terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

QUANDO COMEÇOU A VIOLÊNCIA?



A imprensa destacou estes dias a violência. Tivemos Manchetes em São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro, Paraná, além, das que já tinham destaque cotidiano; nas zonas rurais e nos desmatamentos.

Alguns artigos de esquerda afirmam que se manteve a herança da ditadura. Já os de direita dizem serem fatos isolados, e por ordem judicial, quando são acusados. Na verdade estamos numa explosão de violência?

A meu ver não!

Tentarei explicar usando minhas lembranças, sem recorrer à bibliografia. Valido como depoimento e história.

Apercebi-me da violência na morte de Getulio Vargas, até então era muito criança. Estava indo a aula no Grupo Escolar quando veio a noticia. Fomos dispensados. Foi o que me marcou. Nos meses seguintes falou-se em estado se sitio. Juro que por mais que me explicassem não entendi. Sitio era onde moravam meus parentes em São Roque e Araraquara. Portanto um início muito confuso.

Vim a sentir a repressão antes da Ditadura. Em São Paulo existia a Guarda Civil, que tinha o guarda do grupo. Sempre o mesmo e nos protegia. Era muito bem quisto. Pertencia a Policia Civil, como os delegados. Um dia minha mãe visitou uma amiga, casada com um delegado. A impressão que fiquei é que era muito rico.

Tínhamos ainda a Força Publica, com características Militares e uma força, a qual eu não identificava a que grupo pertencia. Hoje sei tratar-se de Policia Civil. Era a temida. A Vadiagem.

Como funcionava tal força? Era na verdade uma vigilância ao cidadão. Se a pessoa fosse apanhada sem documentos [o que era obrigatório] seria detido e levado a averiguação. Mas não era só. Caso o cidadão não provasse que estava estudando ou empregado, no momento da averiguação, também seria detido até segunda ordem.

Esta força já na época causava problemas.

No inicio de 1960 estudava a noite na Av. Paulista. Trabalhava de dia como a maioria dos jovens da época. Começava-se a trabalhar com 14 anos. Na saída das aulas, ao redor de onze horas, era hábito parar no Nações Unidas, um prédio esquina da Brigadeiro Luiz Antonio com a Av. Paulista, onde batíamos alguns minutos de papo antes de ir para casa. Estávamos papeando na Panificadora Arcadas, na Brigadeiro e havia um motorista de taxi tomando um lanche. Chegou à vadiagem. Os documentos do taxista estavam no taxi, aberto, em frente à padaria. Queriam recolhê-lo por não estar portando documentos. Demorou mais de meia hora para o dono do estabelecimento, nós que estávamos em pelo menos dez jovens, alguns outros clientes demovermos a “autoridade” que a atitude era excessiva.

A Força Publica de São Paulo, na época do golpe de estado (Jango era eleito, havia eleição para presidente e vice em separado), era equipada aparatos de exercito; incluindo carros de combate, que desfilaram durante o golpe. O governador Adhemar de Barros, do PSP, herdeiro do PRP que fez a Revolução de 32, por São Paulo, a tinha equipado.

Adhemar apoiou o golpe e, só foi destituído quando os militares tomaram o comando e dividiram a corporação.

A Guarda Civil, querida pela população mudou de função e, parou de prestar serviços. A Força Pública com o tempo passou a PM e a Vadiagem, investigadores e delegados passaram a fornecer serviços ao novo governo, durante a ditadura. A delegacia da Rua Tutóia era da Policia Civil [e ainda o é] Não houve na época mudança em sua atuação.

Já nos anos setenta estava eu, juntamente com amigos nas Boates da Vila Buarque, quando apareceram do mesmo modo da vadiagem, já extinta.

Apresentei meu documento de estudante [já fazia faculdade], dois desses amigos eram Ingleses e estavam treinando pessoal no Brasil, para inseminações artificiais em gado, também documentados. E alguns outros que estavam conosco ou simplesmente no local. Todos detidos e levados a delegacia para triagem.

Deter estrangeiro é crime. Deter sem motivos também. Um amigo nosso, cartorário na época foi até a delegacia, avisou da irregularidade o delegado. Fomos levados a sala do mesmo e, como já tivesse iniciado a pesquisa de nossos antecedentes, aguardamos até as cinco da manhã para liberação. Não houve, portanto mudança de sistema, apenas ampliação de atuação.

Os fatos que hoje acontecem: desapropriações, desafio de policias ao estado, guerra entre policias como recentemente na Capital paulista, refletem apenas jogo de poder, lembrando um fato ocorrido na idade média. 

A Igreja, numa disputa interna ficou com dois papas. Relata-se que uma cidade, por três vezes, em uma única semana, teve que mudar na porta das casas a bandeira papal, conforme o papa x ou y vencesse a batalha. Bandeiras eram difíceis naquela época.

Saiu estes dias no El Pais, Espanha. Que o povo Líbio prefere um governo sem políticos e sem exercito, sob a alegação que político só serve para fomentar discórdia e exercito para dominar a população em beneficio do governo. Tenho que concordar com eles. Vindo de um regime Tribal, portanto não Feudal, o acerto só se faz com discussão dos lideres que moram em suas tribos. Tem que se chegar a um consenso satisfatório, pois ambos os lados são unidos e armados. Valendo-se do bom senso, entre ganhos e perdas sempre se terá uma solução condizente.

O nosso regime é herdeiro do regime feudal, apesar de  particularmente não ter lido quase nada sobre a segurança dos senhores dos feudos, creio que para jogarem ao relento a população da Europa, como aconteceu na Revolução Industrial. Onde os trabalhadores foram expulsos de suas terras, que cultivavam há centenas de anos e abandonados nas cidades, sem nenhuma estrutura; só porque se resolveu criar ovelhas e eles atrapalhavam. Estes senhores com certeza tinham uma força de segurança treinada e bem armada para fazer tal reintegração de posse.

O problema me parece muito antigo. Não vejo solução em curto prazo.



07/02/2012

tony-poeta pensamentos






 

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