SOCIEDADE E SOLIDÃO
João levou um tombo frente à casa pobre do vizinho. Estava só. A esposa voltaria no dia seguinte, fora fazer compras. Iria almoçar no restaurante, era folga da empregada.
Estava a caminho do restaurante, resolvera andar um pouco, estava a pé, quando caiu em frente da casa quase desabando que o Manuel não vendeu para que se construísse um prédio. E alugava sem nenhuma mão de cal.
Bateu o joelho, ficou passado de dor. Não conseguia se levantar.
O dono da casa que desabava, Seu Salvador o socorreu. Viu que a calça estava manchada de sangue. Diante da dificuldade que este tinha de caminhar levou-o para dentro da residência. João ficou assustado. Ficou inclusive com medo.
Todos da casa vieram acudi-lo. Barbara, a filha mais velha, que fazia curso de enfermagem, olhou o machucado, limpou-o e colocou gelo, imediatamente providenciado por Dona Lourdes, esposa de Salvador.
João, menos temeroso conheceu a família: Seu Salvador, Dona Lourdes, Barbara, Rafael e Robinson. Iam desligar o som com musica regional, mas imediatamente ele interviu e disse gostar da musica. Na verdade nunca tinha prestado atenção na mesma.
Relatou que estava só em casa e ia almoçar. Fizeram questão que almoçasse com eles. Tinham comprado um pedaço da Assem e feito com mandioca. Pela insistência acabou aceitando e, gostou. Comeu com gosto.
À tarde, já com menos dor Seu Salvador e Rafael o levaram para casa. Disseram que iam levar alguma coisa para ele jantar. Tentou recusar, mas não convenceu.
Jantou uma saborosa sopa de fubá com couve cortada bem fininha, adorou e achou divino. Perguntou-se como nunca tinha experimentado aquilo.
Pela manhã chegou a esposa. Falou que caiu:
- Isto que dá andar descuidado. Falou ela. Mal olhou para o machucado e foi desfazer os pacotes:
- Bem, olha o que comprei.
Os filhos lhe deram um beijo social e foram para o computador.
- Marta: acabei almoçando na casa dos vizinhos, aquela que você diz que está caindo.
- Credo! Devia estar ruim. Esta gente não sabe fazer nada.
- Estava ótimo, eles ainda me trouxeram e a noite vieram com a janta.
- Entraram em casa, não roubaram nada? Você olhou?
- É gente trabalhadora, gostei muito deles.
- É o que me faltava: gostar de gente que vive quase em favela.
Desembrulhando as compres, Marta completou:
- Vê se sara logo. Sexta feira nós vamos para Campos e você tem que estar bom. Não vou sozinha.
João saiu de fininho e escreveu este poema:
Solidão
É sentir-se só consigo.
Solidão
Não é estar desacompanhado.
Solidão
É perder-se do tecido social.
Estar presente
Não estando
Estar cantando
Não escutando
Estar dançando
Com a alma congelada
Contida pelo gelo que forma a armadura.
Solidão
É a vibração do ser
Ficar retida dentro dele mesmo
Não ecoar, apenas repetir.
No martelar da mente
A aflição de não ser compreendido.
Solidão não é ausência
É ter na parede do ser
Uma gravura colorida
Com muitos personagens
Mudos que te ignoram.
Solidão é a presença não presente.
E ficou amuado, pensando... Pensando...
18/06/12
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