segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O VENTO

imagem google

O VENTO


 

Deitado estava, era uma tarde de calor, melhor dizendo, um final de tarde de um dia muito quente. Estava cansado, tentava descansar. Levantei as pernas e tirei os pés da terra.

Reparei que nunca coloco os pés ao ar. Ele sempre é o contato terra vida. A vida da terra se sente a meu pisar. Mesmo as aves, estas voltam a terra e a água, ninguém desliga do planeta, estamos nele grudados como metais presos a um imã potente. Realmente a Terra nos liga, vibra em nós, por mais que nos achemos independentes, lá está o solo a transmitir esta condição aprisionante, estamos presos ao solo.

Começou a madorna que antecede ao sono. O ventilador ligado solta sua brisa que refresca o corpo cansado e os pés ao ar. Foi por ele, na hora que o vento tocou a sola dos pés acostumados de terra, que me tornei vento. Este entrou pelo solado e me libertou da prisão terrestre, podia voar solto sobre ela. Era o vento. Não mais terra.

Não era espirito, espirito de certo modo é preso na terra. Muito além da condição de alma eu corria o planeta. Subi lá no alto, peguei a corrente, mais rápida e fria para me refrescar, dei volta na terra, vi todas as paisagens dos continentes, esparramei as sementes para decorar. O Vento é pintor que espalha na terra as suas cores e, faz os arranjos de folhas e flores para agradar, que bate no oceano, agita as aguas e de modo matreiro rouba conchas das sereias e espelha-as na areia, para as moças enfeitar.

Gostei da pintura, desci das alturas para perto brincar, agitando as ervinhas, tirando os gametas, para fertilizar, brincava contente, brincava cantando, a terra enfeitando, estava a pintar.

Olhei: Isabela! É ela! Estava a andar, com cabelos soltos, a saia rodada para refrescar, andava graciosa na terra que prende, tentando voar para poder sonhar. Resolvi brincar com ela. Despenteei seus cabelos, fi-los voar. Com as mãos graciosas, ela os começou arrumar. Cada arranjo que fazia, sorrindo eu ia de novo a despentear.

Ficou chateada, fez beicinho, já ia xingar. Achei tão bonito, gosto quando fica irritada, com seu rosto zangado, só atrai o amar. Levantei sua saia. Rápido ela abaixou; - dei risada porque só a terra ia olhar: sozinha ela estava, que eu era o vento, ela não sabia.  A terra por debaixo já estava a olhar. Fiquei brincando, cabelos despenteando, a saia levantando e vendo-a se chatear. Ah, se não fosse vento, iria à boca vermelha, de um jeito gostoso, beijar.

Estava tão entretido, quando a terra enciumada veio me chamar. Minhas pernas caíram da almofada, caindo na cama, perderam o voar. Sumiu Isabela. Resolvi levantar.

 

10/12/2012

Tony-poeta

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário