terça-feira, 15 de novembro de 2011

FERIADO EM PRAIA GRANDE






Tudo começou com o porteiro do prédio. O zelador reclamou que não viajava e João, o porteiro se indignou: - Se guardar um real por dia, no fim de um ano tem trezentos e sessenta e cinco. Dá para pagar o ônibus e dois dias de pensão na praia.

Achei que tinha razão. Estávamos nos anos noventa e o dinheiro estava curto em geral. Cheguei ao Hospital Cristo Rei, a Marina fazia a mesma queixa. Retransmiti a idéia.

Marina, de mais de 40 anos, solteira, foi falar com Julia, com o mesmo perfil. Julia entendia de contas. Trabalhava na contabilidade.

Confabularam, confabularam, o Hospital e seu plano de saúde empregavam mais de 50 moças, a maioria solteira ou descasada, sem dinheiro. O pagamento além de pouco, muito atrasava. Reuniram-se e resolveram viajar nos Finados. Começaram a viabilizar a viagem. Primeiro arrumaram com um cliente um Kitinet na Praia Grande, por um preço realmente barato. A seguir conseguiu, com um conhecido de Ana, outra funcionária, uma Van com onze lugares. Este rapaz fazia lotação em São Paulo e deixava a família no Litoral, só pagariam o pedágio e a gasolina. Faltavam 120 dias. Selecionaram as outras oito que participariam, fizeram os cálculos. Começaram os preparativos e a economia. Um real por dia. Fora os gastos pessoais.

Como as vaidades não podiam ser desprezadas, todas, mulheres desimpedidas, a economia teve que aumentar. Cortaram meio almoço. Começaram a pegar cinco marmitex, no quilo em frente, onde as seis comeriam. À tarde passariam a andar a pé até o ponto, dispensando a interligação do Metrô. Economia de uma passagem. Para tanto começaram a deixar os sapatos de salto, que eram obrigadas a usar, na seção e se locomover de sapatilhas.

As roupas normais para viagem compraram no Brás, perto do serviço. Já a de praia, a viseira, o chinelo, a toalha colorida foi comprada em uma fábrica que descobriram. São Paulo é ruim de artigos de praia.  Como a roupa de banho foi adquirida em um só local; em um sábado, as onze, dirigiram-se em bando a fábrica, para não sair igual a um “par de vasos”.

Chegou o finados. Saíram conforme o combinado. A estrada estava cheia. Três horas de congestionamento. Perderam o sol da manhã. Comeram alguma coisa que haviam trazido e foram para praia. Era meio dia.

Voltaram ao por do sol. O bronzeador não protegeu. As paulistanas, branco leitosas, após anos sem tomar nenhum raio de sol, estavam vermelhas que nem camarão, ardendo e doidas. Passaram Nívea, Leite de Magnésia. Deu certa aliviada e foram dividir os três beliches, em onze pessoas. Lógico, sobraram cinco que teriam que se acomodar no chão. Escolheram as menos queimadas para as camas. Ia doer muito no chão.

Dia seguinte, após longa fila da padaria, tomaram café e desceram. O tempo já ameaçava chuva. Ainda dava para ficar na praia. Serviram a caipirinha que tinham preparado. O Paulistano acredita não se sabe por que, que a bebida alcoólica não sobe nem faz efeito no Litoral, e se não beberem, não foram à praia. Tomavam o aperitivo começou a chover. Estavam salgadas e com areia, foram fazer o rodízio do banho.

Estava Rose, a terceira a tomar banho, acabou a água. O litoral não estava preparado para muita gente na temporada. Além das filas em tudo que fosse adquirir, faltava água e ocasionalmente luz.

 Foram falar com o Zelador, que fazia tudo no prédio, ele indicou a construção vizinha que a caixa d’água não era usada. Daria para pegar alguns baldes de água de emergência. Não muitos, pois os outros apartamentos também usavam. O zelador tinha balde para a emergência. Tomaram banho de gato e restringiram o líquido para alimentação, lavar a louça e limpar a privada, senão não agüentariam o cheiro.

A pele ardia mais no dia seguinte, continuava chovendo, foram buscar a água. Tinha acabado a luz também. Cinco andares de escada, no escuro, carregando balde. Ficaram se distraindo como puderam no apertado apartamento.

Dia seguinte. Hora marcada, pegaram a estrada, ainda congestionada e foram deixadas no Metrô em São Paulo. Acabara a viagem.

Na segunda feira contavam a Marta, que não pode ir, a viagem e esta falava:- Na próxima vou junto se tiver desistência.


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