MORRER EM CASA.
José Barbosa da Silva estava grave. Seu coração há muito falhava e agora não mais queria funcionar. Deitado, ou melhor, semi-sentado, com respiração difícil, quase não respirava. Estava todo inchado, há muito tinha edemas, mas agora estes pioraram. O doutor que acabara de sair falou que era ascite, e explicou, que era água na barriga, para seus filhos perplexos. Na verdade estava morrendo.
José, valente caboclo do Velho Chico, que dizia que o atravessava a nado e era verdade, sempre mandou com mão de ferro em todos da família. Quando o médico falou de Hospital foi taxativo: - Homem do Velho Chico morre em casa.
Por mais que o médico, seus três filhos e quatro filhas argumentassem, ele não cedeu.
O médico do Home Care foi embora. José Filho até concordou que, mesmo pagando um mil reais por mês no plano de saúde, não poderia o médico ficar todo dia esperando Sr. José se resolver.
Sentaram os sete em volta da mesa da sala, deixaram a porta do quarto do doente aberta para que ficasse visível e, ficaram a confabular sobre o que fazer. Sr José, mesmo quase sem conseguir falar, dava palpites.
Por mais que pensassem e tivessem as mais diferentes idéias, estas ou eram absurdas, ou o doente as refutava de pronto: - Homem morre na sua casa, repetia.
Tonico, o mais novo lembrou-se de Severino, afilhado do moribundo, que este tinha muito apreço. Morava a meia hora dali, talvez ele o convencesse. Assim fizeram.
Severino chegou assustado, sabia da doença crônica do padrinho, mas não do agravamento. Pediu a benção, sentou-se ao lado da cabeceira e tentou convencer Sr José por mais de quinze minutos. Em vão. – Homem morre em casa, repetia.
Sr José piorava. Os sete mais o afilhado voltaram a sentar em volta da mesa. José Filho falou:- ele vai morrer em poucos minutos. Não é justo deixar de satisfazer seu último desejo. Todos concordaram.
-E o atestado de óbito? Lembrou Maria a filha do meio.
-O Home Care dá. O doutor falou que atesta.
- Então vamos esperar e fazer a reza, falou Maria.
Severino, que até então estava quieto, perguntou:
- Como é que se faz um velório no vigésimo primeiro andar?
Todos seguraram o fôlego. Por fim José Filho resolveu perguntar aos bombeiros.
25/01/2012
tony-poeta pensamentos
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