sexta-feira, 1 de junho de 2012

A CASA DE TIA TILA


A CASA DE TIA TILA






Tia Tila comprara uma casa. Ao invés de alegria demonstrava preocupação. Era casada com Tio Eugenio, um espanhol. Casara tarde em época que não mais podia ter filhos. Era a irmã mais velha de minha mãe. Mais de vinte anos de diferença, minha mãe nasceu com minha avó em idade de menopausa.  

Tinha vindo de Araraquara, quando da aposentadoria de meu avô José da Costa Navega, um português, ferroviário da Araraquarense. Veio ela, meu tio Nelson e minha tia Alice, juntamente com o Vô José. Como os três irmãos casaram e tiveram filhos, ela e tio Eugenio ficaram com o pai.

A aposentadoria ajudava muito, e meu tio trabalhava há anos na São Paulo Alpargatas. Eram muito econômicos. Foi o único lugar que vi guardar dinheiro no pote de açúcar como nos filmes. Foi num dia que a visitávamos e, pegando o dinheiro para compara pão, foi até o pote de açúcar e pegou um saquinho de dinheiro. Era o dinheiro da despesa diária, o salário praticamente ia para a poupança.

A preocupação da tia Tila era com o peso dos parentes. Como gostasse de comer bastante e era gorda, media a beleza dos irmãos e sobrinhos pela quantidade de gordura. Quanto mais cheinho, mais bonito ela achava; magro era feio e dizia direto:- Tão magrinho:- você está feio!

Quanto a casa, morava de aluguel no Bairro do Tatuapé, na Rua Francisco Marengo. Era começa dos anos 50, a rua estava abrindo e era habitada pela classe operária. A casa ficava numa vilinha, costume da época, onde existiam casas a direita e a esquerda formando uma ruela e a dela era a última, frontal a rua. Casas de dois quartos, sala, uma pequena cozinha e um mínimo banheiro, já interno. Único problema é que ao invés de uma grande área de circulação, a viela era estreita e uma porta quase se encostava à do outro lado, mas ela não estava nem um pouco preocupada com isso.

Sabendo da poupança e preocupado com as chuvas tio Nelson insistiu para parar de pagar aluguel e comprar num lugar mais urbanizado. A casa não inundava, mas a região era muito rica em córregos que desembocavam no Rio Aricanduva. Na época de chuvas estes córregos formavam grandes enxurradas e era comum pessoa morrerem carregadas por ela.

Muitas das ligações de um lugar a outro era feita por pequenas pontes de madeira rente ao solo.

Localizada a casa apropriada, a muito contra gosto meus dois tios a compraram. Após vinte dias, sem obtermos informações fomos até tia Alice que morava próximo, morava na Vila Carrão, saber da mudança e da necessidade do vô e do casal.

Tia Alice falou:

- Estão na mesma casa.

- Como? Mas não compraram uma nova? Indagou minha mãe.

- Compraram e depois dês compraram.

- Devolveram?

- Sim! Quando o Eugenio foi à Caixa e, não tinha quase mais nada, ficou nervoso e a Tila também. Não dormiram uma semana pensando que não tinham dinheiro na poupança. Desfizeram o negócio.

- Mas tinham dado o dinheiro?

- Deu sim, o vendedor devolveu menos, segurou uma parte de multa, eles não falam quanto, mas aceitaram e colocaram o dinheiro de novo na poupança.

- E como eles estão? Arrematou preocupada minha mãe.

- Falaram que estão muito bem e, agora conseguem dormir a noite.

Encerrando, moraram na casa até a morte de meu avô, dez anos depois e, quando da aposentadoria do meu tio mudaram-se para Araraquara.



01/06/12

www.tony-poeta.blogspot.com






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