terça-feira, 11 de setembro de 2012

O TEMPO PAROU


O TEMPO PAROU


 

Mané abriu os olhos. Abriu por abrir. Não tinha nada em mente. Não pensou no que faria, ou no que já fizera. Nem se importou onde estava. Nada vibrava ou tinha afetos a seu redor.

Olhou para o lado.  Ofélia estava deitada. Nenhum pensamento passou pela sua cabeça. Estava calma na cama, mal se sentia a respiração. Não se preocupou se estava viva ou morta. Nada lhe ocorreu no momento.

Saiu do quarto, sem saber o motivo. Não pensou em ir a nenhum lugar. Como autômato passou na sala. Confúcio, seu cão dormia. Não abriu os olhos, não fez nenhum movimento, nem abanou o rabo. Não lhe deu nenhuma atenção. Ficou indiferente. Ele nem notou.

Foi à cozinha, por ir. Não fez nada. Não abriu a geladeira, não tomou água e nem prestou atenção que Confúcio continuara estático, não o acompanhando, como sempre fazia.

Voltou à sala, por voltar, não tinha nenhuma intensão em mente, não tinha nada na cabeça. Olhou pela vidraça, sem abri-la; aliás, isto não lhe ocorreu. Tudo estava parado. A paisagem parecia uma natureza morta emoldurada no quadro da vidraça. Não se importou. Não sentiu nada, aliás, não sentia coisa nenhuma, não tinha nenhuma preocupação, nenhum pensamento.

Sentou-se ao sofá, ao lado de Confúcio. Este só se movimentou acompanhando o sofá que afundou com o peso do Mané e, continuou estático e desconectado.

Estava sentado há algum tempo, que não sabia e também não necessitava precisar.  Não sentia nenhuma necessidade para tanto.

 Não sentia nada, quando sua mão caiu do encosto do sofá e bateu no controle da TV. Esta ligou. Mostrava um relógio digital, marcando ano, mês, hora dia e segundos; o ponteiro dos segundos corria compassado, marcando não se sabe o quê; mas, continuava a rodar.

Continuou sentado; o tempo, mesmo com o relógio que rodava sem parar, não lhe dizia nada e como Zumbi lá ficou.

-Mané, você não pagou a conta da TV a cabo? Era a voz brava de Ofélia que acordara.

Confúcio latiu, abanou o rabo e pulou do móvel. A Televisão passou a mostrar a cena de adultério, na novela.

Foi tomar água, Confúcio o acompanhou abanando o rabo e, pedindo um biscoito.

Ele achou chata a vibração e os afetos do mundo e voltou para o quarto.

 

11/09/12

Tony-poeta

 

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