domingo, 13 de novembro de 2011

O GUARDA-CHUVA.





Dizem que:- Homem não gosta de ganhar presentes. Ouço desde criança. Lembro-me ainda, meus aniversários onde morria de vontade de ficar a porta para receber e, meu pai me educando dizia:- O importante são as visitas, não o que trazem.

Hoje a sociologia diz que os afetos são aprendidos e não espontâneos. Concordo, naquele tempo ficava que nem os cães de Pavlov, sem poder salivar. Não aprendi ganhar presentes.

Enquanto as mulheres fazem a maior festa quando agradadas; nós homens apenas dizemos um seco:- Obrigado. Meu filho, mais expansivo, encontrou uma solução. Quando recebe alguma coisa, fala alto de boca cheia:- OBA! Está melhor que a média.

No geral este nos é um assunto muito difícil.

No final do ano é um martírio. Festa do escritório: No amigo secreto recebemos presentes de quem mal conhecemos. Na vizinhança onde o justamente o João, que brigamos por causa do muro, vem com um agrado. Na família é pior ainda. Tem a lista das crianças. Recheada. A lista das esposas. Bem cara. A lista das solteiras. Só uma recordação barata principalmente se não for parente. E a lista dos homens. O que sobrou do dinheiro, ou seja, muito pouco.

No dia vinte e seis contabilizamos. Primeiro recebemos críticas por ter dito um obrigado muito baixo e com lábios de fotografia. A seguir contamos os cintos, agendas, carteiras e mais algumas tranqueiras que não precisamos.

Há alguns anos atrás ganhei um guarda chuva. Estava começando a epidemia de importados. Era um deles. Não era preto, era de um azul escuro, na verdade discreto, com minúsculas flores de Liz espalhadas sem espalhafato. Foi uma vizinha que trouxe o agrado. Recebi com a cara padrão e coloquei no carro. Por dentro pensei:- Não gosta de mim, só falta a galocha azul turquesa.

Depois de usá-lo em algumas ocasiões, ele começou a receber elogios pela cor e discrição. Confesso que mudei de opinião, e até algum afeto dispensei ao mesmo.

Um dia, Bibi, é o nome da presenteadora, visitava minha esposa e começou a chover. Foi emprestado o simpático guarda-chuva. Ela nem lembrou que foi ela quem o trouxe. Saiu com o guarda-chuva e nunca mais este voltou.

Só posso concluir que lembrança é para lembrar, não para uso. Continuo não sabendo receber presentes.


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