FUGA
Meus olhos miram os seres
Na calçada fria, sem vida,
Onde deambulam
Do nascente ao poente.
Carros passam com suas cores metálicas.
Decibéis de ruídos agitam os tímpanos,
Ora vindo do ronco dos escapamentos,
Ora das explosões frustradas por velas sujas.
Tudo caminha vulgarmente:
Nada mais são as pessoas
Que fontes iluminadas
Por luzes de combustão.
Começo a me afastar:
Meus olhos, como que penetrando no éter,
Veem cada vez mais pequenos
Os bonecos dos seres.
E, então metamorfozeiam-se em brinquedos,
Delicados brinquedos de roupas coloridas.
Na sua pequenez caminham,
Andam como que se tivessem recebido longa corda,
Vão em nada, vão frios
Perambulando em busca da inexistência.
De repente desdobro-me
Meu espírito olha o corpo,
Também pequenino de roupas coloridas,
Igualzinho aos bonecos acionados pelas cordas da vida.
Perambulo também pelo desencontro dos espaços.
Sou boneco também!
Por tudo corro,
Nada faço,
Rio com a graça,
Choro com a tristeza:
Vejo depois que a graça
Pode ser o disfarce da tristeza,
Ou ao contrário...
Nada existe!
Tudo existe!
Contradição?
Sim...
Não...
Tudo passa...
Eu passo,
Tu passas,
Ele passa,
Nós passamos...
08/02/1970
Tony-poeta
Publicada em “OS ANTÍPODAS”
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