segunda-feira, 10 de setembro de 2012

DEU MACACO


DEU MACACO


 

Luiz Felisberto dormiu mal. Sonhara a noite toda com o ruivinho sardento da vizinha. Pensava: - O diabinho faz barulho o dia todo e, nem dormindo me dá sossego. Foi fazer o café. O pó só dava para dois dias. Fez a conta:

- É domingo. Até quarta são quatro dias. Fica faltando dois. Pelo menos o Leite em pó tem bastante. Tomo só leite.

Tomou o café. Foi ao armário. Dois pacotes de Miojo. Correu a geladeira: três ovos e bastante cebola e um pão de forma praticamente inteiro.  Pensou:

- Pinduro no Alaor o almoço de segunda e terça; à noite me viro com o que tem. É pouco, mas dá para quebrar o galho. Quarta sai a aposentadoria.

Abriu a carteira, nenhuma nota. Contou as moedinhas:- Dois Reais: não dá para nada! Saiu para votar. Foi pensando pelo caminho:

- Êta mês ruim, com este negócio de eleição e, chovendo todo dia não deu para fazer nenhum biquinho. Nem uma construção ou um jardim. Foram só os Seiscentos da aposentadoria, nunca dá. Ainda bem que não pago aluguel. Dirigia-se a Escola para cumprir o dever cívico, quando viu a loira Shirley, com todas as banhas acomodadas no banquinho e, a mesinha do bicho preparada.

- Bom dia, loira. Faz bicho hoje.

- Bom dia Luiz, o senhor vai jogar hoje? Vai continuar chovendo, nunca jogou.

- Antigamente jogava.  Mas, tem jogo em dia de eleição.

- O bicheiro falou que precisa de dinheiro e, vai correr às duas da tarde.

Luiz pensou: dois e nada é igual.

- Quanto está pagando o grupo.

- Dezessete.

- Para cada real?

- Sim.

Pensou trinta e quatro é melhor que dois, como alguma coisa mais substanciosa.

-Joga dois no macaco.

- Dezessete.

- Isto. Sonhei com o macaquinho de meu vizinho a noite toda. Ele andava pelo teto, balançava no lustre, pulava na pia. É macaco 17.

- Tomara que o senhor ganhe. Afinal, sempre se ganha na primeira vez. Falou Shirley.

Saiu matutando:

- É a última eleição que voto. Se não votar não pagam a miséria da aposentadoria. Politico nunca fez nada para mim. Quando desempregado, passei até fome. Dois anos de bico até arrumar um empreguinho de escriturário. Ainda bem! Consegui aposentar.

Olhou para uma casa estava uma faixa. Gervásio 17.

- Pensou não tem nem o partido. Mas é macaco. Vou votar. Como é mesmo que jogava em São Paulo?  Ah! Tem o grupo: É o dezessete!  A dezena...  Vai de 17 também. Voto para prefeito e vereador. Tudo 17.

A noite saiu para uma volta. Shirley o chamou:

- Não quer o dinheiro?

- Deu?

- Não falei que ia dar sorte?

Pegou o dinheiro e foi direto para a padaria. Comprou dois pães e cinquenta gramas de mortadela. Encontrou três vizinhos. Sentou e até pediu uma cerveja.

A eleição já estava na apuração. Ficou ouvindo e não falavam do Gervásio. Começou até torcer. Por fim deram a relação total. Dos dez candidatos o dele era o último. Foi a maior gozação na mesa:- Velho, você apostou no último. E riam.

Falou aos amigos até chateado:

- Nunca dei sorte em politica. Foi comer seu lanche em casa, cabisbaixo.

Tony-poeta

10/09/2012

 

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