meio.

-O Home Care dá. O doutor falou que atesta.

- Então vamos esperar e fazer a reza, falou Maria.

Severino, que até então estava quieto, perguntou:

- Como é que se faz um velório no vigésimo primeiro andar?

Todos seguraram o fôlego. Por fim José Filho resolveu perguntar aos bombeiros.





25/01/2012

tony-poeta pensamentos




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