segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

boite saloon e a briga na boate


BOATE SALOON E A BRIGA NA BOATE.


 

Nos anos sessenta a Rua Augusta tinha atingindo seu apogeu. A rua de paralelepípedos cor de rosa tinha duas boates com alta frequência, entre a Avenida Paulista e a Rua Estados Unidos, o Hi-Fi e a Saloon.

A boate Hi-Fi ficava no andar superior de um sobrado, com uma escada de 45º de acesso que percorria da frente ao fundo do prédio, pode se considerar uma grande escada íngreme. No solo ficava a loja de discos e outra de roupas, do mesmo nome, com novidades dos EUA em CD’s e compactos. Era relativamente pequena, com amendoim grátis e farto, ambiente muito escuro e o som ficava por conta do toca discos. Não havia ainda nem luz negra ou estroboscópica, que chegaram alguns anos depois.

A Boate Saloon era sem dúvidas o chamariz. Ficava do outro lado da rua, no fundo de uma galeria de lojas, com entrada do lado direito. O afluxo era grande e já se formava na época aglomeração na entrada nos finais de semana, o que era controlado pelo Pedrão.

O Pedrão era um ex-boxeur, peso pesado, do tamanho da porta e evidentemente muito forte. O seu corpanzil fechava literalmente a entrada e, para ter acesso, ou sair do estabelecimento dependia dele, que fazia a triagem por conhecimento ou simpatia. De quem ele não gostasse não entrava. Havia mais dois ou três seguranças que ficavam do lado de dentro, não interferindo no trabalho grande porteiro.

Passando a porta, um pequeno Hall dava acesso à escada e consequentemente a boate propriamente dita, bem maior que sua concorrente do outro lado da rua; com espaço que compreendia o subsolo do prédio, o que hoje seria a garagem. A esquerda estava o balcão e a cozinha, a seguir o palco, e os camarins atrás deste; e a direita quatro fileiras de mesas contornando o tablado onde se dançava Twist e Rock de sucesso na época. A música já era ao vivo, com conjunto contratado pelo estabelecimento.

Num final de semana, dois grupos de jovens rivais, os famosos Boys da Augusta se desentenderam e iniciaram uma briga de grupos [na época não era comum o uso de armas, felizmente]. Por se tratar de muitos elementos de cada lado generalizou o caos no estabelecimento. Corri para a parte mais distante junto às paredes; notei que a banda guardou em instantes seus instrumentos e se escondeu no camarim atrás. Os garçons desapareceram na cozinha e no balcão. Os seguranças devem ter se sentidos inseguros, pois não apareceram.

Foram só mesas, cadeiras, copos e garrafas que voaram, em meio de pânico geral. As garotas e garotos de 18 a 22 anos procurando abrigo sem encontrar, gritos dos briguentos e dos fugitivos tomando conta do ambiente.

Por ser de moda e, com medo dos Hippies que frequentavam as imediações a policia foi pronta a chegar e desfez a confusão, prendeu os contendores para que estes pagassem os prejuízos e a boate fechou naquela noite; os acidentados foram só pequenas escoriações e não me lembro de relatos de Boletins de Ocorrências.

Este fato veio-me a memória com o Incêndio da Boate Kiss. Após cinquenta anos, ou seja, meio século a segurança piorou. Hoje temos show pirotécnico em ambiente fechado [absurdo], revestimento acústico inflamável para incrementar o risco [não existia tal revestimento na época], continua com uma só porta de entrada com vários Pedrões na mesma conferindo comandas, e... continua sem saída de emergência ou rota de fuga. Lastimável.

Creio que existam leis especificas para cada item [não pesquisei], creio que os envolvidos devam ser punidos dentro de suas responsabilidades, incluindo o empresário, os músicos, os seguranças mal treinados, o órgão responsável pelo alvará de funcionamento [se não foi revalidado é porque já havia anterior e estava permitido], o Ministério Publico a quem cabe velar pela segurança do cidadão. Não podemos investigar o meio século em que as leis foram sistematicamente burladas, mas deveria ser feita uma advertência aos antigos responsáveis, mesmo que falecidos.

O mais importante no momento é saber quantas casa iguais temos no País, creio que cheguem a centenas; se estão sem condições como estava a Kiss e que se tomem as medidas de interdição as irregulares, até que cumpram as normas. Por outro lado, dada à gravidade demonstrada pela tragédia, que se institua na Câmara Federal um projeto lei, normatizando com rigor a nível Nacional tais estabelecimentos.

Quanto às famílias enlutadas resta apenas dar nossa tristeza e solidariedade, e pedir que outros planos astrais aliviem sua dor.

 

28/01/13

Tony-poeta

 

 

 

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